A liberdade passou por aqui

Rita Sousa Vieira
Rita Sousa Vieira

Vivemos mais dias em democracia do que em ditadura. 48 anos depois, estas são as primeiras comemorações do 25 de Abril onde esta é a realidade.

Se milhares de pessoas saíram hoje à rua, em Lisboa e em tantas outras cidades e vilas, pela primeira vez desde 2019 sem máscaras ou distanciamento, também no Parlamento esse foi o cenário. António Costa foi uma das poucas exceções. O primeiro-ministro afirmou, depois, que continuará a “tomar cautela e caldo de galinha”, usando a máscara em espaço fechados para se proteger da covid-19, e avisou que o vírus continua a andar por aí.

As Forças Armadas estiveram no centro do discurso do Presidente da República na sessão solene. Se há um ano nesta data histórica Marcelo Rebelo de Sousa centrou o seu discurso na memória do passado colonial, hoje dedicou hoje a sua intervenção às Forças Armadas, pedindo que lhes sejam atribuídos mais meios.

Marcelo Rebelo de Sousa, que é também Comandante Supremo das Forças Armadas, pediu que se atue agora, advertindo: "Se não quisermos criar essas condições, não nos poderemos queixar de um dia descubramos que estamos a exigir missões difíceis de cumprir por falta de recursos, porque, se o não fizermos a tempo, outros o exigirão por nós, e depois não nos queixemos de frustrações, desilusões, contestações ou afastamentos".

No final da sessão, nos Passos Perdidos, quase todos os partidos realçaram a escolha do tema por parte do Presidente da República e concordaram com o reforço dos meios para a Defesa dado o contexto atual.

Já Augusto Santos Silva, na sua primeira intervenção como Presidente da Assembleia da República, trouxe o tema da emigração. 

“Em tempos de fechamento e ódio, a abertura aos outros de um país como Portugal, onde vivem atualmente cidadãos de quase todas as nacionalidades sem que isso constitua qualquer problema (...) é um bem precioso que se deve acarinhar”.

Augusto Santos Silva defendeu ainda que se deve às comunidades emigrantes o reconhecimento internacional de Portugal “como país pacífico, seguro, humanista e cosmopolita”.

“Sendo mais de cinco milhões e residindo em mais de 180 países, a influência que assim projetam os portugueses e lusodescendentes é verdadeiramente global", acrescentou.

O ensino público, os direitos das mulheres, os 'bastidores da democracia' e a Guerra na Ucrânia foram outros dos temas que marcaram a manhã, nas intervenções dos partidos com representação parlamentar:

  •  Rui Tavares (Livre) enalteceu o acesso ao ensino público para todos como uma das maiores conquistas de Abril;
  •  Inês Sousa Real (deputada única do PAN ) defendeu que é preciso tornar efetiva a emancipação das mulheres, salientando que "Abril ainda não tem rosto de mulher";
  • José Soeiro (BE) começou a sua intervenção descrevendo o trabalho de "centenas de pessoas nos bastidores da democracia" e afirmou que a revolução “não é um património a ser velado com zelo, mas um legado para iluminar as contradições do presente”, considerando que quase 50 anos depois falta ainda “quase tudo” a Portugal;
  • Paula Santos (PCP) insurgiu-se contra a “imposição do pensamento único” e a “hostilização de quem livremente emite uma opinião divergente”;
  • Bernardo Blanco (Iniciativa Liberal) lembrou a guerra na Ucrânia para evidenciar que “a democracia é difícil de conquistar mas fácil de perder”;
  • André Ventura (Chega) pediu ao Presidente da República para não condecorar "aqueles que torturaram, mataram e expropriaram", sem especificar a quem se referia;
  • Rui Rio (PSD) considerou que a solução para travar o crescimento dos extremismos não passa por "absurdos cordões sanitários”, mas por “ter o rasgo de fazer diferente” e exigiu reformas “sem cobardia nem hipocrisia”;
  • Pedro Delgado Alves (PS) evocou a ação de Jorge Sampaio na resistência à ditadura e como construtor da democracia pluralista e pediu atenção aos cidadãos instrumentalizados pelo populismo.

A cerimónia ficou também marcada por uma interrupção de alguns minutos, na sequência de um desmaio de um funcionário da Assembleia da República.

No final da sessão solene, foi cantada a “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, momento no qual toda a bancada do Chega abandonou o hemiciclo.

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