Apesar de não ser psicólogo, vou tentar explicar. Todos nós sabemos que a pressão por resultados é constante e a competitividade é acirrada. E, por isso, muitos profissionais enfrentam o dilema de dizer "sim" a todas as solicitações para não desapontar colegas e chefias ou arriscar o bem-estar mental ao recusar tarefas que excedem as suas capacidades. Esta cultura do "sim" pode parecer inofensiva à primeira vista, mas acredite que carrega consigo um peso que pode ser insustentável.
Um estudo recente, realizado pelo CMO Huddles and Bospar revela que 80% dos profissionais de marketing têm tido menos tempo para praticar exercício físico e 70% têm menos tempo livre. Acredito que este cenário não seja exclusivo a esta área específica. Estes números falam por si: esta pressão crescente está a afetar a nossa saúde e a qualidade das nossas vidas.
O desejo de não desapontar os outros, aliado ao receio de consequências negativas, faz com que muitos profissionais sintam que precisam aceitar tudo. No entanto, ao ceder a esta pressão, colocamos em risco a nossa saúde mental e a nossa capacidade de ser realmente produtivos.
Aproveito o Dia Internacional da Saúde Mental para abordar este tema, pois acredito ser fundamental discutirmos este assunto sem medo ou vergonha. Precisamos de reconhecer que cuidar da nossa saúde mental não é um sinal de fraqueza, mas sim de coragem. Saber desligar do trabalho, reservar tempo para nós mesmos e para a família e aprender a dizer "não" são passos cruciais para nos tornarmos profissionais mais eficazes e equilibrados.
O Poder do “Não”
Dizer "não" pode ser considerado como um dos atos mais poderosos que podemos realizar no nosso ambiente de trabalho. Acredite! No entanto, é crucial que o façamos com uma comunicação clara e respeitosa. Ao aprender a dizer "não", não estamos apenas a defender o nosso espaço e a nossa saúde mental, mas também a promover um ambiente mais saudável e produtivo para todos. Devo salientar que dizer "não" não significa recusar responsabilidades ou abdicar do trabalho em equipa. Deve, como em tudo na vida, haver um equilíbrio. No fundo, o objetivo é saber quando recusar de forma a proteger a sua saúde
mental, sem comprometer a ética profissional e o compromisso com o trabalho e as suas funções.
Abaixo, apresento três dicas práticas que podem ser facilmente implementadas no nosso dia a dia para ajudar a manter um equilíbrio saudável entre o trabalho e a vida pessoal, ao promover o bem-estar mental e a produtividade:
- Avalie as Suas Prioridades: Antes de responder a uma solicitação, reserve um momento para refletir sobre as suas prioridades atuais. Pergunte a si mesmo: "Esta tarefa alinha-se com os meus objetivos?" Se a resposta for negativa, então considere dizer "não" ou, por exemplo, negociar um prazo diferente. Isso ajudará a manter o foco no que realmente importa.
- Comunique-se com Clareza: Quando decidir dizer "não", faça-o de forma clara, firme e respeitosa. Explique o porquê da sua recusa e, se possível, sugira alternativas ou indique como o pedido pode ser feito num momento mais adequado. Isso não só demonstra a sua consideração pela outra pessoa, como também reforça a sua posição.
- Pratique o Autocuidado: Reserve momentos durante a semana para cuidar de si mesmo. Isso pode incluir pausas para alongamentos, meditação ou atividades que lhe tragam prazer. Eu, por exemplo, pratico Crossfit e garanto que durante aquele tempo nada mais me passa pela cabeça. É um momento só meu, onde consigo desligar e recarregar energias. E não se esqueça: procure manter uma alimentação equilibrada e saudável, pois uma boa nutrição é fundamental para a nossa energia e bem-estar.
Uma Nova Abordagem
Acredito que promover uma cultura que valoriza a capacidade de dizer "não" continua a ser um desafio nos dias de hoje, mas é um passo essencial para a construção de um ambiente de trabalho saudável. As empresas devem incentivar a transparência, a comunicação aberta e reconhecer que o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é fundamental para o bem-estar de todos.
Em última análise, aprender a dizer “não” não deve ser visto como um ato de rebeldia, mas como uma expressão de autocuidado e respeito mútuo. Ao fazer isso, não apenas protegemos a nossa saúde mental, mas também contribuímos para um local de trabalho mais positivo e colaborativo.
Se leu até aqui, faça um favor a si mesmo: comece, hoje mesmo, a valorizar o seu próprio bem-estar. Desligue-se do trabalho fora do horário laboral, reserve tempo para si e lembre-
se de que, ao cuidar de si mesmo, estará a investir não só na sua saúde, mas também na sua capacidade de ser um profissional melhor.
A escolha do "não" pode ser o primeiro passo em direção a um futuro mais saudável e equilibrado no mundo do trabalho.
E saiba que, sempre que precisar de ajuda, pode contactar a linha do aconselhamento psicológico através do SNS 24. Não hesite!
Os objetivos deste serviço são:
→ gerir emoções (stresse, ansiedade, angústia, medo) em situação de crise; → promover a resiliência psicológica;
→ diminuir a probabilidade de desenvolver problemas de saúde mental;
→ promover o aumento do sentimento de segurança da população e dos profissionais de saúde;
→ orientar para outras entidades de apoio, em caso de necessidade identificada pelo psicólogo.
O número para onde deve ligar é o do SNS 24 – 808242424. Depois deve selecionar a opção 4 (aconselhamento psicológico). O serviço está sempre disponível: 24h/dia, 7 dias por semana.
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