Comecemos por alguns números. De entre os 13 nomeados, nove são mulheres e quatro são homens. Nove dos romances escolhidos são de autores americanos. Mais de metade são estreantes na literatura e na lista de nomeados ao prémio mais importante em língua inglesa. E três são repetentes na corrida pelo prémio.

O júri é composto pela editora e crítica literária Margaret Busby, que preside, pelo escritor Lee Child, pelo autor e crítico Sameer Rahim, pelo escritor Lemn Sissay e pela tradutora Emily Wilson. O painel escolheu os 13 nomeados de entre 162 candidatos.

De entre os nomeados, por ordem alfabética, estão Avni Doshi, Brandon Taylor, C Pam Zhang, Diane Cook, Douglas Stuart, Gabriel Krauze, Kiley Reid, Maaza Mengiste, Sophie Ward e Tsitsi Dangarembga. Para além de Hilary Mantel, também Anne Tyler e Colum McCann voltam a constar na seleção.

Conheça, um a um, o trabalho dos autores e uma sinopse dos livros nomeados

Anne Tyler (EUA) com “Redhead by The Side of The Road”

Quem é: Esteve na lista do então Man Booker Prize – agora apenas Booker Prize – em 2015, com o romance “A Spool of Blue Thread”. Nascida em em 1941, em Minneapolis, no estado do Minnesota, Estados Unidos, ganhou um Pulitzer com o romance “Breathing Lessons”, em 1989.

Qual é a história: O livro com que é nomeada este ano, “Redhead by The Side of The Road”, trata da vida de Micah Mortimer, que leva os dias a fazer recados para o emprego, enquanto mantém um regime rigoroso de corridas: todas as manhãs às 7:15 lá vai ele. Está satisfeito com a vida que leva até que um adolescente aparece à sua porta, dizendo ser seu filho. A personagem central não está preparada para lidar com as mudanças.

Redhead by The Side of The Road
Redhead by The Side of The Road

O que diz o Booker Prize: Este livro é “uma visão íntima do coração e mente de um homem, que por vezes, não tem ao seu alcance aqueles que o rodeiam – e uma história de amor sobre as diferenças que nos fazem únicos”.

Avni Doshi (EUA) com “Burnt Sugar” 

Quem é: Nasceu em Nova Jérsia, em 1982, vive agora no Dubai e tem raízes indianas. Entre as suas distinções, está o Prémio Tibor Jones South Asia, de 2013. “Burnt Sugar” é o seu primeiro romance e na Índia vai pelo nome de “Girl in White Cotton”.

Qual é a história: A história de “Burn Sugar” gira à volta de Tara, que abandona o seu casamento já sem amor para se juntar a um ashram (uma comunidade que promove a evolução espiritual). Não se despegando da juventude selvagem, passa anos a perseguir um “artista” em situação de sem-abrigo. Agora, há coisas de que se vai esquecendo. Deixa o gás ligado a noite toda. A filha, já crescida, é quem se vê com a tarefa de cuidar desta mulher que nunca cuidou da filha.

Burnt Sugar
Burnt Sugar

O que diz o Booker Prize: Trata-se de uma “história de amor e de traição. Mas não entre amantes – entre mãe e filha. Afiado como uma lâmina, e com uma sagacidade cáustica, Avni Doshi testa os limites daquilo que tomamos como certo sobre aqueles de que estamos perto, e por conseguinte, sobre nós mesmos”.

Brandon Taylor (EUA) com “Real Life”

Quem é: Editor sénior da secção “Recommended Readingdo site Electric Literature, que tem a missão de "tornar a literatura mais entusiasmante, relevante e inclusiva.”

Qual é a história: No livro, que figurou no Editor’s Choice do The New York Times, Wallace é a personagem principal. Ele passou o verão no laboratório a reproduzir uma espécie de minhocas microscópicas. O seu pai faleceu há alguns anos, mas Wallace não apareceu no funeral nem contou aos amigos sobre a morte do pai. Por razões de autopreservação, acostumou-se a manter uma distância cautelosa, mesmo dos que lhe são próximos. Mas, ao longo de um fim de semana tempestuoso no final do verão, a destruição do seu trabalho e uma série de intensos confrontos forçam Wallace a lidar com os traumas do passado e com a questão do futuro.

Real Life
Real Life

O que diz o Booker Prize: "Habilmente aprofundando e distanciando do foco, “Real Life” é uma história profundamente comovente sobre o custo emocional de considerar o desejo e superar a dor."

