É preciso uma certa dose de loucura para chegar aos 54 anos (só lá chego em dezembro, mas que importa isso?) e decidir fazer um doutoramento. Para mais, com colegas substancialmente (por favor, sublinhem o advérbio) mais novas do que eu, numa outra fase de vida. O facto em si não é tão revelador quanto o ter dado por mim a dizer a uma professora, olhe, eu não quero dar aulas, quero fazer isto para ter a minha cabeça a trabalhar, para ler, para promover pensamento, e se concluir que me pesa muito vir para aqui (universidade, leia-se) todas as terças e quintas das seis às nove da noite, pois tenho pena, desisto sem amargura.
Esta frase é a maior vitória de todas para quem, tal como eu, tenha andado a vida toda a carregar os diferentes compromissos com um sentido imperativo e sem possibilidade de abébias. Para que fiquemos esclarecidos, abébias são facilidades ou oportunidades que damos, incluindo a nós próprios. “Um sinal de saúde mental”, as tais palavras ditas em contexto de aula, que me deram um imenso alívio a todos os níveis, sobretudo por compreender que o facto de verbalizar que posso desistir não pode ser visto como um falhanço, antes como opção.
Tantas vezes na vida tive períodos depressivos e ataques de ansiedade, por não me conceder esta facilidade: posso dizer não sou capaz, agora não me apetece. Também a saúde mental é uma escolha nossa e o tempo e a idade talvez ajudem na conquista dessa consciencialização. Uma das coisas que faço regularmente é esta pergunta: precisas de fazer isto? Isto é uma agressão? Estás desconfortável? É tão importante reconhecer como nos sentimos, como a vontade e disponibilidade de abraçar o risco de um novo projecto. É no equilíbrio que está a arte de melhor viver.
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