Enterra-se o Carnaval, mas não se arrumam as máscaras
Amanhã enterra-se o entrudo. Se no Brasil, o samba vai ecoar até ao final da semana, por cá os pontos do país que fazem ponte para o lado de lá do oceano Atlântico terminam as celebrações esta quarta-feira. Mas as máscaras não devem voltar tão cedo para o armário.
Em plena Europa, uma Itália ainda à procura do epicentro da pandemia, é motivo de alerta para o perigo e facilidade com que o novo coronavírus se pode propagar por todo o mundo. Lá, os números de mortos e infetados não param de aumentar e fazem o quotidiano funcionar a "meio-gás", como nos contam a Isabel Tavares, Inês Alves e António Moura dos Santos numa reportagem sobre o tema.
Portugal parece continuar imune ao vírus, apesar dos vários casos suspeitos. Adriano Maranhão, o único português infetado, quando estava a bordo de um cruzeiro em que trabalhava, já foi transferido para hospital da cidade de Okazaki, num processo que, visto de cá, pareceu ser muito mal gerido na embarcação.
A alegria que pintou a cara de tantos durante estes últimos dias dá lugar ao medo que estica com força o elástico atrás da nuca para segurar as máscaras, numa tentativa de fintar as possibilidades de contágio direto.
Se hoje as máscaras protegem as pessoas do medo, não houve nada que pudesse segurar a dor de Pedro Passos Coelho e da sua família que viu partir Laura Ferreira, mulher e mãe, que há cinco anos que lutava contra um corpo dominado por uma terrível doença.
Aqui, nesta dor que é o sofrimento prolongado, nosso ou de alguém que amamos, nasce um lugar que, infelizmente, me parece ser cada vez mais comum a todos nós e para o qual não há máscaras capazes de aliviar o sofrimento. Pelo contrário, por vezes, só a dor crua e nua é que nos pode alertar para a necessidade de colocar fim a todos os adereços que nos mantêm de pé.
Mas eu sei pouco disto, nunca usei máscaras e nunca gostei do Carnaval.
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