C Pam Zhang (EUA) com “How Much of These Hills is Gold”

Quem é: Zhang é uma estreante. Nasceu em Pequim, viveu em 13 cidades e continua à procura de um lar. Vive agora em São Francisco, no norte da Califórnia.

Qual é a história: “How Much of These Hills is Gold” conta a história da chegada dos imigrantes chino-americanos aos Estados Unidos da América, durante a Corrida do ouro (Gold Rush). É um romance sobre o conflito de dois irmãos, que carregam o corpo do recém-falecido pai, através de uma paisagem agreste. Lucy e Sam, de 12 e 11 anos, estão num reimaginado Oeste Americano e procuram um lugar para fazer um funeral apropriado ao pai, ao mesmo tempo em que se debatem com memórias, a ilusão do Sonho Americano e um com o outro.

How Much of These Hills is Gold
How Much of These Hills is Gold

O que diz o Booker Prize: O livro é um “romance épico de estreia sobre família e a busca por uma casa e uma fortuna.”

Colum McCann (Irlanda/EUA) com “Apeirogon” 

Quem é: Autor de seis romances e três coleções de histórias, viu um romance seu, “TransAtlantic, na "longlist" do Booker Prize, em 2013. Nascido em Dublin, na Irlanda, vive na “cidade que nunca dorme”, capital dos EUA. O seu romance anterior, “Let the Great World Spin”, venceu o National Book Award, entre outras distinções.

Qual é a história: O romance agora nomeado para o Booker Prize coloca uma pergunta: Como continuamos a viver depois de perdermos a nossa coisa mais preciosa? Rami Elhanan e Bassam Aramin vivem perto um do outro, mas existem em “mundos separados". Rami é israelita. Bassam é palestiniano. Ambos perderam as filhas de forma violenta. Os dois homens tornam-se melhores amigos.

Apeirogon
Apeirogon

O que diz o Booker Prize: “Apeirogon”, “que ganha o nome de uma forma com número infinito de lados” é um “romance épico”. A organização escreve que Colum McCann "cruza séculos e continentes, costurando tempo, arte, história, natureza e política numa tapeçaria de amizade, amor, perda e pertença.” E acrescenta: “Musical, forte, delicado (…), é um livro para os nossos tempos, de um escritor no auge dos seus poderes."

Diane Cook (USA) – “The New Wilderness”

Quem é: Esta romancista e contista começou com “Man v Nature”, em 2015, e as suas histórias estão publicadas em inúmeras publicações, como a Granta. Vive em Brooklyn e produziu o programa de rádio “This American Life.

Qual é a história: “The New Wilderness” trata-se de um “romance ousado, apaixonado e aterrorizante” sobre a batalha de uma mãe para salvar a filha, num mundo devastado pelas mudanças climáticas. A filha de Bea, Agnes, tem cinco anos e está a desaparecer, consumida pelo “smog” e pela poluição da metrópole a que chamam casa.

Se permanecerem na cidade, Agnes morrerá, mas há uma alternativa: entrar no grupo de voluntários no “Wilderness State”. Essa vasta extensão de terra hostil e indomável está intocada pela humanidade - até agora. Vivendo como caçadores-coletores nómadas, Bea e Agnes aprendem a sobreviver a pouco e pouco nesta terra imprevisível e perigosa. Agnes, a filha, abraça a liberdade selvagem. Bea, a mãe, percebe que salvar a vida da filha significa perdê-la de uma maneira diferente a que estava habituada.

The New Wilderness
The New Wilderness

O que diz o Booker Prize: “Ao mesmo tempo um ardente lamento do nosso desprezo pela natureza e um retrato profundamente humano da maternidade e o que significa ser humano”. Classifica-o como um romance "extraordinário e atraente para os nossos tempos.”

Douglas Stuart (Escócia/EUA) com “Shuggie Bain”

Quem é: Nascido e criado em Glasgow, na Escócia, mudou-se para Nova Iorque. Começou aí uma carreira em design de moda. Estreia-se com “Shuggie Bain”.

Qual é a história: O primeiro romance de Douglas Stuart passa-se em 1981, numa Glasgow que está a morrer. A pobreza está a aumentar e as pessoas vêem desaparecer as vidas que queriam. Agnes Bain sonhava com coisas maiores. Quando o marido mulherengo se vai embora, ela e os seus três filhos ficam presos numa cidade mineira dizimada pelo Thatcherismo.

Enquanto Agnes se vira cada vez mais para o álcool em busca de conforto, os filhos tentam salvá-la. No entanto, um a um, têm de abandoná-la para se salvarem a si mesmos.

