Israel tem sido, nestes últimos meses, uma espécie de laboratório do mundo na avaliação do bom curso do processo de vacinação para travar a Covid-19. Israel anunciou uma percentagem de imunizados que é a mais alta no mundo. Conseguiu assim entrar na rotina de zero mortes e zero contágios em cada dia. Até ter sido detetado que a variante Delta tinha penetrado em Israel. Subitamente, na semana passada, regressou o disparo dos contágios: 229 só na última sexta-feira.

Com 9,3 milhões de residentes e cultura de grande disciplina, Israel começou por, há um ano, se ter oferecido como cobaia para testes de vacinas. Assim ganhou privilégios que permitiram o que foi considerado como imunidade de grupo no país.

Pessoas que julgavam já ter derrotado o vírus através da dupla dose de vacina, de um momento para o outro passaram a interrogar-se: “podemos mesmo estar sem receios, porque estamos vacinados?” A dúvida instalou-se.

Será que as mutações do vírus estão a superar o escudo da vacina? Os cientistas garantem-nos que as vacinas têm alta eficácia sobre as variantes Alpha (que começou por ser dominante no Reino Unido), e a Gamma (conhecida como variante brasileira. Também confiam na eficácia da vacina para travar a variante Delta (a variante indiana, que já tem outras mutações), que está a impor-se como dominante, designadamente no Reino Unido.

Mas os cientistas admitem que ainda faltam dados robustos para saberem com precisão o que é que esta mutação do vírus é capaz de fazer. Será que o vírus tem recursos ainda por identificar mas que podem permitir-lhe conseguir contornar a proteção imunitária?

A Austrália que, tal como Israel, julgava ter a pandemia dominada, acaba de retomar restrições que incluem o confinamento em alguns territórios, por causa da deteção de casos da variante Delta. Os casos verificados são apenas 22, mas é quanto basta para que as autoridades tenham decidido o fecho de uma cidade como Sydney por duas semanas. A população está zangada, as ruas estão desertas, mas é reconhecido que, perante a ameaça, é preciso parar.

Ainda na Austrália, também estão em vigor restrições em Brisbane, com 2,5 milhões de residentes a terceira maior cidade do país, depois de Sydney e Melbourne. Os media australianos estão a apontar uma hospedeira do ar portuguesa como origem de um dos focos de infeção.

Por toda a parte é agarrada a ideia de que com dupla dose de vacina podemos regressar à tão ansiada normalidade da vida, deixar de vez qualquer clausura, abandonarmos a máscara, viajarmos para onde nos apetece, voltarmos a abraçar e a dançar.

Os dados dos últimos dias alertam-nos para o risco em tudo isto.

Já todos constatámos que a vacina é muito eficaz na prevenção de doença muito grave e do risco de morte. Este é um extraordinário avanço. A vacina previne as evoluções mais malignas e dolorosas mas, está admitido, não elimina a possibilidade de contágio e de doença.

Portugal está no mundo desenvolvido onde a vacinação progride em larga boa escala. Mas há muita gente pelo mundo que não está vacinada. A maior parte da população mundial ainda não está vacinada. Não há ainda capacidade de produção que permita que a vacina chegue a toda a gente. Assim, as pessoas circulam e com elas também o vírus.

Interrogamo-nos sobre o grau de ameaça desta ou daquela variante. Sabemos que ainda não passou o tempo necessário para que os cientistas nos proporcionem resposta a todas as nossas perguntas sobre o vírus.

Mas há uma certeza que temos: o comportamento humano é mais decisivo para que a pandemia fique controlada do que qualquer capacidade de mutação do vírus.

Já sabemos o suficiente para podermos concluir que a atitude de cada pessoa é determinante para conseguirmos dominar a pandemia. A máscara é maçadora, mas largá-la é perigoso. Apetece-nos abraçar pessoas que encontramos, mas este desejo pode tornar-se uma ameaça porque o vírus continua por aí.

Pelo menos a máscara, ainda temos de continuar a cuidar de a usar. É a forma mais simples para travarmos a progressão de um vírus que está outra vez a espalhar-se cada vez mais por aí. Se nos descuidarmos, se nos pusermos a dançar com o vírus, corremos sério risco de ficar com, pelo menos, o verão estragado.