São mais de 600 as séries (ou novas temporadas) e mais de 300 os filmes que estrearam em 2022, o que torna a tarefa de escolher 24 bastante desafiante. Não só porque gostos variam no seio da equipa Acho Que Vais Gostar Disto, mas também porque é sempre difícil deixar de fora uma série ou um filme que achamos que as pessoas deviam prestar atenção. Esta lista é o resultado de um compromisso daquilo que foram as largas horas que passámos em plataformas de streaming e em salas de cinema (um número significativo inferior), e outras tantas num estúdio a gravar o nosso podcast.

Em algumas das sugestões estão links para alguns episódios, onde poderá ficar a conhecer em melhor detalhe cada conteúdo e a nossa opinião sobre o mesmo.

1. Andor (Disney+)

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Qualquer fã de Star Wars está bem familiarizado com o poder da esperança. Ele tanto está presente na própria história através da Força, como na capacidade do universo de devolver conteúdo de qualidade, quando a fasquia parece ter baixado consideravelmente. Depois das prequelas menos conseguidas, foi na animação que o universo ganhou uma nova dimensão principalmente através de “The Clone Wars”. Foi esse mundo e esse contexto que trouxe uma série de novas personagens e ideias que agora estão a ser utilizadas na era do streaming. Após mais uma trilogia, nem sempre bem conseguida, foi nas séries que os fãs da galáxia voltaram a encontrar alento com “The Mandalorian”, “The Book of Bobba Fett”, “Obi-Wan Kenobi” e agora com “Andor”. 

Mas esta última tem uma diferença fundamental: foca-se no comum mortal, que olha para o Império (no período entre o EP III e o EP IV) e sente uma impotência gigante face ao que está a acontecer. Não há Força, não há lightsabers, não há mestres Jedi mentores. Existe apenas um instinto de sobrevivência que vai dar início à revolução que nos é apresentada na trilogia original. Cassian Andor (um incrível Diego Luna) apareceu pela primeira vez em “Rogue One” como um dos líderes dos Rebeldes, no entanto na série (que decorre cinco anos antes do filme) é um mero mercenário, de esquema em esquema, a escapar à opressão. É através dele e das personagens que o rodeiam, que vemos a história mais crua e mais adulta do universo Star Wars, que nos leva numa aventura que já tem uma segunda temporada garantida.

2. The Bear (Disney+) 

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Todos os anos, há sempre este tipo de série: nos meses que antecedem o seu lançamento, ninguém presta muita atenção ao trailer, mas quando é lançada numa plataforma e as primeiras pessoas começam a prestar-lhe atenção, torna-se um fenómeno da Internet pelas melhores razões possíveis. No ano passado, isto aconteceu com “The White Lotus”. Este ano, foi a vez de “The Bear”. O fascínio por cozinhas caóticas não é novo e que o diga qualquer pessoa que já viu Gordon Ramsay na televisão a ralhar com um conjunto de chefs que não sabe muito bem o que fazer à sua vida.

Mas série protagonizada por Jeremy Allen White (“Shameless”) é muito mais que isso. Ele é o The Bear, a alcunha dada a Carmen Berzatto, um chef Michelin que se vê na posição de gerir a loja de sandes do irmão, depois de este falecer. Há gritaria da boa, há colegas de cozinhas que não se podem ver há frente e há claro marmitas que convencem à primeira vista, mesmo que não tenhamos qualquer informação extra sobre as mesmas. Contudo, o que mais impressiona em "The Bear" são os pequenos traumas escondidos que aparentemente toda a gente na cozinha tem medo de falar e que acabam por transparecer na comida que é feita e na relação entre as personagens. Para o bem e para o mal.

