O arco-íris que põe em confronto o futebol e a política

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

Amanhã, quarta-feira, a bola rola em Munique, num jogo do Euro2020 entre a Alemanha e a Hungria. Mas não é só sobre futebol que se fazem as histórias deste europeu.

Para o dia do embate, o município presidido por Dieter Reiter pretendia iluminar a Allianz Arena com as cores do arco-íris, símbolo associado à comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero), bem como hastear bandeiras multicoloridas no recinto — tudo para protestar contra uma lei húngara que proíbe a divulgação de conteúdos sobre orientação sexual a menores de 18 anos.

Todavia, a ideia não foi bem recebida pela UEFA, que veio rejeitar o projeto da cidade de Munique. "Pelos seus estatutos, a UEFA é uma organização política e religiosamente neutra", reiterou o organismo que rege o futebol europeu, em comunicado.

"Dado o contexto político deste pedido – uma mensagem que visa uma decisão tomada pelo parlamento nacional húngaro –, a UEFA deve recusá-lo", rematou o organismo presidido pelo esloveno Aleksander Ceferin.

A UEFA referiu ainda acreditar que "a discriminação só pode ser combatida em estreita colaboração com os outros", propondo que a cidade bávara ilumine o estádio com estas cores no dia 28 de junho, dia da parada do Christopher Street Day, ou entre 3 e 8 de julho, na chamada semana do Orgulho em Munique.

Por sua vez, a Hungria veio apoiar a decisão. "Graças a Deus, os dirigentes do futebol europeu deram mostras de bom senso (...) ao não participarem no que teria sido uma provocação política contra a Hungria", reagiu o ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Péter Szijjártó.

Todavia, Munique não cruzou os braços após a proibição de iluminar o estádio com as cores arco-íris. Em alternativa, o município informou que vai decorar vários edifícios de cidade — e até junto ao estádio —, classificando a decisão como um sinal claro "à Hungria e ao mundo" contra a discriminação das minorias sexuais.

Neste sentido, Dieter Reiter considerou mesmo "vergonhoso" que a UEFA tenha proibido a cidade de "enviar um sinal de cosmopolitismo, tolerância, respeito e solidariedade para com as pessoas da comunidade LGBT".

Ao longo do dia, vários foram os países que se manifestaram quanto à questão da legislação húngara: 13 países da União Europeia instaram a Comissão Europeia a "utilizar todos os instrumentos à sua disposição para garantir o pleno respeito do direito europeu".

Redigido por iniciativa da Bélgica, o texto foi assinado por mais 12 Estados-membros: Holanda, Luxemburgo, França, Alemanha, Irlanda, Espanha, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Estónia, Letónia e Lituânia.

Assim, Portugal não consta entre os países subscritores do documento. Ana Paula Zacarias, secretária de Estado dos Assuntos Europeus, já justificou a posição portuguesa.

"Não assinei o documento porque assumimos atualmente a presidência e temos um dever de neutralidade. Estava a decorrer ao mesmo tempo o debate no Conselho [os Estados-membros debateram hoje o respeito pelo Estado de direito na Hungria e na Polónia], e nós temos o papel de ‘mediador honesto’ que tem um preço: o preço é o de que não pudemos assinar o documento hoje", afirmou.

Ao SAPO24, fonte da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia disse também que "enquanto Presidência rotativa do Conselho (e seguindo uma prática habitual na UE), Portugal não se associa a declarações de grupos de Estados-membros, uma vez que lhe compete exprimir a posição comum do Conselho".

Até ao apito inicial do jogo, certamente vão ser muitas as opiniões sobre este tema, como esta — A UEFA prefere trevas a luzes — escrita por Manuel Cardoso e publicada no SAPO24. E muitas vão ser também as posições por parte de entidades, como já foi o caso da ILGA Portugal, que "lamenta a decisão da UEFA" e considera "que este seria um gesto simbólico mas de cariz macro no que toca ao posicionamento pró-direitos LGBTI por parte das associações europeias de futebol".

Com a polémica em curso, a única certeza é que o estádio continua com as suas luzes habituais, mas ao redor prevalece o arco-íris, num gesto que ultrapassa o confronto futebolístico que se espera.

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