Não só o caso muda de figura se a opinião chega pela boca de uma mulher - essa atrevida e acintosa criatura -, como os comentários livres e muito democráticos deste tempo em que vivemos pendurados nas redes sociais se tornam hostis, ofensivos e de índole sexual. Essa grandessíssima vaca ou pior, essa precisava era de ser fornicada por alguém que o saiba fazer com propriedade (subentendemos que o caramelo que faz o comentário esteja à altura).
Como esta é uma crónica assinada por uma mulher há aqui um certo traquejo no processar de comentários e até de opções de indumentária. Uma mulher habitua-se, pois então. Que os comentários possam ser feitos livremente, porque, lá está, vivemos em democracia, está tudo muito bem? Será de matutar na questão.
As opiniões em espaço de opinião ou comentário, de pessoas com os respectivos argumentos, deveriam servir para promover o pensamento mesmo que, no final, tenhamos de concordar que discordamos. Expressar uma opinião, dar nome e rosto, assumindo o que se diz de uma maneira em tudo nada cobarde, não deveria ter como retorno insultos e reparos vários à vida sexual. Isto nem deveria ser alvo de discussão.
No caso dos homens, alvo de ofensas quando calha a não alinharem com as ideias de quem comenta, a história é outra, não há argumentos estéticos envolvidos, considerações sobre o cabelo ou a idade ou sobre a sexualidade. Um dos piores insultos talvez seja “esse filho da puta”, insulto esse que ofende a mãe de quem emite opinião em território democrático, mesmo que a mãe não concorde com o que diz ou escreve o dito cujo filho pois tem de levar por tabela, porque, afinal, uma mulher serve mesmo para qualquer coisinha, até para amparar insultos que não lhe dizem respeito.
Por isso, reforço, a democracia é muito boa e rica, propensa a muito pensamento, o que me parece é que em vez desse acto de excelência que é pensar, muitas pessoas preferem o arremesso de uma qualquer bojarda. Enfim, haja paciência.