Imran Khan, acaba de ser eleito, com vaga de fundo do eleitorado, sobretudo o urbano e mais educado, para liderar um país com 207 milhões de pessoas e que o desenho de fronteiras na descolonização britânica colocou colado à Índia, para além de também ser vizinho imediato da China, da Rússia e do Irão. Para tornar tudo ainda mais delicado, junta-se a essa colocação estratégica o facto de o Paquistão ser considerado um refúgio do terrorismo, apesar de ter sido dirigido por militares em mais de metade dos seus 71 anos de história.
Nos anos em que o poder esteve em mãos civis, o governo foi exercido por famílias políticas (os Bhuttos e os Sharif) muito associadas ao nepotismo e à corrupção, práticas dominantes na selva política do Paquistão.
Um dos rivais que Imran venceu na eleição presidencial da semana passada foi Bilawal Bhutto, filho da ex-primeira-ministra Benazir, assassinada em 2007 num atentado em Rawalpindi, e neto de Zulfikar ali Bhutto, ex-primeiro-ministro e ex-presidente, condenado à morte e enforcado em 1979.
O triunfo eleitoral de Imram Khan inscreve-se na vaga populista que percorre o planeta. A campanha eleitoral de Imran assentou no discurso de denúncia das elites, a quem associou a corrupção. O discurso dele ajusta-se ao que o povo quer ouvir.
Não lhe é conhecida experiência de liderança política. Imran foi formado em grandes escolas inglesas, estudou filosofia e ciência política, mas a vida dele esteve sempre entre o “jet-set”, as polémicas (uma ex-esposa acusa-o de depravado) e o desporto. É um campeão do críquete, desporto nacional, o mais popular no Paquistão, herança do colonialismo britânico. O críquete fez dele um herói nacional paquistanês.
Agora, no centro da arena política, sobretudo as classes médias urbanas e, especialmente, os jovens, confiam que ele consiga o milagre de pôr fim à grande corrupção e às grandes desigualdades na vida paquistanesa. A tarefa é gigantesca num país onde 40% dos 207 milhões de habitantes cabe na categoria de analfabetos, sendo que mais de 50 milhões vivem abaixo do clássico referencial de pobreza no Terceiro Mundo, com o rendimento de um dólar por dia. Confiam nele para dar energia à incipiente economia e para instalar bases para justiça com alguma justiça.
Imran vai ter de se entender com os militares, força sempre poderosa no Paquistão. O discurso dele tem muita fricção com os Estados Unidos, sobretudo pela sus posição a favor do diálogo com os talibã. Vários especialistas naquele sub-continente admitem que Imran vai tentar uma relação menos conflituosa com a vizinha e rival Índia. Embora se reconheça que a ideologia nacionalista hindu, muito anti-paquistanesa de Modi, primeiro-ministro indiano, não vá facilitar as coisas.
As questões do terrorismo violento tendem a ficar a cargo dos militares, com a poderosa agência de serviços secretos.
Se Imran Khan conseguir tratar os problemas estruturais do país e dar alguma saúde à saúde pública, energia para e economia, bases para combater o analfabetismo e pacificar o sectarismo, o campeão do críquete terá conseguido tornar-se campeão na política.
Tem contra ele a vida privada complicada, envolvida em rumores e polémica. Tem a dar-lhe crédito o historial de filantropo: dedicou alguma da fortuna que fez como desportista para criar centros de luta contra o cancro. Há esperança de que escape à tradição de corrupção que mina o topo do poder político no Paquistão.
Quando Imran Khan promete construir mais igualdade no país que tem “uma ilha de ricos e um oceano de pobres”, a fasquia fica alta.
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