Netanyahu já soma 13 anos como primeiro-ministro de Israel. Tudo apontava para a conquista de quinto mandato nas eleições em 9 de abril. Não se via alternativa política forte aquele chefe. Netanyahu, tinha-se imposto com a imagem de o garante robusto da segurança de Israel.
Dois factos, um é judicial e o outro político, subitamente mudaram o cenário.
O facto judicial: no final de fevereiro, o procurador-geral de Israel, formalizou uma tripla acusação a Netanyahu, por corrupção, fraude e abuso de confiança. O procurador seguiu a proposta de acusação feita pela polícia de investigação. Netanyahu é acusado de viabilizar lucrativos favores políticos a troco de cobertura mediática favorável. Esse bazar de corrupção também passou por prendas em viagens, jóias e champanhes. O processo judicial a Netanyahu anuncia-se longo e desgastante.
A justiça israelita tem mostrado repetidamente que não cede perante os políticos. É um facto que olha para o lado quando está em causa a violação de decisões da ONU ou abusos sobre o povo palestiniano. Mas, em casos de negócios com suspeitas de corrupção, por mais trivial que a coisa pareça, a magistratura de Israel é implacável. Todos os quatro chefes de governo dos últimos 20 anos (Sharon, Barak, Olmert e agora Netanyahu) foram submetidos a processos judiciais. Só nesta última década, um presidente (Katsav) e um primeiro-ministro (Olmert) foram condenados e presos. As suspeitas em volta de Netanyahu e ele rejeitou-as sempre. Tudo se aviva agora com a acusação que o põe no caldeirão da suspeita num lume brando que vai prolongar-se por vários meses. O desgaste na imagem política é inevitável. Entra aqui uma nova realidade.
O facto político: é a súbita entrada em cena de um homem, Benny Gantz, 59 anos, 38 como soldado e comandante militar, ex-chefe de estado maior das Forças Armadas de Israel (IDF), austero, pacato, íntegro, respeitado. Fama de duro mas justo. Filho de uma mãe de origem húngara que conseguiu escapar ao campo de extermínio de judeus em Bergen-Belsen e que, na guerra de Gaza, em 2014, enviava mensagens ao filho a pedir-lhe que fizesse tudo para proteger a população civil palestiniana e para que não faltasse o abastecimento de víveres a Gaza.
Benny Gantz é a expressão de um militarismo israelita assente na noção de eficácia, honra e na ideia democrática de exército ao serviço do povo. Gantz tinha 28 anos e já comandava um esquadrão de helicópteros e tanques. Oferece garantias nos cruciais assuntos de segurança.
Com estatura imponente, pose aristocrática, voz forte, Benny Gantz não tem história política mas não lhe faltam credenciais de liderança como chefe militar. Está na tradição de Israel que destacados comandantes militares assumam liderança política. Sharon, Rabin e Barak foram chefes de governo. Gantz avançou nos últimos meses para a política ao fundar o partido Hosen L’ Ysrael (Resiliência por Israel) e irrompeu fulgurante no palco político. Formou uma coligação entre o partido que criou e o Yesh Atid (Há Futuro), de um popular político liberal centrista, Yair Lapid, que nas eleições de 2013 obteve 19 dos 120 deputados no fragmentado parlamento de Israel. Desceu para 13 em 2015 mas continua a ser um dos maiores partidos.
A coligação formada por Gantz e Lapid está batizada com as cores de Israel: Azul e Branca. Lidera as sondagens. Há uma semana, com 36 deputados, neste sábado, desceu para 31, mas continua à frente dos 28 do Likud de Netanyahu.
Faltam quatro semanas para as eleições de 9 de abril e a incerteza é enorme. Netanyahu deixou de ser um chefe sem alternativa. Benny Gantz impôs-se como possibilidade para chefiar o governo. Dá confiança nas questões de segurança. É elogiado o desempenho que teve como adido militar na embaixada de Israel em Washington, onde trabalhou com o Pentágono as questões da Palestina e do Irão.
Num dos últimos dias, quando lhe perguntaram qual é a diferença que oferece, Benny Gantz respondeu: “Não sou Netanyahu”. Repete “Não sou de direita nem de esquerda, sou de Israel”.
O que é que mudaria com Gantz na chefia do governo? Provavelmente, sobretudo a atmosfera, com abertura a diálogos. O Irão não deixaria de ser o inimigo principal. É incerto que fosse possível algum progresso a curto ou médio prazo para sair do impasse na questão palestiniana. Mas, apesar de grande firmeza do lado israelita, a diplomacia poderia voltar a funcionar, como no tempo do Nobel da Paz Ytzaak Rabin – mentor de Gantz.
Por agora, a quatro semanas das eleições em Israel, o quadro político está muito incerto. A novidade é a figura de um patriota intransigente, Benny Gantz que se impõe como alternativa e está a superar as intenções de voto em Netanyahu. Mas o somatório de forças à direita e extrema-direita pode vir a barrar a alternativa ao centro.
A novidade é Israel estar a ponderar o pós-Netanyahu. O que até está a permitir revelar nas pessoas alguma fadiga de Netanyahu, que já era enorme no centro-esquerda mas que agora também aparece na direita patriota mas não extremista.
A ter em conta:
157 pessoas morreram na queda do Boeing 737 Max 8 da Ethiopian Airlines. Cada vida perdida é sempre uma tragédia. Neste caso, se lermos o que se sabe da lista de passageiros constatamos que muitas daquelas vidas estavam dedicadas à solidariedade e ao voluntariado. Era gente que vivia para ajudar os outros.
Por mais que a expressão seja inadequada, volta a falar-se de Primavera Árabe na Argélia. O povo rejeita que uma múmia continue a representar uma farsa de poder.
Passam hoje 15 anos sobre aquela terrível manhã em que o terrorismo jiadista levou 193 vidas em quatro atentados em Madrid. Muitas feridas desse 11-M estão ainda abertas.
Victor Vasarely: o Pompidou de Paris mostra uma notável retrospetiva do mestre húngaro da arte ótica. A moda e o grafismo tiveram a influência desta op-art.
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