Sair à rua para protestar sabendo que isso pode significar prisão e morte, eis o que as mulheres no Irão estão a fazer, com coragem, com a convicção de que não se prende uma jovem de 22 anos por ter quebrado o protocolo, a regra imposta. Masha Amini foi detida pela designada polícia dos costumes. O que aconteceu para ter entrado em coma e morrer três dias depois? Consigo facilmente imaginar o sofrimento, a humilhação, o abuso a que foi sujeita. O general responsável pela polícia já veio dizer que a jovem tinha problemas de saúde, que ninguém lhe tocou. A família garante que estava bem saúde. Alguém acredita no general?

A violência sobre as mulheres é uma forma de poder. A obrigação de cobrir o cabelo na rua é uma imposição que está para lá de qualquer convicção religiosa. É uma maneira, mais uma, de confinar as mulheres, de as obrigar a seguir normas que as diminuem, que as expõem como subalternas. O poder dos homens sobre as mulheres está muitas vezes alicerçado numa ideia errada de religião. A fé das pessoas, a sua espiritualidade não pode ser testada por véus islâmicos ou pela opção de não usar calças de ganga rotas, (igualmente proibido no Irão). Alegaram que Masha não estava vestida com roupas adequadas. Agora está morta e, em diversas cidades do Irão, as mulheres saem à rua, retiram o véu islâmico como forma de protesto, reclamam a morte de Masha e a possibilidade real de serem as próximas.

A luta pela liberdade não tem fim. Em países como o Irão, a liberdade das mulheres nem sequer existe. A Ocidente, com todos os avanços, as mulheres continuam a ser vítimas de abuso físico e psicológico, continuam a ser mortas. A questão é transversal - na Ásia, na Europa, na América, em África - e as mulheres já não podem optar pelo silêncio ou pelo medo. Enfrentam o medo para que haja vida para lá das imposições, para que as suas filhas possam ser livres. Além de Masha, outras mulheres iranianas sofrerão represálias por se manifestarem, não tenho dúvida. Por muitas denúncias que existam, por muitas imagens que se espalhem pelo mundo, por muita indignação, fica a pergunta: quem salva as mulheres dos homens?