Shuggie Bain
Shuggie Bain

O que diz o Booker Prize: “Shuggie Bain” “pondo a nu a crueldade da pobreza, os limites do amor e o vazio do orgulho" é uma estreia "empolgante e comovente, e uma exploração do amor que não se afunda, que apenas as crianças podem ter pelos pais feridos.”

Gabriel Krauze (GB) com “Who They Was”

Quem é: O autor cresceu em Londres, numa família polaca e foi atraído para uma vida de crime e gangues desde tenra idade. Agora, na casa dos trinta anos, deixou esse mundo e está a recuperar a sua vida através da escrita. “Who they was” é o seu primeiro romance.

Qual é a história: Gabriel Krauze atingiu a maioridade entre os arranha-céus e as ruas secundárias de South Kilburn, em Brent, Inglaterra. Não era um mero observador. Estava envolvido intensamente em gangues, roubos, drogas e armas. Tudo isto enquanto terminava o curso de inglês na Universidade Queen Mary. “Who They Was” vem dessa experiência. Assim, é um livro “confrontador, emocionante, moralmente complexo e totalmente único.”

Who They Was
Who They Was

O que diz o Booker Prize: Trata-se de “um trabalho urgente e eletrizante de autoficção: o relato em primeira mão de um jovem que viveu uma vida de crime violento e que o expressa com ousadia, precisão e, às vezes, até com beleza”.

Hilary Mantel (GB) com “The Mirror & The Light”

Quem é: Não foi uma nem duas vezes que Mantel esteve na lista para o Booker Prize. Esta é a terceira. Das duas vezes em que esteve nomeada, venceu – feito que mais nenhuma mulher ou cidadão inglês alcançou. O sul-africano JM Coetzee e o australiano Peter Carey também receberam duas vezes a distinção.

Qual é a história: O livro nomeado este ano para o Booker Prize encerra “triunfantemente”, de acordo com a organização, a trilogia de Thomas Cromwell. Os dois romances anteriores neste trio, “Wolf Hall” e “Bring Up the Bodies”, venceram o então Man Booker, em 2009 e 2012, respetivamente.

Este terceiro passa-se na Inglaterra de 1536. Ana Bolena foi decapitada. Enquanto isso, Thomas Cromwell, primeiro-ministro de Henrique VIII, toma o pequeno-almoço. Hilary Mantel traça os anos finais de Thomas Cromwell, o jovem que sobe ao poder vindo do nada.

“The Mirror and the Light” vai chegar a Portugal a 2 de setembro, com o título "O Espelho e a Luz", com o selo Editorial Caminho. O terceiro livro da coleção surge onze anos depois de "Wolf Hall", o volume que inaugura a trilogia; e oito anos após de "Bring up the bodies" (em Portugal com o título "O livro negro", editado pela já desaparecida Civilização Editora).

Todos os títulos desta trilogia vão ganhar novas caras com a Editorial Caminho. Mantel é autora de 15 livros, incluindo a coleção de contos “The Assassination of Margaret Thatcher”, em português pela Jacarandá Editora.

The Mirror & The Light
The Mirror & The Light

O que diz o Booker Prize: A organização escreve que com “The Mirror & the Light”, fica “um retrato definitivo do predador e da presa, de uma disputa feroz entre presente e passado, entre vontade da realeza e a visão de um homem comum: de uma nação moderna que se constrói através do conflito, paixão e coragem.”

Kiley Reid (EUA) com “Such a Fun Age”

Quem é: Quando ensinou escrita criativa, focou-se em como se escreve sobre “raça e classe”. Vive em Filadélfia, na América do Norte. É com “Such a Fun Age” que se estreia.

Qual é a história: Este romance propõe a reflexão sobre o que acontece quando fazemos a coisa certa pelo motivo errado. Alix Chamberlain é uma mulher que consegue o que quer e que ganha a vida a mostrar a outras mulheres como fazer o mesmo. É por esse motivo que fica chocada quando, uma noite, a sua ama é confrontada enquanto observa a criança da família Chamberlain. Acontece que, ao ver uma jovem negra a sair tarde com uma criança branca, um segurança do supermercado acusa a ama de sequestrar a criança de dois anos. Reúne-se uma pequena multidão, há quem filme a situação. É a partir daqui que tudo se desenvolve.

