O desafio de MBS tem duas frentes, uma interna e outra externa.

No interior da Arábia Saudita, um país que tem o tamanho da França e da Alemanha juntas, mas com apenas 30 milhões de habitantes, MBS aparece como o modernizador de uma sociedade patriarcal onde tem imperado o islão ultraortodoxo e que tem a economia até aqui totalmente dependente do petróleo. O príncipe MBS trata de captar a simpatia dos jovens, a quem promete um próspero futuro digital, e a das mulheres, a quem abre direitos que são comuns pelo mundo, como o de conduzir automóveis ou viajar.

Na frente externa, porém, o novo homem forte da Arábia Saudita revela-se uma perigosa ameaça, marcada pela atitude agressiva e confronto com o Irão. MBS está a manobrar sobre os países vizinhos da Arábia Saudita que são alinhados com o poder de Teerão: começou por tentar o bloqueio ao Qatar, alimenta a guerra no Iémen e, agora, está a meter o frágil Líbano no tabuleiro deste jogo de poder.

Há mistério sobre o que está a acontecer com o Líbano. O que se sabe alimenta muita especulação: há dez dias, em 4 de novembro, o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, sunita (a fé religiosa é uma componente crucial neste puzzle), abruptamente, renunciou ao cargo. Alegou que se afastava por temer ser assassinado, tal como em 2005, aconteceu ao pai, Rafiq Hariri, que também tinha sido primeiro-ministro. A estranheza cresceu pelo facto de o anúncio de renúncia ter sido feito em Riade, a capital saudita.

O presidente libanês, Michel Aoun, cristão, não aceitou a demissão, anunciada de um país estrangeiro. Todas as muitas fações políticas libanesas alinharam numa rara união para exigir o retorno de Hariri a Beirute. Todas, também a acompanhar o que a Hezbollah, xiita, pro-iraniana, verbalizou com contundência: Hariri anunciou a renúncia porque isso lhe foi exigido pela Arábia Saudita, que o está a reter em Riade.

Explicação para este mais do que provável cerco saudita a Hariri: ele encabeça um governo do Líbano, assente num complexo compromisso entre forças rivais, entre elas, poderosa a Hezbollah, vista como braço do Irão no Líbano. Hariri teria sido pressionado pelo príncipe saudita para afastar a Hezbollah e, como não o fez, é ele que está a ser afastado. Na prática, a Arábia Saudita estaria a conduzir um golpe de estado no Líbano.

De Paris a Washington, passando pela ONU, este cenário está a ser analisado com grande preocupação. No domingo, Hariri telefonou a uma jornalista vedeta da televisão libanesa a convidá-la para viajar a Riade para o entrevistar. Foi nesse mesmo dia. Na entrevista Hariri repetiu que estava em liberdade mas algumas respostas e a postura vaga alimentam ainda mais a intriga. É generalizada a convicção de que MBS, o príncipe saudita, está a manobrar para tomar também o comando do Líbano e afastar a influência iraniana.

Na cabeça de todos está o pesadelo da brutal guerra civil que massacrou o Líbano entre 1975 e 1990. Foi resolvida com um compromisso plural, mas frágil.

Teme-se que o jovem príncipe Mohammed bin Salman, na sua furiosa tomada de poder, esteja a incendiar toda a região. A ascensão deste príncipe em Riade é fulgurante: ainda não tinha 30 anos e já era o ministro da defesa, ministro de estado e presidente do influente conselho de assuntos económicos. Tornou-se óbvio que o pai, o rei Salman, quer entregar-lhe todo o poder no comando de uma das mais absolutas monarquias. E o príncipe serviu-se de uma investigação sobre corrupção para, de uma assentada, afastar os rivais, eliminando a oposição doméstica: há 10 dias, mandou prender 11 príncipes, vários ministros e mais de 40 altos funcionários.

Tudo configura uma inquietante tomada do poder por MBS, que aos 32 anos tem a ambição de submeter todo o deserto do Médio Oriente ao poder saudita.

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