O 'caos' português

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Parece que foi ainda ontem que Portugal se galvanizava com “o milagre português”. Além fronteiras, escrevia-se sobre os números animadores de um país geograficamente ‘encurralado’ por Espanha, uma das nações que mais sofreu com a pandemia na Europa.

Hoje, Portugal é um dos 50 países com maiores números de casos registados de Covid-19 e o 40.º com mais óbitos registados derivados da pandemia. Os números podem ser alvo de debate, uma vez que é claro que a capacidade de testagem de cada país tem influência nestes resultados finais e é impossível, ao momento, uma quantificação rigorosa de uma doença que não manifesta qualquer sintoma na maioria das pessoas que contraem o vírus. No entanto, o 'caos' das últimas 24 horas vividas em Portugal pode ser analisado de forma objetiva.

  • A secretária adjunta da Saúde, Jamila Madeira, foi exonerada na quinta-feira, tendo sido substituída no cargo pelo secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales. Segundo a agora ex-governante, a saída aconteceu de forma imprevisível. Visto de cima, a decisão, ainda por justificar quer pelo primeiro-ministro, quer pela ministra da Saúde, é estranha no timing numa altura em que assistimos a números elevados no quadro da pandemia.
"Não pedi para sair e naturalmente fiquei muito surpreendida com a opção da senhora ministra da Saúde [Marta Temido]. Mas saio de consciência tranquila de missão cumprida com a certeza de que fiz tudo o que estava ao meu alcance num ano particularmente inédito" - Jamila Madeira
  • Hoje, já na cerimónia de posse dos novos membros do governo, a antiga secretária de Estado defendeu o seu trabalho, afirmando que “terminou o mito do SNS ser um buraco sem fundo" e revelando que vai voltar para o Parlamento, como deputada, e manter-se ativa politicamente, numa posição de discórdia com a sua exoneração.
  • Esta quinta-feira começou ainda com notícias vindas de todo o país de escolas que não conseguiram evitar ajuntamentos de alunos à entrada, mesmo que dentro de portas tudo estivesse devidamento regulamentado, mostrando a ineficência das medidas extra tomadas num momento chave de regresso às aulas e de férias de milhares de pessoas.
  • Já pela hora de almoço surgiu o boletim epidemiológico das últimas 24 horas que assinalava 770 novos casos e mais 10 óbitos. O número de casos é o mais alto desde 16 de abril, quando foram registados 750. Quanto às mortes este é o número mais elevado desde 03 de julho, dia em que foram registadas 11 mortes em Portugal por Covid-19.
  • À hora em que escrevo este texto, e sem confirmação oficial, dá-se conta de que o jogo entre Sporting CP e Gil Vicente a contar para a primeira jornada do campeonato não irá acontecer devido ao número elevado de casos entre as duas equipas.
  • Por último, e como depois de tudo isto nada pode ficar igual, António Costa convocou com caráter de urgência, para sexta-feira, em São Bento, uma reunião do gabinete de crise para o acompanhamento da evolução da covid-19 em Portugal.

Em tempos de contingência, em que pouco mudou relativamente ao passado recente, numa altura em que os números de novos casos detetados dispararam, parece que é necessário fazer uma análise ao país tal como fizemos quando as coisas estavam a correr. O milagre português não passou a desastre, mas neste momento está enterrado pelo caos das últimas 24 horas.

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