Nos últimos anos, temos vindo a conhecer várias pressões e condicionamentos à liberdade jornalística. Acresce o entorpecer das condições de vida que nos afectam a todos e condicionam a vida das pessoas e o funcionamento das empresas de maneira geral. Os jornalistas não ficam, claro, de fora. Nesta semana soubemos de mais um despedimento colectivo no grupo Global Media, que potenciou mais uma greve dos jornalistas. É uma situação lamentável que coloca em causa a função basilar do pensamento e actividade jornalística.

A saúde mental e psicológica encontra-se no seu auge de exposição mediática - também muito provocada pelo jornalismo durante a pandemia e no seu seguimento. Com a forte divulgação actual, a saúde mental tornou-se num tema amplamente discutido. Significa isto que muitos falam sobre ela e outros muitos são esponjas da sua informação. Se falam de forma correcta, ou se sabem completamente o que dizem, ou se se fazem entender e perceber, é outra questão.

Quem divulga peças jornalísticas, mais do que falar sobre Saúde Mental, tem um papel fulcral na verificação da informação que é desenvolvida e na forma como a mesma é promovida. E tem sido um papel importante de divulgação e de afirmação da ciência psicológica e das boas práticas de saúde mental.

Cada vez mais surgem pseudo-cientistas, que usam os termos da psicologia para se afirmarem, mas que no fundo apenas utilizam para si como verdade o provérbio "de médicos e loucos, todos temos um pouco". Dizem extremismos para chocar, frases banais como verdades universais, inventam conexões e consequências que não existem e sintomas que nunca foram descritos. Basta dizer “saúde mental” ou “psicológico” para perceber ser entendido. Mas não é bem assim.

O escrutínio jornalístico permite a divulgação da verdade científica e psicológica, a promoção da verdade assente nas investigações e práticas dos especialistas e profissionais, bem como a diferenciação entre os caminhos possíveis para pensar a Psicologia e o bem-estar psicológico.

Um jornalismo saudável é aquele que possibilita a informação precisa e acessível a quem a procura, criando um ambiente de confiança e segurança para quem lê, podendo colocar em causa e pensar fora do contexto, opinando com firmeza e argumentos. A linguagem acessível é fulcral para a correcta percepção e aquisição da informação a ser transmitida, pois existem questões complexas que, jornalisticamente, são transmitidas de forma mais simples.

A divulgação das formas de saúde mental e psicológica, em diferentes áreas da vida e do quotidiano, são importantes para a criação de alertas para a sua existência e preponderância no bem-estar diário dos indivíduos. Neste seguimento, a divulgação das práticas, do que fazer quando a saúde mental e psicológica está condicionada e que tipo de tratamentos e formas de intervenção existem, das problemáticas diárias às perturbações que condicionam todo o funcionamento da vida.

Termino com aquela que me parece ser o principal papel que o jornalismo tem tido para com a Saúde Mental e Psicológica: a redução do estigma.

Falar de forma assertiva e cuidadosa, com exemplos precisos e descritivos, é fundamental para reduzir o estigma em torno da saúde mental. Partilhar histórias, exemplos de quadros clínicos, de superação e adaptação ao funcionamento do dia-a-dia, bem como a implicação das mudanças à nossa volta na nossa saúde, são formas de promover a compreensão adequada da saúde mental que a torna para todos.

Desta forma, o jornalismo ajuda a potenciar a consciência individual para estes temas, representando um pilar para a noção de veracidade da informação. Permite, assim, ter mais atenção a determinados temas e aspectos da vida, ao auto-cuidado necessários à saúde mental, aos sinais de alerta quando esta promoção não existe e a indicar caminhos através de experiências descritas. No fundo, o jornalismo pode ajudar na educação do público, normalizando e consciencializando.

Em suma, o jornalismo desempenha um papel fundamental na promoção da literacia em saúde mental e psicológica. Fornece informações precisas, combate o estigma e a desinformação, aumenta a consciência de diversas problemáticas e conecta as pessoas na atenção e cuidado pela sua saúde mental.