A astrofísica Joana S. Oliveira faz parte da equipa científica da missão BepiColombo da Agência Espacial Europeia (ESA) e a empresa Efacec construiu um equipamento eletrónico que irá monitorizar a radiação espacial durante a viagem e a operação de um dos satélites.
A missão, conjunta da ESA e da agência espacial japonesa JAXA, integra duas sondas, cujo lançamento está previsto para as 02:45 (hora de Lisboa) da base de Kourou, na Guiana Francesa, a bordo de um foguetão Ariane 5.
As sondas só vão estar a orbitar o planeta sete anos após o seu lançamento. Uma, da ESA, vai estudar a superfície, o interior e a camada mais externa da atmosfera (exosfera) de Mercúrio. A outra, da JAXA, vai analisar a magnetosfera (região a maior altitude que envolve o planeta).
Justificando à Lusa a relevância da missão, a investigadora Joana S. Oliveira disse que "Mercúrio é uma peça do 'puzzle' muito importante para perceber a evolução do Sistema Solar", uma vez que é o único planeta rochoso, além da Terra, que "possui um campo magnético global com origem num mecanismo de dínamo no núcleo líquido".
Para se compreender como vai evoluir o campo magnético da Terra, que protege o planeta da radiação solar intensa, é necessário "perceber como funciona o mecanismo que produz o campo magnético nos diferentes planetas", adiantou.
De acordo com a cientista portuguesa, há questões que ficaram por responder com a sonda MESSENGER da agência espacial norte-americana NASA, que esteve em órbita de Mercúrio durante quatro anos, entre 2011 e 2015.
Joana S. Oliveira salientou que "não foram feitas medições do campo magnético no hemisfério sul do planeta devido à órbita excêntrica da sonda", que tinha de se distanciar de Mercúrio para arrefecer e "manter uma temperatura funcional".
Também por causa da órbita da MESSENGER, o campo magnético das rochas de Mercúrio só foi mapeado "numa banda de latitude muito pequena".
A missão BepiColombo, assim designada em homenagem ao matemático e engenheiro italiano Giuseppe (Bepi) Colombo (1920-1984) que se debruçou sobre Mercúrio, irá recolher dados durante um ano, prazo que poderá ser estendido por mais 12 meses.
Durante a viagem, as sondas vão aproximar-se da Terra e de Vénus antes de passarem seis vezes por Mercúrio e ficarem a girar em torno dele.
A sonda da ESA tem incorporado um equipamento eletrónico fabricado e testado pela Efacec "capaz de detetar o impacto de partículas energéticas como protões e eletrões", explicou à Lusa João Costa Pinto, da direção de projetos para o Espaço da empresa, acrescentando que o engenho distingue as partículas e determina "a gama de energias em que se encontram".
O equipamento, que monitoriza a radiação espacial ao medir a quantidade de partículas energéticas geradas pelo Sol, permite tomar medidas como "desligar aparelhos mais sensíveis durante os períodos de maior atividade solar" e evitar que se estraguem.
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