Ora com um sismo a coisa faz-se de outra forma. De repente, é o sismo com maior impacto no país em 50 anos, quase tão comemorativo quanto a democracia (não é verdade, em 1980, os Açores viram a escala de Richter muito mais elevada e sofreram danos reais). 

O sismo convoca pessoas de pijama junto ao Palácio da Ajuda, cidadãos cumpridores que querem estar seguros e fazer a coisa certa, esquecendo-se de que depois do cagaço talvez dormir fosse a solução. O primeiro-ministro em funções é o dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel de seu nome, e diz que o sismo comprova a capacidade de resposta do Governo.

Não caiu uma casa, não se entende o que o senhor quer dizer. Já o verdadeiro primeiro-ministro foi de férias, após quatro meses de exercício do cargo, como acontece a todos os portugueses que mudam de emprego, certo? Importará saber se teve direito a subsídio.

Não, é melhor ficarmos pelo sismo e pelas coisas do sismo, e sobre os relatos de pessoas que parecem ter vivido uma experiência de longos minutos de sufoco e insegurança: a coisa, o abalo, durou segundos, desculpem a desilusão. 

Em Portugal, ontem e hoje, só se falou do sismo e talvez de uma qualquer influencer que apanhou um cagaço extremo e não se coibiu de o relatar. Nós, quando queremos muito tornar a nossa vida interessante, somos os maiores. Talvez por isso Portugal seja uma telenovela, em que todos temos um papel.

Em Sesimbra, o dono de um restaurante pensou que tinha vivido o sismo, estava tudo resolvido, foi à sua vida, meteu-se num barco para fazer um serviço especial e, quando regressou a terra, tinha uma mão-cheia de jornalistas e televisões, prontos para o entrevistar. A quererem ver a casa, cada azulejo caído.

Não lhe ocorreu que estávamos em Agosto e que o seu caso, os pequenos estragos na casa antiga, calhavam como cereja no bolo, para ilustrar o folhetim. Quem visse o aparato iria julgar que o epicentro aconteceu ali. Por isto e mais, a paciência é um equilíbrio difícil de manter neste país à beira-mar plantado.