3. Welcome to Wrexham (Disney+) 

Para fechar a ronda da Disney, um documentário que nos encheu o coração e que nos deu vontade de comprar um clube de futebol das distritais e ajudá-lo a crescer. A minha tarefa seria ligeiramente mais complicada porque (ainda) não possuo a fortuna de Ryan Reynolds aka Deadpool e de Rob McElhenny (“Always Sunny in Philadelphia”). Em 2020, os dois atores juntaram-se na compra de um clube do País de Gales da quinta divisão inglesa chamado Wrexham FC. Porquê? Nem eles sabem bem, mas a verdade é que a decisão tornou-se numa máquina de produzir conteúdo e levou a que milhões de fãs no mundo inteiro passassem a acompanhar a temporada da equipa que joga numa cidade industrial em crise, com pouco mais de 65 mil pessoas.

Ver “Welcome to Wrexham” é ter uma janela para a personalidade de Reynolds e McElhenney e passar pela experiência estranha de passar a torcer por um clube que não nos diz nada. Isto porque apesar de a série documental ser muito sobre o processo de duas pessoas de Hollywood (um americano e um canadiano) gerirem um clube ligado a um desporto sobre o qual sabem muito pouco, é também sobre a história e as pessoas que compõem o Wrexham FC, desde os adeptos aos jogadores. Numa indústria que parece caminha para uma realidade onde o dinheiro de oligarcas é que faz a diferença, ao longo de 18 episódios, foi bom ter um exemplo onde ainda é o dinheiro a falar, mas as pessoas por detrás do mesmo inspiram um pouco mais de confiança.

4. Peacemaker (HBO Max) 

Durante vários anos, ver John Cena na televisão era sinónimo de uma de duas coisas: 1) estávamos a ver wrestling na SIC Radical e observávamos o lutador a entrar no ringue com a melhor intro, a fazer moves incríveis como “FU”  ou a dizer “You Can’t See Me” aos rivais; 2) apanhámos o ator John Cena naqueles filmes de qualidade muito fraquinha onde não há uma grande preocupação com a história, mas sim em colocar wrestlers a atravessar paredes. E, durante muito tempo, esta foi a vida de John Cena. Por um lado, uma das caras mais carismáticas da WWE (se não a principal). Por outro, uma celebridade destinada a receber muito dinheiro para fazer filmes medíocres (como um tal de The Rock).

É talvez, por isso, que “Peacemaker” é uma série tão surpreendente pela positiva, começando com um genérico incrível que parece que foi pensado para nos impedir de fazer “skip”. A personagem do universo de super-heróis da DC apareceu pela primeira vez em “Suicide Squad” (a versão boa de James Gunn) e mostrou logo um John Cena que nos fazia esquecer de tudo o que tinha feito para trás e a trazer uma identidade muito própria a este anti-herói, com a mistura certa de humor e tensão. A série da HBO Max, também a cargo de Gunn, que chegou até nós no início da temporada, descasca ainda mais esta figura que ao salvar o mundo, entre a brutalidade e a vontade de ser melhor pessoa no dia-a-dia, acaba provavelmente por ter vários paralelismos com o próprio John Cena. Se calhar é por isso que tudo resulta tão bem e que mostra que há um caminho para a DC rivalizar com a Marvel no pequeno ecrã. 

5. Borgen - Poder e Glória (Netflix) 

Quando estreou em 2010, “Borgen” tornou-se num sucesso não só nos países nórdicos, como no mundo inteiro, através dos diferentes canais que correram a garantir os direitos de transmissão da série dinamarquesa. Porquê? Porque aparentemente a história ficcional da primeira mulher a liderar o governo dinamarquês, onde é obrigada não só a combater uma série de batalhas políticas como a gerir um contexto familiar que se vai degradando devido à sua nova função, criou algum tipo de empatia com as audiências. Mas não é só isso. Ao contrário de Frank Underwood em “House of Cards”, a primeira-ministra Birgitte Nyborg apresenta-se com os valores certos e tenta aplicar o bom senso comum aos diferentes desafios que lhe são colocados (com sortes diferentes), ao mesmo tempo que tem gerir a sua imagem pública com uma comunicação social exigente que é tão bem representada (o bom e o mau) ao longo das três temporadas originais da série.

