O Festival Terras Sem Sombra (FTSS), que acontece de fevereiro a julho, no Alentejo, distingue anualmente entidades ou personalidades nas áreas da Música, Valorização do Património Cultural e Salvaguarda da Biodiversidade, que o certame desenvolve no âmbito da sua programação.
Candidataram-se “mais de meia centena de propostas”, tendo o júri escolhido “três casos exemplares nas áreas que são os pilares do festival, a promoção da música, a valorização do património cultural e a salvaguarda da biodiversidade”, disse à agência Lusa José António Falcão, diretor executivo do Terras Sem Sombra.
A cerimónia de entrega dos prémios realiza-se no próximo dia 07 de julho, às 18:30, no Centro das Artes de Sines, no Baixo Alentejo, e será presidida pelo ministro do Ambiente, João Pedro de Matos Fernandes.
O Prémio Internacional Terras Sem Sombra/Música será entregue ao maestro e compositor Péter Eötvös, nascido há 74 anos em Székelyudvarhely, então território húngaro, atualmente, Odorheiu Secuiesc, município da República da Roménia.
“Peter Eötvös combina as atividades de compositor, maestro e professor, numa carreira de alto nível”, refere o comunicado do FTSS, que este ano teve a Hungria como país convidado.
Autor de óperas, obras orquestrais e concertos compostos para vários músicos, a música de Peter Eötvös “tem vindo a ser programada regularmente por orquestras, ensembles de música contemporânea e festivais de todo o mundo”, segundo a mesma fonte, que cita o concerto para percussão “Speaking Drums”, com o solista Martin Grubinger, e as peças compostas para ensemble “Dodici” e “Da capo”. A ópera “Senza Sangue”, uma encomenda das Filarmónicas de Nova Iorque e Colónia, estreou-se em 2014.
“Love and Other Demons”, “Angels in America”, “Lady Sarashina” e “Golden Dragon” são outras óperas suas.
De 1985 e 2011, Peter Eötvös foi maestro titular das orquestras Sinfónica da BBC e do Festival de Budapeste, da orquestra de Câmara da Rádio Holandesa, assim como das sinfónicas da Rádio de Estugarda, de Gotemburgo e da Rádio de Viena.
Na área do Património Cultural o Prémio Internacional Terras Sem Sombra distinguiu a “inovadora projeção ordenada e harmónica de Albarracín [cidade na Comunidade Autónona espanhola de Aragão, na província de Terruel], a partir da recuperação dos valores locais, segundo sólidos princípios de sustentabilidade”, liderada pela Fundación Santa María de Albarracín.
A fundação foi constituída em 1996, pelo Governo Autónono de Aragão, pelo Município de Albarracín e pela Diocese de Teruel-Albarracín, com o objetivo de tornar Albarracín “um emblema cultural, em sintonia com o caráter excecional do património e do enquadramento paisagístico, registando um dos mais altos índices de conservação na Europa”.
Albarracín tem uma área de cerca de 449 quilómetros quadrados e pouco mais de mil habitantes, e dista cerca de 280 quilómetros de Madrid.
Uma das áreas de ação da fundação é o restauro arquitetónico, tendo já participado na requalificação de monumentos significativos da cidade e que passaram a ficar sob a sua administração, designadamente o conjunto “Albarracín – Espaços e Tesouros”, a igreja de Santa María e o antigo paço episcopal, atualmente um centro de congressos e residências para criadores.
“A dinamização permanente da cidade tem vindo a ser conseguida através de um importante programa cultural, vertebrado por diferentes ações agrupadas em cursos e seminários, exposições e concertos”, e, desde há algum tempo, também através de um programa de criação artística, destinado a profissionais no âmbito da pintura, e um ciclo de formação complementar para conservadores-restauradores de bens móveis.
O Prémio Terras Sem Sombra/Biodiversidade distingue uma associação que defende a diversidade das castas tradicionais de videira, a Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira (PORVID), que desde 1978 tem trabalhado na seleção das castas, através de uma rede informal de universidades, direções regionais de agricultura, associações, e empresas vitivinícolas.
Esta rede, a nível nacional, “desenvolveu métodos inovadores de base genética e estatística e selecionou dezenas das principais castas autóctones”, segundo a mesma fonte, realçando que foi possível “alcançar-se, assim, uma perspetiva rigorosa da diversidade genética intravarietal — a matéria-prima da seleção –, incluindo a respetiva quantificação objetiva, tanto por castas como por regiões”.
Um trabalho que “veio pôr a nu um desastroso processo de erosão genética”, refere o festival, acrescentando que “conservar a diversidade das castas, criada ao longo de milénios de evolução, passou a constituir uma prioridade para a sustentabilidade do setor da vinha e do vinho, em paralelo com a própria seleção”.
“Face a tão dramático contexto, tornou-se patente a necessidade de garantir a maior eficácia e perenidade às abordagens da diversidade em curso, e de abrir novas frentes de trabalho”, o que se efetuou em 2009, com a fundação da PORVID, que junta centros de investigação, como universidades, e “beneficiárias dos resultados” científicos, como as empresas da vitivinícolas.
A obra “Resoluções OIV (Organização Internacional da Vinha e do Vinho)” é um dos documentos resultantes desse trabalho, assim como a “seleção de largas dezenas das mais importantes castas antigas do país, e a conservação da diversidade de mais de 200 castas, através de amostras representativas de genótipos, perfazendo um total de 30.000 genótipos”.
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