Rishi Sunak, 42 anos, recebe a herança ruinosa de Liz Truss com o crédito de ter avisado: tudo o que a primeira-ministra quer fazer na gestão financeira do país é um disparate. Ainda mais: ele mostrou liderança eficaz quando em fevereiro de 2020 foi chamado pelo então primeiro-ministro Boris Johnson para tomar conta do Exchequer, o ministério das Finanças do Reino Unido. Era o tempo da pandemia e é muito elogiado o modo whatever it takes como ele promoveu apoios a pessoas e empresas.
O slogan Ready for Rishi (Preparados para Rishi) que dominou a campanha que atravessou todo o verão para a escolha da sucessão de Boris Johnson (a escolha veio a ser Liz Truss) torna-se agora realidade.
Tal como os dois antecessores, Theresa May e Liz Truss, a Rishi Sunak falta a legitimidade de ter sido votado pelos cidadãos britânicos. É o recurso que o partido Conservador britânico encontrou para, com o suporte da maioria parlamentar que Boris Johnson conseguiu, tentar mostrar liderança antes de eleições que, após a acumulação de fracassos e incompetências, seriam devastadoras e um suicídio para esse partido.
Rishi Sunak tem um percurso fulgurante, ainda que questionado por proteções, de ética duvidosa, à grande riqueza da mulher que faz parte de uma das mais ricas famílias da Índia – com riqueza mais farta do que a do novo rei Carlos III. Rishi Sunak foi ministro das Finanças (2020/2022), com reconhecido bom desempenho na função, mas exposto a acusações de falta de ética e hipocrisia ao saber-se que usou o “green card” americano, por residência nos EUA, para que a fortuna da mulher (do ministro britânico das Finanças) escapasse à fiscalidade do Reino Unido.
A fortuna também foi acumulada por ele, em uma escassa década, como analista na Goldman Sachs e, depois, como gestor de fundos.
O casal Sunak tem quatro residências: a principal é uma mansão em Kensington, o bairro mais british de Londres, tem uma espécie de Downton Abbey no Yorkshire (daí chamarem-lhe o marajá de Yorkshire), uma vivenda de praia em Santa Monica (Califórnia) e ainda mais um apartamento na City de Londres. É luxo reservado a multimilionários como ele é, pelo êxito profissional que conseguiu e pelo casamento
Rishi Sunak é neto de indianos do Punjab que migraram para a África Oriental antes de se fixarem em Inglaterra. Rishi nasceu em Southampton, filho do médico Yashvir e da farmacêutica Usha. A biografia cuidada pela BBC mostra Rishi como um estudante muito aplicado e formado nas melhores escolas da elite britânica: licenciou-se em filosofia política e economia em Oxford, depois de ter obtido nota máxima no muito credenciado Winchester College; com o apoio de uma bolsa Fulbright obteve o master em business administration, em Stanford, nos EUA.
Passa por Stanford um capítulo determinante na história de Rishi. É naquela célebre universidade americana que conhece a futura e atual mulher, Akshata Murty, filha do multimilionário indiano Narayana Murty, fundador do colosso informático Infosys. Casaram-se em 2009 e têm dois filhos.
Rishi Sunak conhece por dentro a galáxia financeira de Londres. Antes de entrar na política esteve quatro anos como gestor na Goldman Sachs. Foi depois o gestor dos fundos "The Children's Investment Fund Management” e “Theleme Partners”. Antes de ser chamado por Boris Johnson para ministro das Finanças dirigiu a sociedade de investimento “Catamaran Ventures”, propriedade do sogro, Murty.
Está evidenciado como o casamento com Ashkata mudou a vida e as perspetivas de Rishi. Mas sua competência teve a confiança ética abalada quando se soube que a mulher do ministro das Finanças iludia o sistema fiscal britânico alegando residência oficial na Califórnia.
É assim que Rishi Sunak chega à chefia do governo britânico, com a etiqueta de muito competente no modelo thatcheriano, quase sempre sorridente, bom orador, mas sem poder invocar o máximo da credibilidade ética.
O programa de ajudas às pessoas e empresas no estado de emergência valeu-lhe ser classificado de socialista. Mas ele é um liberal absoluto. Sendo o descendente de migrantes indianos que se torna primeiro-ministro britânico é um trunfo para o voto não branco nos conservadores nas próximas eleições.
Para já, cumpre-lhe limitar os estragos causados por 45 dias de deriva com Liz Truss posta em chefe do governo.
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