Depois de um hiato de 10 anos, “Borgen” regressou ao pequeno ecrã com um reboot na Netflix, que pega na personagem de Birgitte agora como ministra dos Negócios Estrangeiros, em que a dinâmica é muito semelhante à série original, mas o mundo e os valores que Birgitte privilegia já não são necessariamente os mesmos. As disputas políticas estão lá, há um foco muito forte nas implicações das alterações climáticas e os media, agora com as redes sociais, desempenham um papel ainda mais importante. Uma das boas prendas de 2022.

6. The Batman (HBO Max)

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Quando Christian Bale e Christopher Nolan largaram o manto de “Batman” em 2011, era difícil imaginar que alguém pudesse voltar a pegar na personagem de uma forma tão boa nas décadas seguintes. Ben Affleck e Zack Snyder deram o seu melhor para cinco anos mais tarde fazerem justiça ao herói da DC, mas o resultado final nos dois filmes em que trabalharam em conjunto (“Batman vs Superman” em 2016 e “Justice League” em 2017) não gerou consenso entre os fãs. Affleck não foi horrível, mas os filmes como um todo deixaram algo a desejar. Passados mais cinco anos, surgiu uma nova dupla para enfrentar a difícil missão: Matt Reeves e Robert Pattinson. Um com experiência no mundo do sci-fi, o outro com uma série de incríveis papéis que nos fizeram esquecer o vampiro que lhe deu fama na saga “Twilight”. 

E o melhor elogio que se pode fazer a “The Batman” é que, nas suas 3 horas de duração, nos faz esquecer de Bale e Nolan. A abordagem à história posicionando Batman mais como um detetive e menos como um herói de ação sempre em modo combate permite criar uma narrativa diferente. No filme, Pattinson passa mais tempo como Batman do que Bruce Wayne porque o foco não está tanto na clássica dicotomia entre as duas facetas da personagem, mas sim na investigação de um conjunto de crimes e nas relações que o homem-morcego tem com personagem já conhecidas do universo da DC como o Detetive Gordon, o interesse amoroso Selina Kyle e mesmo o arqui-inimigo Penguin. O tom mais escuro continua lá e a ação também, com uma ajuda de uma banda sonora onde Kurt Cobain e os Nirvana dão um brilho especial. Aguardamos pelo anúncio de uma sequela.

7. Minx (HBO Max)

Uma boa surpresa que passou despercebida para muitos! Em 10 episódios, conta a história da união entre um editor de uma revista pornográfica e uma ativista pelos direitos das mulheres, em Los Angeles, nos anos 70. Ambos irreverentes e com vontade de marcar a diferença, juntam forças com diferentes interesses. Ele quer vender revistas e sobreviver à crise que afeta as revistas pornográficas devido ao puritanismo. Ela vê aqui uma oportunidade para ver os seus textos publicados, para que cada vez mais mulheres percebam o seu poder, tanto na intimidade como na sociedade. É feminismo, emancipação feminina e descoberta sexual à mistura com muita comédia e personagens com pouca roupa. 

Quem dá vida à dupla de protagonistas são os atores Ophelia Lovibond (que entrou em “Guardians of the Galaxy” e “Elementary”) e Jake Johnson (para muitos, o Nick de “New Girl”). A série chegou à HBO Max em março deste ano e, pouco depois de ter estreado, foi confirmada a sua segunda temporada, ainda sem data de estreia

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8. Enola Holmes 2 (Netflix)

Já em 2020, quando o primeiro filme de “Enola Holmes” chegou à Netflix, fez sucesso. Millie Bobby Brown vestiu a pele de irmã mais nova do conhecido investigador Sherlock Holmes e conquistou-nos o coração com um papel de adolescente irreverente numa fase de autodescoberta. Dois anos depois, regressa um pouco mais madura e desta vez também ela investigadora profissional, mas sempre na sombra do irmão.

