O laureado com o Nobel da Física em 2018 falou hoje no Pavilhão do Conhecimento para uma plateia composta maioritariamente por estudantes do ensino secundário, apontando as possibilidades na medicina, combate à poluição radioativa e até à limpeza do lixo deixado por décadas de máquinas e satélites colocadas na órbita terrestre.

Mourou aperfeiçoou nos anos 80, com a canadiana Donna Strickland - também premiada com o Nobel da Física em 2018, a técnica CPA, que permite concentrar um raio laser até ao ponto de exercer uma pressão tão forte numa área tão pequena que seria equivalente a equilibrar "10 milhões de torres Eiffel na ponta de um dedo".

Antecipando perguntas da audiência sobre o potencial militar de lasers amplificados, o francês indicou a abrir a conferência que esta tecnologia "não seria útil para destruir coisas", justamente porque é tão precisa e a energia é produzida "num período de tempo tão extremamente curto" que não dá tempo de aquecer o material e destruir o que está à volta do ponto de impacto.

É por isso que a tecnologia veio revolucionar as cirurgias oftalmológicas, "que permitiram a 24 milhões de pessoas recuperarem a visão".

Gérard Mourou lembrou que foi em 1960 que o físico americano Ted Maiman conseguiu pela primeira vez emitir "luz coerente" e que sessenta anos depois, os lasers atuais são um milhão de vezes mais poderosos.

O processo envolve a emissão de uma onda ultracurta que é, através do uso de difratores, alargada para reduzir a intensidade máxima da onda. Isso permite que a onda seja filtrada por um amplificador e depois comprimida, o que aumenta muito a sua intensidade.

"É capaz de cortar material sem o danificar por ser um período tão curto", tornando o laser tão eficaz e preciso que tem aplicação na medicina, seja para apontar a um tumor sem danificar o tecido saudável ou aplicar radioterapia sobre um cancro ao nível molecular.

Outra das aplicações da tecnologia, a que Mourou elege como a mais importante, será o combate ao lixo radioativo que resulta da produção de energia. Atingir os núcleos radioativos com lasers faz com que se desagreguem (processo de fissão), reduzindo drasticamente a sua longevidade de milhões de anos.

Referindo-se às "28 mil toneladas" de lixo e sucata que giram na órbita terrestre devido à exploração espacial e lançamento de satélites, afirmou que lasers amplificados poderão ser apontados aos pedaços mais pequenos - por exemplo, do tamanho de um parafuso", fazendo-os desacelerar e possibilitando que caiam na atmosfera e se desintegrem inofensivamente.