Mantem-se actual o clássico “quem se lixa é o mexilhão”, que somos todos nós, consumidores - e lembro-me imediatamente de quando o escudo deu lugar ao euro e, do café à sanduíche, o que antes custava 100 escudos foi facilmente “arredondado” para 1 euro… Ou seja, o dobro. Parece que há sempre alguém mais esperto do que nós.

Na verdade, oiço estas pessoas usarem argumentos estapafúrdios para manter os preços 10% mais altos e, por um lado, pasmo: é preciso lata. Mas, por outro, respeito e compreendo: não estão a fazer mais nem menos do que sucessivos governos - que, em teoria, também prometeram o que jamais cumpriram, tornaram definitivas as medidas provisórias, e arranjaram sempre boas desculpas para, “afinal”, não ser possível o que antes era óbvio. Se é verdade que o exemplo vem de cima, os profissionais da restauração estão a seguir o exemplo dos reembolsos que não se podem reembolsar, das taxas extraordinárias que o tempo tornou ordinárias, e dos abatimentos fiscais que anualmente minguam como gelo a derreter ao sol.

Se quisermos ser rigorosos, mesmo no “dossier” IVA já há ditos por não ditos: o que era uma promessa eleitoral de baixar o imposto na restauração, sem especificações de maior, foi limitado a parte dos produtos que a hotelaria comercializa - e não é já, é lá mais para a frente. Foi o Governo o primeiro a mudar de ideias. Mas os profissionais do sector, que também são profissionais do queixume permanente - “isto está cada vez pior” é o chavão de todos os dias… -, parecem excelentes alunos.

O problema maior vem depois e está estudado pelos especialistas: quanto mais se lhe aperta a garganta, mais rapidamente se empurra o contribuinte para a economia paralela, para a compra e venda sem papéis e sem registos, para o negócio quase comunitário da troca de bens e serviços. Há um limite acima do qual o “cobrador”, seja o Estado ou um restaurante, começa a asfixiar a galinha dos ovos de ouro. E ela morre. Ou deixa de pôr ovos. Na pior das hipóteses, reclama um subsidio ou pede um resgate financeiro. Para o que estamos guardados…

COISAS QUE ME DEIXARAM A PENSAR ESTA SEMANA

Yann Arthus-Bertrand é um nome mais conhecido do mundo da fotografia do que do cinema ou do documentarismo. Tornou-se popular pela qualidade e originalidade das suas fotografias aéreas, muitas vezes misturando arte e design com imagem. Tem mais de 50 livros publicados e muitas matérias editadas em revistas, nomeadamente na National Geographic. Nos últimos anos, no entanto, dedicou-se ao documentarismo, e realizou uma extraordinária série: “Human”. Reúne entrevistas editadas com mais de duas mil pessoas de 60 países. Depoimentos pessoais de memória, de vida, de ensinamento, que vale mesmo a pena ver. Demora tempo - mas não é tempo perdido…

No momento em que se assinalam 100 anos sobre o nascimento de Vergilio Ferreira, um dos mais relevantes escritores do século XX português, encontro na rede (apenas em som) uma entrevista quase desconhecida do escritor. Data de 1990. Está no site de Maria Augusta Silva e Pedro Foyos, Casa das Letras, e revela um pouco do homem para lá do escritor. É ouvir

Há revistas para todos os gostos, para todos os nichos. Como apreciador de café, apaixonei-me por esta: “Standart”. Já se vende em Portugal, numa edição em inglês, ainda que seja originalmente checa, produzida em Praga. Trata o café como se de planta rara se tratasse, sai apenas quatro vezes por ano, e tanto explora a produção, como aqueles que torram, comercializam, e vendem café por esse mundo fora. Além de cultivar a paz, o relax, e o prazer que um café pode proporcionar a meio do dia. Nem que seja o site, vale a pena conhecer.