A gente de Trump está a tratar tudo para que a entrada do ex-presidente, na tarde desta terça-feira, no tribunal de Nova Iorque seja uma peça inflamadora de adeptos para ativar mais – mesmo incendiar - a campanha para as presidenciais do ano que vem. Com Trump no papel de vítima dos democratas de Biden.

Clama um dos estrategos da campanha de Donald: “O presidente Trump é detido na Semana Santa, o tempo do sofrimento e da purificação dos fiéis a Jesus Cristo. Tal como Cristo, ele vai ser crucificado e ressurgir ao terceiro dia”. Alvin Bragg, o procurador que obriga Trump a responder perante o tribunal por suborno à “estrela porno” Stormy Daniels, foi eleito para o cargo com apoio dos democratas. É uma base para o argumento trumpiano de “caça às bruxas” pela “justiça política dos de Biden”.

A imagem de Trump a entrar no tribunal com agentes dos serviços secretos em escolta ao ex-presidente no percurso (ainda que sem algemas e mãos atrás das costas) para a obrigatória sessão de fotografias, de frente e de perfil, e a recolha de impressões digitais, como impõe o protocolo judicial para todos os acusados pela justiça americana, deve tornar-se uma bandeira ideal para a propaganda política de Trump. A fotografia de Trump no tribunal documenta uma faceta baixa de Trump, mas serve para o relançar entre os dele para o topo da popularidade populista.

Está previsto que o ex-presidente seja conduzido à sala de audiências do 15º piso do edifício do tribunal de Lower Manhattan, aquela onde, por exemplo, o produtor de Hollywood Harvey Weinstein foi condenado a 23 anos de prisão, por abusos sexuais.  

O juiz já decidiu uma proibição que estraga uma parte dos planos da gente da campanha de Trump: não pode haver captação de imagens na sala de audiências onde o ex-presidente vai ser acusado de ter mandado pagar, em 2016, em dinheiro processado nas contas de campanha, 130 mil dólares para que a atriz Stormy Daniels não revelasse, em vésperas da eleição presidencial, uns episódios de sexo com ele. É suposto faltarem as imagens de Trump a responder perante o juiz, mas o show terá tudo preparado para a campanha política. Uma t-shirt a explorar a imagem do detido pode servir para a propaganda.

O que vai estar em julgamento pelo júri no tribunal de Manhattan é revelador sobre os vícios da personagem Donald Trump. Mas ele sabe que, para os apoiantes, aquilo não conta como pecado, até vale uma piscadela de olho.

De facto, o que está em tribunal não é ainda o dissecar em julgamento dos ataques à democracia em episódios como aqueles em que ele, ainda presidente, incitou ao assalto ao Capitólio e interferiu no apuramento de resultados eleitorais na Georgia ao encomendar ao governador os votos que lhe faltavam.

O julgamento que começa nesta terça-feira em Manhattan vai ser usado pela gente de Trump para atacar as elites liberais da costa Leste dos EUA que ao pretenderem acusá-lo “estão a atacar a América”..

Os muitos fanáticos de Trump vão continuar a confiar mais nele do que na justiça americana. 

A opinião pública democrata não precisa deste caso para julgar Trump.

Os rivais republicanos de Trump, com DeSantis como o melhor posicionado, ficam por agora politicamente inibidos de qualquer campanha contra o ex-presidente.

Fica para saber se os casos do assalto ao Capitólio e da pretensão de viciação de resultados na Georgia estarão em julgamento num tribunal antes da eleição presidencial daqui a 18 meses.

Por agora, é apenas show para a propaganda e mobilização dos dele.