A emigração, hoje, é diferente porque o mundo é, também, menos redundante. Antigamente os emigrantes faziam fila em Vilar Formoso, agora vão chegando e partindo em low costs que cruzam os céus da Europa. Talvez por isso vejamos menos matrículas com sotaque francês a circular por aí...

Já aqui falei (no Urbanista) mais do que uma vez sobre aqueles que partem mas não me lembro de abordar os seus curtos regressos, que não se limitam ao Verão. A oferta das companhias aéreas permite uma nova versão da emigração, picotando o calendário com pequenos regressos e outras tantas partidas. Agosto é, contudo, o mês que associamos ao emigrante simplório, inequivocamente mal tratado e desconsiderado pelas elites urbanas, supostamente intelectuais, que no Verão migram da cidade para praias semi-exclusivas, nas quais se reúnem com os amigos e a família. Nessas praias não há emigrantes, apenas o primo que vive no Dubai ou o tio que tem negócios em qualquer outra parte do mundo. A emigração chique...

A sociedade, qualquer uma, compõe-se de pessoas diferentes com estatutos e posições sociais igualmente diferenciadas. Não fui emigrante e só conheço pessoalmente os novos emigrantes, aqueles de quem se diz que foram viver para fora ou que estão a viver num outro país, procurando diferenciar uma emigração especializada da primeira vaga, composta principalmente por indivíduos sem formação universitária. Os senhores doutores de então fugiam ou estavam exilados.

O problema não são as categorias, mas os sentimentos. Do que sei, une todas estas pessoas num sentimento de distância e afastamento do que lhes é importante: a família, os amigos e o prazer de pisarem solo nacional. Agarram-se à sua (nossa) identidade com unhas e dentes enquanto muitos de nós, os que ficaram, desprezamos tudo o que respeita a este país no qual, seguramente, nem tudo é mau. Alguns saíram revoltados e desiludidos mas, mesmo assim, voltaram, ainda que temporariamente, para regressarem, já com saudades, a outras condições de vida ou emprego, mais atraentes e confortáveis, apesar do frio ou falta de sol. Outros deixam-se apaixonar por um admirável mundo novo e olham para cá com saudades da família e amigos, recordando alguns detalhes que fazem de Portugal, esse país ao qual apetece sempre voltar mas para o qual não planeiam regressar, um país que não os soube reconhecer e acolher não os merece, a verdade é essa.

Agosto continuará a ser um mês querido por todos os que partiram, independentemente da motivação ou condições. Na verdade, entre a depressão partilhada, a falta de opções ou oportunidades e a curiosidade pelo desconhecido, as razões da emigração actual são diferentes. O que faz com que também os regressos sejam outros, porque algumas relações que se quebraram jamais voltarão a ser as mesmas. Perdem eles. Perdemos nós. Perdemos todos.

Até o mês de Agosto.