Da chegada da equipa alemã ao novo coordenador da 'task force' da vacinação

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

Durante a manhã de hoje, os olhos do país estiveram postos no aeroporto de Figo Maduro. Às 14h10, aterrou um avião na pista. Lá dentro, além da equipa médica alemã constituída por 26 profissionais de saúde — entre os quais seis médicos —, vinham também 40 ventiladores móveis e 10 estacionários, 150 bombas de infusão e outras tantas camas hospitalares.

A ajuda médica alemã vem dar apoio ao sistema de saúde português face à pressão provocada pela pandemia de covid-19, mais concretamente na área de Lisboa, estando a equipa destacada para o Hospital da Luz. Por isso, e em jeito de agradecimento, os profissionais de saúde foram recebidos pelos ministros da Defesa, João Gomes Cravinho, e da Saúde, Marta Temido.

Se a chegada dos alemães estava prevista, o decorrer do dia mostrou uma saída de um cargo e a consequente substituição.

Esta tarde, o coordenador da 'task force' para o Plano de Vacinação contra a covid-19 em Portugal, Francisco Ramos, demitiu-se das suas funções. Em comunicado, o Ministério esclareceu que a demissão decorre de "irregularidades detetadas pelo próprio no processo de seleção de profissionais de saúde no Hospital da Cruz Vermelha Portuguesa, do qual é presidente da comissão executiva".

Em causa estão, mais especificamente, irregularidades relativas ao processo de seleção para vacinação de profissionais de saúde daquele hospital — e já admitidas pela instituição.

Sabida a demissão, as reações foram surgindo:

  • O presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Francisco George, assegurou que a instituição não está ligada à gestão do hospital, cuja comissão executiva é presidida por Francisco Ramos. Questionado se ficava surpreendido com a denúncia feita por Francisco Ramos de irregularidades no processo de seleção para vacinação de profissionais de saúde do Hospital da Cruz Vermelha contra a covid-19, Francisco George recusou fazer comentários, mas saiu em defesa do ex-coordenador da ‘taskforce’, de quem disse ser "amigo pessoal há muitos anos".
  • A bastonária da Ordem dos Enfermeiros afirmou que a vacinação indevida contra a covid-19 "não é culpa de uma só pessoa", ao comentar a demissão de Francisco Ramos. Considerando que na vacinação houve "uma tremenda falta de fiscalização, a que o governo não se pode alhear", Ana Rita Cavaco reiterou que "não se pode culpar apenas o coordenador” da ‘task force’.
  • A Iniciativa Liberal defendeu que Francisco Ramos "já sai tarde" da coordenação da ‘task force’, considerando que a "incompetência e desfaçatez já deviam ter tido consequências". "Não conseguir definir e controlar os critérios de vacinação no próprio Hospital a que preside é só mais uma evidência da sua desadequação ao cargo. Fica, aliás, por saber se tal fracasso não justifica, também, o seu afastamento do Hospital da Cruz Vermelha", foi referido numa posição oficial enviada à agência Lusa.
  • O líder do Chega, André Ventura, afirmou que  Francisco Ramos "poupou-se à vergonha" ao demitir-se e pediu ao governo socialista que nomeasse um substituto não pelo cartão de militante, mas pela competência.
  • A deputada do PAN, Bebiana Cunha, considerou que a justificação apresentada por Francisco Ramos para a demissão merece "um cabal esclarecimento por parte do governo" e mostrou-se preocupada também com "as alegadas irregularidades que têm acontecido um pouco por todo o país".
  • O líder do PSD, Rui Riu, defendeu a nomeação de um militar para coordenar a ‘task force’. "O dr. Francisco Ramos é da área da saúde, mas nós aqui precisamos de pessoas da área da logística, que tenham capacidade de planear uma distribuição em grande escala", insistiu.
  • Também o CDS-PP manifestou "estranheza" pelos motivos alegados por Francisco Ramos para a sua demissão, e propôs que as Forças Armadas ficassem responsáveis pelo processo.
  • O PCP defendeu que a demissão do coordenador da 'task force' não deve constituir "um obstáculo" e salientou que "os abusos" na administração de vacinas devem ser penalizados.
  • O BE considerou que, além dos esclarecimentos sobre a demissão de Francisco Ramos, é necessário garantir que a vacinação contra a covid-19 continua, com critérios claros e penalização para qualquer abuso, pedindo maior rapidez no processo.

Feitas as críticas e pedidos esclarecimentos, aguardava-se o desenvolvimento da situação. Quem ficaria incumbido de levar para a frente o processo de vacinação, luz ao fundo do túnel no combate à pandemia? A resposta surgiu ao início da noite, por parte dos ministérios da Saúde e da Defesa Nacional: Henrique Gouveia e Melo é o novo coordenador da 'task force' para o plano de vacinação contra a covid-19.

Em breves declarações aos jornalistas, o vice-almirante referiu uma forma de agir "silenciosa" — ou não estivesse habituado à vertente "submarinista" da Marinha —, mas deixou claro que há trabalho a ser feito.

"Há muita coisa para fazer, a lista é sempre grande. Imaginem o que é vacinar, de grosso modo, uma população por duas vezes de 10 milhões de habitantes", referiu Henrique Gouveia e Melo, realçando que "as Forças Armadas apoiam o processo de vacinação e o Ministério da Saúde", sem assumir "um controlo específico".

Sobre as denúncias de vacinações indevidas, o novo coordenador referiu que "o processo em si é lamentável", uma vez que "bastava haver um desvio que fosse que é lamentável".

Feitas as mudanças, amanhã é um novo dia — e o início das funções no cargo.

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