É preciso perceber como quase tudo possui o seu encanto e como nada tem verdadeiramente importância. Parece uma coisa de auto-ajuda? Pois, parece, mas isto de andar cá na vidinha a ver os outros e a escrever listas de queixas, acumulando ansiedades e medos, é quase tão bom como acertar na chave do Euromilhões para, depois, perder a bodega do papelinho, quando na verdade até se pode jogar online. É como quem diz, andas aqui transitoriamente e não pescas nada disto. A queixa está instituída e até parece que é mais conveniente, pessoal e colectivamente, ser infeliz e mal resolvido. Uma pessoa feliz e bem consigo própria é um animal quase em extinção. É que o cidadão, para pertencer, tem de se entristecer com o seu próprio destino e com o do país (a esse será uma fatalidade, mesmo que estejamos doidos de felicidade, o país trará sempre dissabores, impostos, multas, burocracias e outros quinhentos, que agora não vale a pena enumerar). 

Percebi que uma das coisas mais maravilhosas que nos pode acontecer é entendermos que não valemos nada, não vamos mudar o mundo, não somos sequer uma nota de rodapé num manual de História futuro. Somos apenas pequenos nadas que aqui andamos. Por isso mesmo, é melhor vivermos o melhor possível. Apreciar e agradecer. Não, não vou começar a mandar mensagens com hashtags a dizer gratidão ou luz, não preciso de chegar a tanto, até porque acredito que uma boa maledicência pode animar (e muito!) o convívio entre a malta. Criticamos o Outro, muitas vezes com maldade e uma dose de hostilidade excessiva. Não me refiro a esse tipo de maledicência, estou a cingir-me à fofoca sem mágoa ou ferro queimado. 

Não precisamos de ser bonzinhos até babarmos, de tanto gesto positivo e cheio de coração, podemos até praticar as nossas maldadezinhas, mas não temos de viver a pensar que somos especiais ou originais. Somos o que somos e isso tem de chegar. Se vos pregarem com exemplos aspiracionais, e isso resolver os vossos dramas existenciais, por favor, ide com tudo, façam o favor de seguir esse caminho. Eu cá prefiro ler livros e angustiar-me o menos possível. Prefiro reconhecer a mediocridade e louvar o que me parece ser digno de nota. Não há mal em ter uma vida comezinha, tão-pouco existe qualquer erro nesta ideia incrível e maravilhosa que me assalta: quero abraçar o nadismo. Mas tens projetos? Eu não, nem quero. Porquê? Porque posso ser apenas, respirar e existir, reconhecer o muito que já fiz e caber no meu molde, não no molde dos outros. Uma das coisas mais maravilhosas de todas é deixar de dar importância aos outros, porque a opinião dos outros sobre a nossa vida é como o inferno, cheio de boas intenções e tal e, depois, queima-nos à primeira oportunidade.