São insuportáveis as imagens da barbárie que nos está a ser mostrada nestes últimos dias. Acontece em algumas guerras um massacre impor-se como o demasiado cruel que faz virar o curso da história. Foi o caso do bombardeamento do mercado de Sarajevo, em 1995, que levou à decisão de intervenção da NATO contra os sérvios da Bósnia e assim fazer mudar o rumo da guerra dos Balcãs. Agora, aqueles cadáveres com um buraco na testa ou na nuca, evidência de execuções sumárias em subúrbios de Kiev, obrigam a que seja feito tudo o que for preciso para parar esta guerra e este massacre.

Aqueles vídeos de Bucha, com as imagens macabras de civis tombados sobre o pavimento da rua, pessoas com o corpo sem vida crivado de balas, um homem ainda encaixado no selim da bicicleta, outro com a cabeça baleada e as mãos atadas atrás das costas, para além de toda a indignação e condenação que suscitam mostram a evidência de crimes de guerra.

Para além de apurar quem os praticou, há o facto principal: são crimes de guerra. Zelenski chama-lhe “genocídio”, Moscovo, como seria de esperar, rejeita qualquer responsabilidade e denuncia “provocação de radicais ucranianos”. É imperioso que estes crimes sejam investigados por quem é independente e tem competência para o fazer. E que os criminosos sejam punidos.

A engrenagem de “verdade alternativa” cultivada pelo Kremlin leva a suspeitar fortemente que Putin seja o chefão mandante destes crimes. Evidentemente, a suspeita não basta. As manipulações não podem ser excluídas. O caso da matança no mercado de Sarajevo, em 95, mostra-nos isso: o dedo acusador que fez a NATO entrar em ação foi apontado em direção aos sérvios; depois, veio a perceber que o ataque ao mercado tinha partido de posições muçulmanas e não de sérvias.

É essencial que os peritos avancem para o terreno em número robusto e tenham todos os meios para, com independência, desenvolverem investigação e a recolha de provas, para apuramento, em tempo útil, de responsabilidades. É preciso punir os criminosos de Bucha, de Mariupol como de outros lugares de inferno desta guerra.

Estão em confronto duas versões do que é contado como verdade.

Tudo leva a crer que a versão de Putin, o chefe que se coloca como dono de um país sem direito a opinião pública, é a da propaganda feita de aldrabice. Há que investigar e apurar.

Mas neste momento o que importa é uma só verdade: é preciso fazer tudo para fazer parar imediatamente esta guerra.

E já agora: tratar de encontrar caminhos para que o povo da Rússia deixe de estar amputado de informação.