Such a Fun Age
Such a Fun Age

O que diz o Booker Prize: O livro, “com empatia e comentários sociais penetrantes”, explora “o que significa tornar alguém em família, a complicada realidade de ser adulto e”, lembrando a pergunta inicial, “as consequências de fazer a coisa certa pela razão errada.”

Maaza Mengiste (Etiópia/EUA) com “The Shadow King”

Quem é: Adis Abeba é a capital da Etiópia e o local onde nasceu esta professora de mestrado de Escrita Criativa e Tradução Literária do Queens College. Com os livros “The Shadow King” e “Beneath the Lion’s Gaze”, o The Guardian colocou os livros de Maaza entre os dez melhores livros africanos contemporâneos. Atualmente reside em Nova Iorque.

Qual é a história: A história passa-se em 1935. Com a ameaça do exército de Mussolini, Hirut, recentemente órfã, luta para se adaptar à sua nova vida como empregada doméstica. Trabalha para um oficial do exército do Imperador Haile Selassie, que mobiliza os homens mais fortes antes de os italianos invadirem a Etiópia – mas apenas os homens.

Hirut e as outras mulheres desejam muito mais do que cuidar dos feridos e enterrar os mortos. Quando o imperador Haile Selassie se exila e a Etiópia perde a esperança, é Hirut quem oferece um plano para manter o moral e inspira outras mulheres a pegar em armas.

The Shadow King
The Shadow King

O que diz o Booker Prize: Sobre “The Shadow King”, o Booker Prize escreve que “lança luz sobre as mulheres-soldado, que não ficaram na história de África e da Europa.” E acrescenta que é “uma exploração cativante do poder feminino e o que significa ser uma mulher na guerra.

Sophie Ward (GB) com “Love and Other Thought Experiments”

Quem é: Atriz e escritora, Sophie é formada em Filosofia e Literatura e continua a estudar. Publicou artigos em jornais como o The Times, The Guardian, e Observer. Os seus contos estão publicados em várias publicações e, em 2018, ganhou o Royal Academy Pin Drop Award pelo conto "Sunbed".

Qual é a história: Em “Love and Other Thought Experiments”, Rachel e Eliza estão à espera de bebé. Uma noite, Rachel acorda a gritar e diz a Eliza que uma formiga lhe entrou nos olhos. Pode parecer loucura, mas sabe que o bicho ficou dentro do olho. Como cientista, Eliza não leva o medo de Rachel a sério e acabam a ter uma “luta amarga”. Todo o relacionamento é questionado.

Love and Other Thought Experiments
Love and Other Thought Experiments

A história é contada em dez capítulos que se ligam uns aos outros, mas independentes - cada um na perspectiva de uma personagem diferente – “e inspirada em algumas das experiências de pensamento mais conhecidas da filosofia, particularmente na filosofia da mente,”, que Sohpie Ward estuda atualmente em doutoramento.

O que diz o Booker Prize: “Love and Other Thought Experiments” é “uma história de amor perdida e encontrada no universo.”

Tsitsi Dangarembga (Zimbábue) com “This Mournable Body”

Quem é: Autora de dois romances, incluindo “Nervous Conditions”, vencedor do Prémio Commonwealth Writers, Tsitsi é também cineasta e dramaturga. Vive em Harare, capital do Zimbábue.

Qual é a história: Neste romance, conhecemos Tambudzai, uma jovem que vive num hostel em ruínas no centro de Harare, ansiosa pelo futuro, depois de deixar o emprego. A cada tentativa em construir uma vida para si própria, depara-se com uma nova humilhação, até que o doloroso contraste entre o futuro que imaginou e a realidade do dia-a-dia a leva a um ponto de ruptura.

This Mournable Body
This Mournable Body

O que diz o Booker Prize: Neste romance “tenso e com grande carga psicológica, Tsitsi Dangarembga canaliza a esperança, o potencial de uma jovem mulher e o de uma nação que se desenvolve para nos levar numa jornada para descobrir para onde vai a vida depois de a esperança desaparecer”.

 

O que se segue:

15 de setembro: a “shortlist”, a lista reduzida para seis finalistas, é revelada.

27 de outubro: o vencedor ou vencedora é conhecido.

O prémio valoriza a ficção e é aberto a escritores de qualquer nacionalidade, desde que escrevam em inglês e que tenham publicado no Reino Unido e Irlanda.

No ano passado, o Booker Prize foi conquistado, em conjunto, por “Os Testamentos”, de Margaret Atwood, e por “Girl, Woman, Other”, de Bernardine Evaristo.

Nota: As citações do Booker Prize são de tradução livre dos conteúdos publicados no site oficial do prémio