Este segundo capítulo da história, que tem como base a série de livros de Nancy Springer, é particularmente especial por ter como base factos históricos. Desta vez, Enola Holmes investiga o desaparecimento misterioso de uma rapariga que trabalha numa fábrica de fósforos. Entre más condições de trabalho e esquemas ilegais, Enola descobre mais do que aquilo que devia e, como era de esperar, coloca a sua vida em risco. Ficção à parte, este enredo ganha ainda pela base histórica verídica. Em parte, é baseada na Matchgirls' strike, uma greve levada a cabo por um grupo de mulheres em Inglaterra em plena Revolução Industrial. 

9. Dahmer (Netflix)

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Volta e meia, a Netflix gosta de nos presentear com histórias macabras baseadas em pessoas reais e nós, o público, não conseguimos resistir. “Dahmer” foi um dos vários títulos lançados este ano e provavelmente aquele que fez mais sucesso. Recria, através de ficção, os crimes hediondos cometidos Jeffrey Dahmer nos Estados Unidos da América, entre os anos 70 e os anos 90. Esta não foi a primeira vez que a sua história foi contada, mas será certamente aquela de que nos iremos lembrar mais tempo.

Além de chocar por ser bastante gráfica, a série fez ainda sucesso pela performance brilhante de Evan Peters. Não só interpreta o criminoso na perfeição, como se de ele próprio se tratasse, como também nos faz ter empatia por um serial killer - e este tipo de feedback acabou mesmo por causar alguma controvérsia nas redes sociais. 

10. Dirty Lines (Netflix)

Nem só de estrelas internacionais e de nomes conhecidos se fazem as boas sugestões. Para quebrar as habituais séries americanas, a Netflix dá-nos regularmente vários conteúdos de outras nacionalidades que vale a pena espreitar. Um deles é a série “Dirty Lines”. Com um humor e uma atmosfera daquela a que estamos habituados, fazemos uma viagem até Amesterdão nos anos 80 para conhecer Marly, uma estudante universitária com problemas de dinheiro. 

A viver numa cidade onde se tudo transpira sexo e drogas, é obrigada a pensar em novas formas de ganhar dinheiro. Por força do acaso, acaba por investir numa área até então pouco desenvolvida: as linhas telefónicas eróticas. Vamos acompanhar as suas aventuras e as dificuldades que vão surgindo, numa série de episódios que têm muita realidade por trás: a série alemã é baseada no surgimento da Teleholding, a primeira linha telefónica erótica da Europa.

11. The Janes (HBO Max)

“Liga para este número e pergunta pela Jane”. Para a maior parte das pessoas é só uma frase sem sentido, mas para muitas mulheres foi um grito de esperança. Esta é parte da história relatada em “The Janes”, o filme documental da HBO Max sobre um coletivo feminino que, nos anos 60 e 70, deu o seu melhor para ajudar mulheres que desejavam abortar nos Estados Unidos, algo que era ilegal.

Junta imagens de arquivo e relatos muito fortes de quem teve por detrás desta rede clandestina. No final de contas, não nos podemos esquecer de que estas foram algumas das mulheres que se chegaram à frente, que se uniram umas pelas outras e que não tiveram medo de fazer frente a homens que apenas lutavam pelos seus próprios interesses. É o tipo de história que vale sempre a pena recordar! 

12. Entergalactic (Netflix)

Já todos conhecíamos os dotes de Kid Cudi para a música mas 2022 foi o ano de descobrirmos também o seu talento para o cinema. “Entergalactic” é não só o nome do seu mais recente álbum, mas também o nome do ‘especial de música’ (como é descrito na sinopse) que o acompanha. Algures entre um álbum visual e um filme com banda sonora do artista, é uma obra de animação bonita e fora do comum.

A servir de fio condutor ao longo de uma hora e meia temos uma comédia romântica que junta um aspirante a artista e a sua vizinha fotógrafa que acabou de se mudar. Uma história querida, que ganha não só pela música, como também pelo visual peculiar, e que pode abrir portas para futuras parcerias que unam a música e as nossas plataformas de streaming preferidas.

