É o obvio reconhecimento do papel apaziguador de Pedro Sánchez, que permitiu à Catalunha passar da alta tensão independentista de 2017 para uma relação cordial com o poder central de Madrid, com o independentismo em fase anestesiada.
A média das várias sondagens sobre as eleições do próximo domingo dá os socialistas PSC entre os 28 e os 29% dos votos, e a seguir nas preferências dois partidos independentistas: o Junts (do “exilado” Carles Puigdemont) com 21% e a Esquerra Republicana com 17%. As direitas espanholistas não chegam aos 17% na Catalunha: o PP aparece com 9% e o Vox com 7,5%.
As direitas acusam Sánchez de traição ao reino de Espanha ao fazer pactos com o independentismo, a forma que arranjou para conseguir maioria parlamentar para governar Espanha.
É um facto que o governo das esquerdas encabeçado por Pedro Sánchez depende de nacionalistas e independentistas bascos e catalães para dispor de maioria absoluta para governar a partir de Madrid.
Mas também é um facto que os pactos patrocinados por Sánchez – indultos, amnistia, transferência de poeres – permitiram introduzir normalidade democrática entre a governação da Catalunha e a do Reino de Espanha. Barcelona e Madrid voltaram a dialogar e a serem capazes de entendimentos.
Em 2017, o governo espanhol, então liderado por Rajoy, optou pela judicialização do conflito aberto com as iniciativas independentistas na Catalunha. E a justiça de Madrid teve mão pesada com penas entre os 9 e os 13 anos de cadeia para os nove principais líderes separatistas catalães que promoveram a consulta popular não autorizada pelo governo de Madrid.
A crise catalã de 2017 rompeu dramáticamente a coesão do Reino de Espanha. Muitas famílias ficaram divididas, houve quem deixasse de se falar por causa do muro que se levantou entre Madrid e Baeelona, com a justiça espanhola em grande convergência com o governo de Madrid.
Em junho de 2018, o socialista Pedro Sánchez formou maioria de esquerdas, que inclui nacionalistas e independentistas bascos e catalães, que desde então governa o Reino de Espanha.
Os indultos promovidos permitiram a Junqueras, o mais político dos líderes independentistas, sair da cadeia logo no primeiro dos 13 anos de cadeia a que tinha sido condenado.
Com Sánchez a governar em Madrid a tensão entre a Catalunha e o governo central ficou esbatida. Mas ficou aprofundada em Espanha a brecha entre esquerdas e direitas. Há muito ódio e muito envenenamento na relação política e social em Espanha.
As eleições do próximo domingo na Catalunha acontecem três semanas depois de eleições regionais também no País Basco, onde o voto nacionalista foi maioritário, mas com os socialistas bascos a revalidarem no Euskadi a aliança que têm com os moderados do PNV para o governo de Espanha.
A campanha catalã evidencia que os catalães estão cansados da turbulência das batalhas em volta do tema da independência.
Um estudo de opinião, promovido pelo Centre d’Estudis d’Opinió (CEO) sobre as prioridades dos catalães põe no topo a gestão dos serviços públicos, depois o nível de vida e a estabilidade económica, a seguir a emergência climática (a Catalunha está a sofrer seca e ameaça de aridez), depois, em quarto lugar nas prioridades, o financiamento da autonomia pelo governo central, segue-se o fluxo migratório (grande crescimento dos clandestinos chegados pelo Mediterrâneo) e só em sexto lugar aparece a questão da independência da Catalunha.
Os catalães sofreram muito na sequência do furacão independentista de 2017.
Agora, impõe-se entre a maioria dos catalães a vontade de concórdia e recuperação de qualidade de vida.
É, certamente, o que vai resultar do voto neste domingo. É de esperar um parlamento muito fragmentado, a requerer muita negociação para a formação do governo com sede em Barcelona. É provável a aliança entre socialistas (PSC) e a esquerda republicana (ERC). Ficará assim para a negociação qual dos dois partidos indica o chefe do próximo governo catalão. O socialista Salvador Illa aparece na primeira linha.
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