Há casos em que as pessoas fingem não ouvir; outros em que remetem imediatamente para o universo dos maluquinhos. “Maluquinhos somos todos”, diria o meu tio-avô, se fosse vivo. E somos, de certa forma, porque a sociedade obriga-nos a viver sob uma enorme pressão, o stress é uma constante e nem os mais novos se safam. Banalizaram-se os comprimidos para a ansiedade, para dormir, para isto e para aquilo, tudo no campo da saúde mental e com poucas respostas públicas nesta área.

Uma consulta de Psiquiatria no SNS implica uma espera de três a seis meses. Não existem tantos psiquiatras disponíveis quanto seria desejável. No que respeita a uma consulta através do seguro de saúde, com recurso ao sistema de saúde privado, tem, em média, um limite de seis consultas: acaba a torneira de apoio financeiro, porque é esperado que fiquemos finos após meia dúzia de visitas ao especialista. Uma das características da saúde mental é de grande inconveniência: não se recupera em seis consultas, não se recupera em dois meses. O tempo é crucial. Tal como admitir a condição de saúde e, preferencialmente, receber o apoio das pessoas em redor, em vez de sofrer julgamentos e críticas fáceis. Parece-me que, de algum modo, a crítica fácil passou a vingar em todos os aspectos da nossa vida e, sejamos honestos, não ajuda.

Num artigo no Observador, Marta Rebelo, antiga deputada socialista, interroga-se sobre a falta de importância atribuída, por todos os protagonistas da campanha legislativa, às questões de saúde mental. Saliente-se que, no país, temos cerca de três milhões de pessoas com questões relacionadas com a saúde mental, depressão, ansiedade, esgotamento. “A saúde mental não é uma questão ideológica. É um imperativo de sobrevivência que os partidos tratam com ignorância, desdém e omissão e o descaramento politiqueiro de falar, raramente, em prevenção”, escreve a jurista. Os partidos não falam sobre isso, da mesma maneira que não falam sobre Cultura e Artes, como tive ocasião de frisar numa crónica anterior. No caso da saúde mental, é particularmente grave quando se vendem, com comparticipação do Estado, cerca de 60 mil psicofármacos diariamente. Repito: diariamente. Não seria melhor falar sobre o tema e deixar de lado acusações e listas do que se fez, e não se fez, no passado? Não seria bom ter uma perspectiva de futuro?