Agora, não será injusto o humor ter limites e a estupidez não? O humor até é uma arma poderosa para combater a estupidez, mas aparece uma piada mais ácida e é ver o pessoal a atirar-se todo ao ar, tudo muito esbaforido e a passar mal. Mas pessoal de todo o tipo! Pessoal que não faz reciclagem, que gosta de tourada, que é contra a felicidade dos homossexuais, que não deixa os velhinhos passarem à frente na fila do supermercado, que não se importa muito com a corrupção em Portugal, por aí fora. Mas depois há uma piada que lhes toca no âmago e “ai, ai, que estou aqui que não me aguento de tão ofendido que fiquei”. Piadas é que fazem mal ao mundo.

Claro que isto vem a propósito da piada do João Quadros, já mais que sabida. Tenho visto argumentos muito lógicos e divertidos como “adoro humor, mas há limites”, “o humor não pode ter limites, mas isto já é demais” ou, o meu preferido, “ele tem o direito de dizer o que quiser, mas a definição de humor é ter piada e aquilo não é uma piada, por isso, não é humor”. Ah, então muito obrigado por escolherem por mim o que tem ou não tem piada. Dá-me imenso trabalho decidir aquilo que me faz rir. Se puderem escolher também que trapinhos é que me ficam bem ou que bandas é que devo ouvir, facilitavam-me imenso a vida. A cereja no topo do bolo foi quando começaram a dizer que a piada, além de ofensiva por ser sobre cancro (não era), era uma piada machista porque dizia “a mulher de Passos Coelho”. Isto é como dizerem que eu sou racista porque ao andar na calcaçada portuguesa piso mais pedras brancas do que pretas. Mas estão a ver como a estupidez não tem limites? Estas afirmações ofenderam-me muito em quanto pessoa defensora da igualdade de género, e até como animal com cérebro, mas não vou agora começar aos berros e a dizer que quem disse isto devia nunca mais falar na vida.

A verdade é que a estupidez ofende muito mais que o humor e não vejo ninguém propriamente preocupado com isso. Toda a gente diz as alarvidades mais bacocas, mais energúmenas, mais idiotas que alguma vez se podia imaginar, mas desde que não seja em jeito de piada está tudo bem.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola: 

- Aniversário de casamento dos meus avós: Sei que vocês não têm nada a ver com isso, mas estes senhores já levam 57 anos de casamento. Se os virem por aí, dêem-lhes os parabéns, sff.

- Bombeiros: Por todo o país, os bombeiros vão continuar a precisar de muita ajuda. Não deixem a onda de solidariedade passar e continuem a ajudar em força os vários quartéis.