É oficial: o Vimeo já é uma empresa cotada na Bolsa de Valores de Nova Iorque. Para muitos, esta plataforma era vista como uma parente pobre do YouTube, mas a empresa, fundada há 16 anos, teve um boom de crescimento, precisamente, quando deixou de tentar competir com gigantes como o YouTube ou a Netflix e passou a apostar as suas fichas em terrenos mais férteis, ou seja, mais úteis para o consumidor.
Como tudo começou
O Vimeo foi fundado em 2004 pelas mãos dos empreendedores Zach Klein e Jake Lodwick. À época, era um projeto fruto da Connected Ventures, empresa-mãe da CollegeHumor(um site de entretenimento nascido no final da década de 90) e servia para partilhar pequenos vídeos entre amigos. A ideia para a criação deste side project não deixa de ser curiosa, uma vez que surgiu depois de um vídeo da College Humor se tornar viral. Este vídeo era, nada mais, nada menos, do que o famoso momento do programa Saturday Night Live, quando a cantora Ashlee Simpson falhou na tentativa de fazer um playback que passasse despercebido e acabou por fazer uma dança que tornou o momento ainda mais constrangedor.
O nome Vimeo surgiu como um torcadilho entre as palavras vídeo e eu (em inglês, me). Durante os anos seguintes viria a crescer apenas entre uma pequena comunidade, até que, em 2006, a Connected Ventures (que já tinha cerca de 6 milhões de visitantes por mês) foi comprada pela IAC por 30 milhões de dólares (24,6 milhões de euros). Este casamento foi, de um modo geral, vantajoso.
Mas havia um problema: na mesma altura, a Google comprava o YouTube, por 1,65 mil milhões de dólares (1,35 mil milhões de euros). Foi neste contexto que, para se diferenciar da maior plataforma de vídeo que hoje conhecemos e de outras que foram surgindo, o Vimeo começou a apostar na qualidade: melhores ferramentas ao nível da tecnologia e da própria curadoria da plataforma. Digamos que se tornou numa versão indie do Youtube.
No entanto, a situação não melhorou. O mercado, simplesmente, era demasiado pequeno. Por este motivo, o Vimeo começou a investir em conteúdo original, como forma de estimular eventuais novos utilizadores. Mas Anjali Sud, na altura diretora de marketing, não concordou. Em vez disso, em 2017, a empreendedora sugeriu criar um software de vídeo para empresas que atendia às necessidades dos criadores de vídeo. Esta proposta valeu-lhe o cargo de CEO. (Nota: nesta altura os fundadores originais do Vimeo já se tinham afastado da empresa há quase 10 anos, por incompatibilidades com a IAC.)
Este foi o período em que se tornou mais parecida com aquilo que hoje conhecemos. Foi deste modo que, de há 4 anos para cá, o Vimeo veio a desenvolver um conjunto de ferramentas com várias opções de produção para diferentes propósitos, tais como: lojas familiares, pequenos criadores de conteúdo e empresas com negócios mais robustos. Todos estes utilizadores tinham uma coisa em comum: queriam criar vídeos de qualidade de forma simples.
A empresa abandonou a ideia de querer ser tão “pop” quanto os seus concorrentes e apostou no desenvolvimento de um SaaS (Software as a Service), um serviço que disponibiliza ferramentas que facilitam a produção e distribuição de conteúdo em vídeo para criadores. Ao The Verge, Anjali Sud afirmou que o modelo do Vimeo se tornou “mais parecido com o do Slack ou da Dropbox, mas para vídeo”.
SaaS foi uma aposta ganha
Hoje, a Vimeo é uma empresa bem mais dinâmica. Lutou para se fazer valer no meio do mercado de massas dominado pelas big tech e ultrapassou uma espécie de crise de identidade, contando agora com cerca de 200 milhões utilizadores (1,6 milhões a pagar).
No quarto trimestre de 2020, o Vimeo gerou cerca de 83,8 milhões de dólares (68,7 milhões de euros) em receitas. No primeiro trimestre deste ano, a empresa americana teve 89,4 milhões de dólares (73,3 milhões de euros) em vendas, um crescimento de 57% em comparação com o mesmo período do ano passado, que dá a entender que continua num bom caminho para deixar de ser o patinho feio das plataformas de vídeo.
No entanto, importa referir que, à semelhança de muito negócios tecnológicos, um dos principais motivos pelos quais a plataforma cresceu foi a propagação da COVID-19, que potenciou muitos criadores de conteúdo que passaram a ter tempo para produzir, uma vez que estavam fechados em quatro paredes. Esta tendência não foi notória apenas entre os utilizadores do Vimeo. Veja-se também, por exemplo, a popularidade que ganhou o TikTok quando as coreografias e desafios estranhos se tornaram o entretenimento que todos procurávamos, principalmente as gerações mais jovens.
É por esta razão que, apesar dos bons números, nos próximos meses este crescimento deve abrandar, à medida que as vacinas vão permitindo que o mundo volte, pouco a pouco, a ser o mais parecido possível com o que era antes de 2020. Em abril deste ano, o número de assinantes cresceu em 21% e a receita média por assinante cresceu 19%, valores que simbolizam uma desaceleração, comparativamente ao panorama dos meses anteriores.
Como irá o Vimeo manobrar o barco, agora que já não tem a IAC (holding da qual se tornou uma spin-off) na retaguarda? Por agora, sabemos que o Vimeo está numa boa posição, funcionando mais como um provedor de software do que como uma simples plataforma onde podemos colocar vídeos. Desde que entrou a Bolsa, o preço das suas ações cresceu de 43 para 45 dólares, passando a empresa a valer 7.5 mil milhões de dólares.
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