13. Pachinko (Apple TV+) 

Estreou em abril e é sem dúvida um dos melhores conteúdos que saíram durante o ano. Baseada no bestseller de Min Jin Lee e adaptada por um filho de imigrantes coreanos num longo processo que durou quatro anos, é uma daquelas minisséries que deixa a sensação de ter sido pouco discutida por cá — o que faz pensar no que podia ter sido caso saísse numa HBO ou Netflix, plataformas mais “mainstream” e acessíveis em mais casas. Em “Pachinko” (uma máquina de flippers à japonesa, que aqui funciona como metáfora para a vida, ela própria uma espécie de monta-russa diária), o espetador perde-se na belíssima fotografia deste retrato emocional e expressivo da história de todos os coreanos que foram afetados pela colonização japonesa da Coreia no séc. XX.

14. Top Gun: Maverick (Cinemas) 

É um dos melhores filmes do ano e um daqueles que nos relembrou a razão pela qual gostamos de cinema em plena era da Marvelização (e sim, sabemos que há muitas semelhanças com “Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança”). Os cenários e os aviões são reais, assim como muita da ação e do que vemos nos cockpits. Porque já sabe que Tom Cruise não faz as coisas pela metade: ou é all-in ou nada. Neste caso, o all-in permitiu lucrar em todos os sentidos. Os espetadores aderiram em massa e os críticos gostaram da magia da sequela do original de Tony Scott. Até Quentin Tarantino “adorou” aquilo que descreveu como sendo “um filme fantástico”. Mais, segundo reza a Variety, é candidato a considerar - à séria - ao Óscar para Melhor Filme.

15. Five Days at Memorial (Apple TV+) 

Esta minissérie acarreta um pesado fardo ao esmiuçar os eventos devastadores que tiveram lugar no Memorial Medical Center nos dias que se seguiram ao furacão Katrina, em 2005, quando este atingiu furiosamente Nova Orleães. Ao misturar imagens de notícias reais captadas à época, funciona um pouco como um documentário dramatizado enquanto saltamos entre os dias imediatamente a seguir ao furacão e os anos seguintes. Recomenda-se por tudo: pela produção em si - que mostra o que pode acontecer a uma comunidade quando o hospital colapsa -, pelo papel de Vera Farmiga, pelo modo como está escrita e desenrolada. Os primeiros cinco episódios relatam o que aconteceu e dão os factos, os restantes deixam o espetador julgar por si a investigação ocorrida para descobrir quem teve culpa na morte de 45 pessoas.

16. Chloe (Prime Video) 

Minissérie britânica da BBC que chegou até nós via plataforma de streaming da Amazon. Passou pelos pingos da chuva e um pouco ao lado do radar de muito boa gente. Protagonizado pela talentosa Erin Doherty (a Princesa Ana na 3.ª e 4.ª temporadas de “The Crown”, que aqui continua enigmática e super-cativante) é um thriller psicológico de seis episódios sobre solidão, amor e luto, que leva o seu tempo a desenrolar-se, mas que recompensa o espetador mais paciente com resolução de uma investigação de uma morte inesperada.

17. Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo (Cinemas) 

Como bem descreveu a Collider, tem sido espantoso ver “Everything Everywhere All at Once” passar de uma curiosidade de culto da produtora A24 (mais um sucesso!) a algo que tomou a cultura pop de assalto ao longo de 2022. Na era dos metaversos e multiversos com vidas alternativas, é difícil colocar o filme de Daniel Kwan e Daniel Scheinert num só género: será ação? Comédia? Sci-fi? Tudo? No entanto, há certezas: é inteligente, bem-humorado, original, fresco — e consta em quase todas as listas “dos melhores” do ano daqueles que ganham a vida a ver filmes e séries. Grande parte da sua força vem também da prestação da atriz principal, uma Michelle Yeoh a fazer uma interpretação que faz lembrar os tempos de “O Tigre e o Dragão”. Uma das surpresas mais inesperadas de 2022, mas certamente uma das mais agradáveis.

