O histórico espaço da zona norte da cidade de Lisboa, agora rebatizado também como Turim, abriu no mês em que comemorou 40 anos, depois de vários anos encerrado. Propriedade da família de Afonso Moreira, agora a cargo da Junta de Freguesia de Benfica, que arrendou o espaço durante dez anos, é hoje, como define o presidente da Junta Ricardo Marques, um "autêntico caldeirão cultural".
Em entrevista ao SAPO24, o autarca sublinha que o Cine-Teatro Turim foi reaberto com duas premissas: "A primeira foi reabrir este espaço icónico de Benfica, que era uma ferida para a comunidade estar fechado. Apesar da família dona do espaço ter lutado muito para o manter, a verdade é que se encontrava fechado há alguns anos. Depois, para todos aqueles que cresceram em Benfica, o Turim tem uma dimensão muito especial, porque é um cinema de bairro onde nos juntávamos para comprar os primeiros jogos de consola. Em segundo lugar, queríamos aproveitar o potencial cultural da freguesia, que tem a Escola Superior de Música, vai ter a Escola Superior de Dança e tantas outras escolas de dança e voz".
"É um autêntico caldeirão cultural, todas as semanas é diferente"
Acrescenta também que "este acaba por ser um espaço mais jovem, mais 'trendy', que se diferencia de outras ofertas culturais de Benfica, como é o caso do Palácio Baldaya ou do Auditório Carlos Paredes, e atrai propostas diferentes e jovens artistas".
Sobre trazer a CML para o projeto de renovação, Ricardo Marques conta que foi fácil. "Conseguimos imediatamente a colaboração da CML, quer por parte do vereador da Cultura, Diogo Moura, quer do presidente Carlos Moedas, através do programa 'Um Teatro em Cada Bairro'".
Depois disso, e passados estes primeiros meses, "já fizemos mais de 56 espetáculos, com uma lotação de sala por volta dos 70%, num espaço super versátil, de que estávamos à espera, com cinema ao domingo de manhã, ao sábado à tarde e segunda à noite, teatros de peças emergentes, lançamento de artistas da Escola Superior de Música e até reuniões de moradores. Um espaço versátil que ainda não existia nesta zona norte da cidade", sublinha.
"Sextas e sábados existem ainda noites de DJ, com noites temáticas ligadas ao cinema, como a noite do Batman. Temos também cinema infantil, que tem sido um sucesso, sempre cheio, bem como os teatros infantis e o stand up de domingo à noite", diz.
"É um autêntico caldeirão cultural, todas as semanas é diferente", afirma.
Sobre o próximo ano, 2024, o presidente assegura que vai ser o ano de afirmação do espaço, que é cada vez mais conhecido na cidade de Lisboa. Além disso, esperam na programação anunciar uma peça do grupo de teatro residente da atriz Margarida Moreira, ‘Meia Palavra Basta’, que vai estrear uma comédia policial com atores conhecidos do panorama nacional.
"O que as pessoas se lembram é deste cinema onde deram os primeiros beijos ou onde viram o primeiro filme"
A acrescentar a esta programação juntam-se ainda as comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, com um ciclo de cinema e curtas, e que estará integrado nas comemorações da freguesia a acontecer nomeadamente no Palácio Baldaya, que também terá todo um programa cultural com vários artistas nacionais.
"O que as pessoas se lembram é deste cinema onde deram os primeiros beijos ou onde viram o primeiro filme e podem agora redescobri-lo novamente", garante o presidente, dando destaque ao espírito contemporâneo, mas que não esquece as origens da antiga sala.
À cultura junta-se a restauração, com dois sítios distintos dentro do Cine-Teatro. O Camada, um restaurante de francesinhas que ganhou a concessão no local, e um Arcade Bar explorado pela Associação Menino da Lágrima, que assegura a curadoria cultural "com iniciativas fora da caixa", de acordo com o presidente.
Como obter lucro?
Questionado sobre como manter um espaço deste tipo quando muitos cinemas do género fecharam nos últimos anos em Lisboa, o presidente diz assumir que se trata de "um serviço público". "Apesar de procurarmos sempre a rentabilidade dos espetáculos, assumimos à cabeça que existe uma parte que será suportada pela Junta de Freguesia", sublinha.
"Um dos alicerces do Estado Social é a cultura, e muitas vezes nós desvalorizamos o papel que as entidades públicas, nomeadamente as autarquias, têm de ter na atividade cultural. Nós aqui assumimos esse custo porque a cultura é um dos cimentos que cola a comunidade, que orgulha as pessoas e que as leva à rua", acrescenta.
De um ponto de vista mais geral, diz também que, "se alguém estiver na rua para ir ao cinema, pode também aproveitar para fazer outro tipo de consumos em pastelarias locais e restaurantes, ou seja, isto acaba por injetar dinheiro na economia local".
Como exemplo, explica que se for mostrado um filme é fácil fazer dinheiro com uma sala cheia. Já um espetáculo com vários músicos "é mais complicado", logo "é neste racional que se constrói uma sala destas, mas sabemos que podemos perder e assumimos isso como serviço público", aponta.
Introduz ainda a questão da segurança na cidade, que beneficia de espaços culturais deste tipo. "Se eu tiver espaços culturais cheios de noite, eu tenho pessoas na rua, e se tenho pessoas na rua, eu tenho uma perceção de segurança para toda a comunidade e enchem-se os restaurantes e as esplanadas. É bom para toda a economia local", completa.
Como novidades da época natalícia, destacam-se filmes na programação, como 'Sozinho em Casa' e 'Die Hard - Assalto ao Arranha-Céus', que fazem parte do cartaz nesta época das festas.
A programação, essa, é definida todos os meses pela equipa criativa da Junta, que organiza experiências inéditas e tenta trazer novas propostas culturais.
Recorde-se que a nova sala do Turim conta com 90 lugares e que Junta de Freguesia de Benfica suportou em 350 mil euros o investimento nas obras de requalificação, enquanto a Câmara de Lisboa apoiou com 150 mil euros.
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