O senhor disse que se demitia do cargo e, depois da assembleia-geral, mudou de ideias. Espanha precisa dele, as olimpíadas e mais não-sei-quê. O pior é que agora Rubiales, perante a perda de poder e tanta contestação, vem dizer que o beijo teve consentimento. Estará ele a preparar-se para beijar o Jordi Alba, o Dani Olmo e outros tantos futebolistas? Para equilibrar as coisas?

Acontece que os futebolistas homens também já se manifestaram e o que dizem é: foi um abuso. Não foi uma excitação do momento. Borja Iglesias veio dizer mais: enquanto este tipo de acto passar impune, não contem com ele. E ainda: “Como futebolista, como pessoa, não me sinto representado com o que se passou hoje na Cidade do Futebol de Las Rozas. Parece-me lamentável que continuem a pressionar e a colocar o foco numa companheira”. A isto, senhores, chama-se solidariedade. O mesmo fizeram todas as futebolistas da selecção espanhola: com este senhor aqui, não jogamos. Aposto que por estas demonstrações de apoio não espera o presidente da federação.

O Governo também reagiu. O pedido de renúncia apareceu vindo da ministra interna de Trabalho e Economia Social, Yolanda Díaz. Foram feitas três denúncias ao Conselho Superior do Desporto. O mundo exige sanções e Luis Rubiales está a fazer a pirueta, a ver se a coisa passa. Ao fim de tantos dias, diria que não tem sorte alguma.

Luis Rubiales é presidente da Federação Espanhola de Futebol há cinco anos. Nunca beijara ninguém. É certo que, no jogo do passado dia 20, a mesma criatura achou por bem agarrar a genitália, como forma de se manifestar contra a equipa inglesa, adversária. Teremos de concordar que, pese o mau gosto, cada um faz da sua genitália o que quer, mas não terá sido igualmente simbólico? Não me vou meter em leituras sobre todo o gesto de agarrar a genitália, para provocar ou ameaçar um adversário, não valerá a pena, cada um tira as ilações que entender.

Há uma outra perspectiva desta história que me arrepia e me revolta mesmo, fico a destilar fel: os comentários nas redes sociais de malta que acha que não faz mal algum e que, para mais, considera de bom tom chamar a atenção para a sexualidade da atleta, afirmando que a mesma é gay. Não bate a bota com a perdigota, diria eu. Jenni Hermoso, entretanto, deve estar num estado de nervos de uma enorme imensidão, por causa de um gesto que não provocou. Como disse imediatamente após o jogo, “o que havia eu de fazer?”

Ninguém estava à espera de que a repercussão do beijo/do abuso fosse esta. O mundo, senhores, mudou. As mulheres, independentemente da sua sexualidade, credo ou etnia, não estão ao dispor. No desporto, os casos de abuso são inúmeros, as denúncias demoraram, mas têm aparecido. Aqui é o mundo que denuncia. Luis Rubiales pode tentar manter-se no poder, mas já o perdeu. E perdeu também o respeito dos atletas, homens e mulheres, à sua volta. É melhor atirar a toalha ao chão. Uma suspensão seria apenas um penso rápido de má qualidade, digo eu.