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18. Severance (Apple TV+) 

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Realizada por Ben Stiller (a maioria dos episódios) e escrita por Dan Erickson, é a série-sensação do ano do serviço de streaming da maçã. Ao longo da primeira temporada, tenta-se responder essencialmente a uma questão (que depois se desmultiplica): e se conseguíssemos separar a nossa vida pessoal da profissional através de consciências distintas? Independentemente dos motivos, se a tecnologia permitir separar o nosso “eu” pessoal do “eu” do trabalho, será que o fazíamos? Será que conseguíamos simplesmente esquecer oito horas do nosso dia? E, a ser possível, seria sequer ético? Onde é que encaixa aqui o nosso livre-arbítrio? Ora, o sucesso desta série passa muito pelas respostas a estas questões. Não por serem óbvias, mas precisamente pelo contrário: por serem muito difíceis de responder. 

19. The White Lotus (HBO Max)

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Embora a primeira temporada da série da HBO tenha recebido todo o tipo de prémios na cerimónia mais recente dos Emmys, a segunda ficou a dever-lhe muito pouco e deve seguir o mesmo caminho em 2023. A receita de “The White Lotus” pode parecer simples, mas não é: colocar um conjunto de personagens privilegiadas num resort de luxo imaginário e tornar a sua semana de férias algo interessante de acompanhar é tudo menos fácil. O segredo de Mike White, criador da série, é incluir uma morte mistério, isto é, dá-nos a entender que uma ou mais pessoas vão morrer no fim, sem nos dizer quem. Por isso, a experiência de cada episódio é tentar recolher pistas de contextos aparentemente banais sobre que poderá ter o destino infeliz. Na primeira temporada, enquanto não desvendámos o homicídio, tivemos a oportunidade de ver personagens a discutir, na maior parte dos casos, a dimensão e alcance do seu privilégio na forma como viam o mundo. Na segunda, o privilégio está lá, mas o tema central é mais emocional, focando-se nas diferentes dinâmicas que duas pessoas podem ter numa relação. 

P.S: a segunda temporada é capaz de despertar nas pessoas a vontade de ir à Sicília (Itália) e é natural. O Acho Que Vais Gostar Disto fez um episódio sobre o final desta segunda temporada que poderá ouvir aqui.

20. House of the Dragon (HBO Max)

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O final de Game of Thrones não agradou a todos, por isso o regresso de Westeros ao pequeno ecrã despertava tanto um sentimento de curiosidade, como um certo receio de que as expectativas deixadas pela série original pudessem não ser correspondidas. A verdade é que a ascensão, conquista e manutenção por parte dos Targaryen, quase 300 anos antes do ponto onde tínhamos ficado continua a mesma dinâmica de telenovela meets história épico de ação. Este mundo imaginado por George R.R. Martin continua capaz de lançar personagens pelas quais nos preocupamos, com todos os seus atributos e defeitos. Em “House of the Dragon” há uma família, mas existem claramente dois lados com pretensões ao poder que vão fazer de para ter o Trono de Ferro para eles. Alianças, traições, amor, luto e dragões (principalmente os dragões) são os ingredientes perfeitos para uma narrativa que ao longo de cada episódio nos envolve cada vez mais. O Acho Que Vais Gostar Disto, em parceria com a HBO Max, fez episódios de recap de cada capítulo da temporada que poderá ouvir aqui.

21. The Offer (SkyShowtime)

Para a maior parte das pessoas, a relação com a trilogia “O Padrinho” começou há 50 anos, num ecrã gigante, com um homem, depois de pedir uma reunião com Don Vito Corleone, a citar as palavras “I believe in America”. O primeiro filme é considerado um dos marcos históricos do cinema, tendo influenciado grande parte dos filmes e até de séries que foram feitas a partir daí. Tanto que o João Dinis raramente passa um episódio do podcast sem o mencionar. Contudo, quase tão interessante como o que acontece nos filmes é a história dos bastidores da produção do primeiro: inclui a adaptação arriscada de um best-seller ao cinema, esquemas da Máfia Italiana a fazer de tudo para que o filme não aconteça, egos difíceis de gerir entre atores, produtores e executivos dos estúdios, e muitos mais. “The Offer”, além de uma homenagem ao “Padrinho” é também uma pintura da realidade de Hollywood no início dos anos 70, com tudo o que tinha de bom e de mau. Miles Teller faz o papel principal de Al Ruddy, o produtor da trilogia responsável por ir apagando os diferentes “fogos” que iam surgindo. E foram muitos.

