Na discoteca Pulse de Orlando, nos EUA, como há sete meses no Bataclan de Paris, as vítimas são pessoas que amam a vida. Foram condenadas à morte, pelos demónios que tomaram conta da cabeça de gente perturbada e infetada por uma onda de ódio que anda no ar. Morreram pelo crime de viverem a vida com paixão. Em Paris, um bando de terroristas movidos pelo fanatismo político-religioso, quis castigar quem se diverte se diverte a sorrir, a cantar e a dançar a ouvir música. Em Orlando, um desequilibrado motivado por um confuso misto de ideologia religiosa e preconceito, atacou os que se divertem assumindo com orgulho que são homossexuais. O pai do matador conta que ele tinha ficado enfurecido ao ver dois homens a beijarem-se com carinho.

A diversidade é uma característica da nossa sociedade ocidental que cresceu capaz de se tornar liberal sobre as escolhas de cada pessoa. A tolerância é um modo fundamental de estar na sociedade que foi construída para nós. Uma mulher com véu, duas mulheres ou dois homens de mãos dadas e que se beijam na boca é uma liberdade que faz parte do modo de vida nesta nossa sociedade ocidental de liberdade. Alguns ainda podem sentir incómodo ao verem o que poderia ser apenas privado, mas o costume tende a tornar-se banal. É um assunto de cada pessoa, livremente. Mas há sociedades, com interpretações retorcidas de religião e ideologia, que ainda vivem num tempo passado em que essa liberdade é tomada como heresia.

A chacina deste último fim de semana nos EUA junta três ingredientes que são feridas abertas na sociedade americana: terrorismo, homofobia e posse indiscriminada de armas de fogo. Todos os políticos, quase toda a gente, expressa nestes dias horror pela matança. Não falta hipocrisia nessa condenação.

Muitos dos que lastimam são os mesmos que bloqueiam qualquer tentativa de controlo da posse e uso de armas de fogo – num país onde qualquer um consegue comprar e ter licença de porte de pistola ou espingarda, o que leva a que, em média, cada americano tenha consigo uma arma letal. São mais de 300 milhões. Supostamente, os americanos possuem armas para se protegerem, mas de facto são dos mais desprotegidos no mundo: no que vai de ano, até ontem, estavam registados nos EUA 5.931 mortos em casos com armas de fogo.

Ao mesmo tempo, muitos dos que agora condenam mais esta matança são os mesmos que apoiam uma plataforma política que propaga o clima de medo e ódio anti-islâmico e anti-gay que progride nos EUA e que são combustível para perturbados lobos solitários como o matador na discoteca Pulse de Orlando.

A tragédia de Orlando é um crime praticado por um perturbado que se deixou tomar pelo ódio homofóbico e pelo clima de hostilidade que está instalado na América em campanha. A consumação do crime foi facilitada pela legislação americana que permite que uma criatura vulnerável tenha acesso a máquinas de guerra como esta idêntica à que serviu para matar 14 pessoas em San Bernardino (dezembro de 2015), também para matar 26 pessoas na escola de Sandy Hook e 12 num cinema de Aurora (estes dois massacres em 2012). Agora, mais 49 na matança homofóbica em Orlando.

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