Leia o livro,
Universo em desencanto.
Leia o livro
Universo em desencanto.
Leia e vai saber o que é encanto.
Leia e vai salvar o desencanto.
Leia o livro
Universo em desencanto
Leia o livro
Universo em desencanto.
Leia e vai saber o que é encanto.
Leia e vai salvar o desencanto.
Leia o livro
Universo em desencanto.
Leia o livro.
Leia, e vai saber o que é encanto.
Leia, e vai salvar o desencanto.
E qual o motivo de me ter lembrado desta espécie de jingle publicitário/proselitista ingénuo? Sucede que eu, tal como o Tim Maia de 75, estou obcecado com a partilha duma mensagem. Hoje nada mais me apetece dizer do que a repetição incessante deste mantra: “Leia o artigo! Leia o artigo do Adolfo Mesquita Nunes na Visão!”
Isto é quase batota. Escrever um artigo de opinião sobre outro artigo de opinião não é raro, mas por norma faz-se nos casos em que se quer rebater, ou naqueles em que se quer acrescentar algo à ideia. Ora, eu ainda não sei se tenho alguma coisa a acrescentar e, seguramente, não vou rebater. Sinto-me invadido por aquela sensação de me terem tirado as palavras da boca, e é por aí que se avulta a vontade de dizer-vos “Leiam o artigo do Adolfo Mesquita Nunes na Visão!”.
Eventualmente ganharei coragem para adicionar algumas ideias ao assunto que o Adolfo abordou, mas antes é o próprio Mesquita Nunes quem me suscita assunto. Não vou esconder que fui tomado por alguma decepção quando, recentemente, AMN aceitou um cargo administrativo na GALP. A questão ética levantada – por falarmos de alguém com passado recente governativo e sem passado ligado às Energias – até podia levar-nos a reacções ténues: um mero encolher de ombros bastava, já que nada nos surpreende, e esta promiscuidade suspeitosa tem-se tornado o pão nosso de cada dia na política. A questão também podia ser sacudida com indignação ligeira, como quem vê um jovem a pensar em si, no seu bolso, e a fazer pela vida - ainda que para isso ele troque a camisola do clube do coração por uns largos punhados de pesetas. Mas se sigo esta metáfora futebolística, reitero a minha profunda decepção: AMF renunciou à camisola da Selecção Nacional, sendo que era um dos nossos maiores talentos em campo. É muito triste.
Entendam que há agora desgosto porque outrora havia muita expectativa. Para este passo na carreira do Adolfo Mesquita Nunes tenho muitas críticas, mas elas só são veementes porque antes tinha reservado muitos elogios ao advogado. Transversalmente às tendências ideológicas, AMF representava uma figura política ímpar, representava incisão e lhaneza no debate, representava clareza e preparação no discurso, representava ainda liberdade de pensamento. Era uma inteligência rara e, pela idade, não me canso de fixá-lo à ideia futebolística da “esperança” - a jovem promessa já com créditos firmados. Agora, será justo eu traçar todos estes louvores no pretérito imperfeito? Será justo pensar no melhor Adolfo Mesquita Nunes como uma saudosa imagem do passado que desvaneceu?
A resposta à pergunta pendente no último parágrafo é um anafado “não”. E foi preciso estar em modo anafado-Tim-Maia, a trautear incessantemente “leiam o artigo do Adolfo”, para eu próprio ficar esclarecido. Para já, o texto na Visão prova que a acutilância não se esfumou. Depois, é notável perceber que o outrora livre Mesquita Nunes está aqui a fazer um absoluto exercício de liberdade. Embora o artigo dele tenha alvos abrangentes, a verdade é que visa mais incisivamente os que, para todos os efeitos, são seus correligionários. Note-se que as investidas do AMN contra uma certa direita não incidem apenas em partidos mais extremados - os “mais à direita” do CDS. A crítica do Adolfo investe contra pensamentos, atoardas e subterfúgios que contaminam as opiniões de muitos colegas seus de partido. O dedo apontava para dentro.
O que quero fazer notar com isto é que, em ano de eleições, seria pouco usual ver o vice-presidente dum partido a debruçar-se desta forma em que questões que: 1 – são mais ideológicas que políticas; 2 – põe em cheque muita da argumentação dos parceiros de bancada. Há disciplinas e estratégias partidárias que, quer queiramos quer não, limitam a intervenção das suas figuras de proa, até as mais livres. Mesmo que nada disto amnistie Adolfo Mesquita Nunes nos impasses éticos da sua transição profissional, o certo é que, a julgar pelo artigo, o seu espaço de liberdade não ficou tolhido. Antes pelo contrário.
Mas sejamos claros: ao demitir-se do cargo de vice-presidente do partido, AMF não salvou a cara, nem contrabalançou o desmérito de ter assumido funções na GALP. Para além disso, a demissão também significa prescindir de visibilidade política, e ficar quase restringido ao papel recatado de consiglieri (mantendo-se, apesar de tudo, fulcral neste novo esforço modernizador do CDS). Continua a ser uma demissão descoroçoante para todo os que, tal como eu, contavam com a acção política do Adolfo no futuro, e não apenas com a sua opinião. Ainda assim, o prémio de consolação está exactamente na opinião – essa parece não querer secar e, pelos vistos, goza de plena liberdade. E plena qualidade. Espero não vir a enganar-me. Espero que nenhum artigo dele venha alguma vez a tresandar a combustível.
Há duas questões levantadas no texto do Adolfo Mesquita Nunes sobre as quais ainda gostava de debruçar-me, nomeadamente esse embuste argumentativo do “Marxismo cultural”, e ainda a ditadura da imoderação política, da ausência de cinzentos no espectro ideológico. É provável que volte a estes tópicos no futuro, que hoje já falta espaço. Quero, contudo, arranjar lugar para esta recomendação em loop: “Leia o artigo! Leia o artigo do Adolfo Mesquita Nunes na Visão!”
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