Nas eleições mais concorridas de sempre na história dos clubes portugueses, a lista de Rui Costa venceu as eleições para os órgãos sociais do Benfica com quase 85% dos votos. O resultado eleitoral legitima inequivocamente o mandato do antigo número dez do Benfica, mas Rui Costa sabe que os sócios não lhe assinaram um cheque em branco. Tanto pela calendarização do ato eleitoral como pela reputação do próprio, Rui Costa não perderia estas eleições contra ninguém, e sabia-o. O facto de o resultado ter sido expressivo tê-lo-á descansado quanto à dimensão dos danos reputacionais que a convivência com Vieira lhe terá causado, mas não seria sensato que saísse do Pavilhão #2 da Luz com a convicção de que tem o clube na mão.

Tendo em conta tudo o que aconteceu em torno do Benfica, esperava-se um resultado mais robusto da oposição. Rui Costa conseguiu convencer tanto o eleitorado que queria prosseguir o caminho de Vieira como grande parte do eleitorado que queria cortar com ele. Parece paradoxal, mas Rui Costa foi bem ajudado no que toca a passar a ideia de que esteve com Vieira na recuperação do Benfica, ainda que estivesse a almoçar enquanto este alegadamente lesava o clube.

Ao contrário de Noronha Lopes, Francisco Benitez não teve nem o tempo, nem provavelmente o dinheiro para construir notoriedade mediática antes das eleições. Não menos importante, Benitez inscreveu-se no mais desfavorável dos embates: candidatou-se contra um ex-ídolo das bancadas da Luz, que não sofreu nada que se pareça com o desgaste que Luís Filipe Vieira já apresentava no ano passado, tudo isto na sequência de bons resultados desportivos. Não terá conseguido passar a mensagem, mas a sua candidatura cumpriu o seu objectivo, nada tímido se tivermos em conta as últimas duas décadas do clube: provar que os sócios estão e estarão vigilantes.

Para que tenha sucesso como presidente do Benfica, Rui Costa tem de se virar para o futuro, sim. Mas isso não acontecerá a menos que haja um corte público com o passado, pelo que aguardamos pela auditoria forense que revelou já estar a fazer.

A médio prazo e caso haja motivos para contestação, Rui Costa não terá acesso aos trunfos que o antecessor usou para solidificar a narrativa de que era “Vieira ou o caos”. Tendo em conta que a candidatura de Rui Costa foi alavancada não só pelo legado como pelo eleitorado de Vieira, a técnica do “quando cheguei ao Benfica nem as pedras da calçada eram nossas” nunca será aplicável. Mais do que isso, Vieira deslocou-se à Luz para garantir que o seu sucessor tinha noção de que tudo o que está de pé no clube foi ele que o erguera. Por um lado, Vieira legitima Rui Costa com o seu voto e apoio; por outro, põe o novo presidente em xeque logo no primeiro dia. Nesse sentido, a associação entre os dois não deixará de ser tóxica para Costa só porque as eleições já se realizaram. Ou Rui Costa se descola de Vieira ou o Benfica não descolará.

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