Todas as sondagens anunciam vitória clara da aliança das direitas nestas eleições italianas. Com o voto previsto de 45% do eleitorado, o trio de partidos encabeçados por Meloni, Salvini e Berlusconi pode obter 60 a 70% dos deputados no parlamento italiano.

A força determinante desse triunfo das direitas é Giorgia Meloni. A líder do partido Fratelli d’ Italia (Irmãos de Itália) quis ficar na oposição ao governo de unidade nacional formado há 19 meses por Mario Draghi, banqueiro e gestor muito respeitado na Europa.

Meloni sabia que a situação económica e social de Itália implica muito descontentamento popular. A guerra deu-lhe ajuda ao tornar ainda mais crítica a realidade do país muito dependente do gás russo. Meloni sabia que ao ficar na oposição iria capitalizar apoios ao reunir em volta dela os que estão zangados com os políticos.

Há em Itália cerca de um terço do eleitorado que vota em protesto contra o sistema político, seja de direita, de centro ou de esquerda, que tem governado país.

Nas anteriores eleições legislativas, em 2018, o Movimento 5 Estrelas, criado pelo comediante Beppe Grillo captou essa irritação popular e recebeu 32,7% dos votos. Este partido formou governo e, agora, as sondagens anunciam que perdeu mais de 50% dos eleitores. Quem vai para o governo torna-se impopular.

Meloni tem liderado o discurso de protesto e, agora, vai ser a vez dela na chefia do governo. Não precisou de se esforçar muito para se impor ao 5 Estrelas porque este partido entrou em autoflagelação com sucessivas crises internas. Para Meloni, o adversário a superar no campo da direita mais à direita era Salvini, o líder da Liga. Salvini também entrou em declive, por inconsistências quando foi tempo de apresentar soluções. O quadro internacional também funcionou contra ele: Salvini é há muito admirador de Putin. 

O crescimento do Fratelli d’ Italia, de Meloni, foi correspondendo à descida da Liga, de Salvini. O partido que ela faz crescer passou de 4,4% nas eleições de 2018 para agora 25% nas sondagens.

Meloni sabe que para conseguir fazer prevalecer uma maioria de direitas precisa de alianças. Daí coligar-se com o rival Salvini (13% nas sondagens) e ainda com Berlusconi – os 7% da Forza Italia garantem à aliança das direitas os 45% que permitem, com o sistema eleitoral italiano, ampla maioria absoluta no parlamentar. 

Meloni quer impor-se como o rosto das direitas em Itália. Ela apresenta-se como a dura, a católica e a tradicional, com o discurso da lei e da ordem. Mostra mestria na comunicação pelas redes sociais. Revela clareza e coerência na liderança de posições em que a direita mais à direita se revê.

O partido de Meloni tem raízes no velho pós-fascismo do Movimento Social Italiano. Ela soube fazê-lo evoluir e refundar-se com novas roupagens, sem deixar de envolver os nostálgicos. Cultiva rituais nacionalistas, mostra fraternidade com a liderança de Orbán na Hungria. Chega a juntar-se a setores tradicionalistas da igreja católica em oposição ao progressismo social do Papa Francisco. O conservadorismo duro que defende inclui mostrar má cara ao feminismo, hostilidade aos movimentos LGBTI e endurecimento da legislação sobre o aborto. É intransigente no fechar de portas aos migrantes extracomunitários.

Em tempo de campanha, em época de crises e incertezas, o cenário italiano está a favor de Meloni e das direitas. A esquerda não conseguiu unir-se e os social-democratas do Partido Democrático não passam dos 22% - embora acariciem a ilusão de captar o voto de muitos dos 20% que se declaram indecisos. 

Giorgia Meloni está lançada para alcançar no próximo fim de semana a chefia do governo de Itália. O mais difícil é o que vem a seguir. A começar pela coesão na coligação em que ela é atlantista (pró-americana mas muito eurocética) e o sócio Salvini é pró-Putin. Dificuldade maior: Itália é um país com dívida pública que supera os 134% do PIB e é o país europeu mais atingido pela guerra da energia (vivia com 60% do gás que usava importado da Rússia). Tem o desemprego jovem nos 24%.

A próxima maioria tem para gerir a maior das “bazucas” dos fundos europeus de recuperação: 191.500 milhões de euros. A aliança das direitas ambiciona conseguir uma maioria bastante para instalar uma nova hegemonia cultural e modificar a constituição para implantar o regime presidencialista muito desejado pelas direitas.

A Europa vê com desconfiança tudo o que se perspetiva em Itália. Há o temor de que a Itália fique uma réplica política da Hungria de Orbán que a União Europeia está a sancionar.