22. Winning Time (HBO Max)

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Pode uma série sobre basquetebol ser incrível? Claro. Pegamos numa das equipas mais populares do mundo (os LA Lakers) e escolhemos um período especialmente conturbado da sua história (1979). Há um extravagante novo dono (Dr. Jerry Buss) com uma visão grandiosa, um novo talento (Magic Johnson) a querer afirmar-se perante toda a gente e o melhor jogador da liga (Kareem Abdul-Jabbar) a querer cimentar a sua importância. Nesta altura, a NBA não era a liga e marca que é hoje, mas “Winning Time” permite um olhar (em parte ficcionado) sobre a construção de uma equipa e de uma organização que foi fundamental para dar esses primeiros passos. O segredo da série é ter a produção de Adam Mckay (“The Big Short”, “Don’t Look Up”), o que significa que ao longo dos episódios da série temos aquele registo que mistura o humor e a sátira com seriedade de gerir uma organização e do que acontece em campo. E que aqui resulta mesmo muito bem com um elenco onde estão Jason Segel, Adrien Brody, Sally Fields e John C. Reilly.

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23. Love is Blind 3 (Netflix)

Se a receita resulta sempre, não é preciso mudar a fórmula. Deve ser esse o pensamento dos produtores de “Love is Blind” quando imaginam o que devem fazer para uma próxima temporada do popular reality tv show da Netflix. A premissa é muito simples: provar que duas pessoas podem ficar a gostar uma da outra, afastando qualquer elemento de objetificação da sua figura. Em “Love is Blind”, os homens estão de um lado e as mulheres estão de outro e a única oportunidade que têm de se conhecer uns aos outros é através de uns cubículos separados por uma parede, onde podem falar sem ver aparências. A determinada altura, a dinâmica da relação evolui e os participantes podem finalmente decidir com quem querem casar e, caso o pedido seja aceite, terem o primeiro frente a frente e perceber como funcionam em conjunto rumo à cerimónia final. Uns têm um final feliz, outros percebem que se calhar o coração de alguém não é o suficiente e que o amor não é assim tão cego.

24. Yellowjackets (HBO Max)

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A nível de enredo, a história de “Yellowjackets” tem duas linhas temporais que vão sendo desconstruidas ao longo da série: uma no passado (período de adolescência) e outra no presente (já durante a vida adulta). Quanto ao resto, é fácil de explicar: há uma equipa de soccer feminina de uma escola secundária que vai disputar uma final importante e que para isso tem de apanhar um avião — que cai a meio da viagem, sabe-se lá onde ou porquê. O que se passa a seguir? É tal como reza a sinopse oficial: a queda do pássaro voador criado pelo homem transforma aquilo que era uma equipa de colegas adolescentes “num clã de selvagens” e dá a conhecer as vidas que elas “tentaram reconstituir quase 25 anos depois”, provando “que o passado nunca é realmente passado e que o que começou no deserto está longe de terminar”. Não obstante, é uma série que apesar de ter como protagonistas raparigas adolescentes, é pouco dada a assuntos menores; não é uma mera paixoneta, não é um mero melodrama do crescimento. É sempre mais do que isso. Todavia, é precisamente o facto de “Yellowjackets” se abrir a tantos subgéneros (romance, drama familiar, sobrevivência, terror psicológico, descoberta da sexualidade, parentalidade, etc) que faz com que muitos tivessem adorado e visto a série de um folgo.

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