A peça, no âmbito do GUIdance, marca a volta de Rui Horta a Guimarães, onde estreou, em abril, “Vespa”, que marcou o regresso do coreógrafo ao palco depois de 30 anos.
“Humanário” é, segundo o artista, um “mix improvável” criado em conjunto com Tiago Simães, responsável pela direção musical do projeto, que junta amadores e jovens artistas numa “verdadeira peça de e com a comunidade”.
Em declarações aos jornalistas, nas vésperas da estreia de “Humanário”, que sobe ao palco do Centro Cultural Vila Flor no sábado, às 21:30, Rui Horta admitiu que esta é uma peça “em tudo fora do habitual”, exceto na vontade de desfazer tudo e voltar a um inicio, que, para o artista, nunca tem fim.
“Estou aqui e só me apetece mudar tudo, como sempre. É sempre a história das minhas estreias, insatisfação, quase autodestruição até ao último minuto”, confessou.
Em palco, os 32 intérpretes, escolhidos numa procura feita pelo Facebook, que ensaiaram aos fins de semana durante os últimos 3 meses, reduzem-se à voz e ao corpo, elevando-se a criação.
“É uma peça vocal, eu nem faço ideia do que fiz na peça. Há uma cumplicidade com a estrutura, com a cidade, com o espaço e eu entusiasmei-me com isso. É uma peça de indivíduos, de pessoas, onde nós realmente celebramos a diferença das pessoas”, explicou Rui Horta, para logo depois deixar duas confidências.
“Tirei muito deles”, por um lado, e “há um exercício de humildade e de apagamento aqui” do próprio Rui Horta, por outro.
Rui Horta descreve o seu “Humanário” à semelhança de um aquário, como um “processo enriquecedor” e mutável.
“Com mais um mês de ensaio [a peça] era outra. Eu acabei a peça na semana de estreia. Nunca na vida eu acabava uma peça na semana de estreia. O tempo da peça é também a beleza da peça”, disse.
São vários os lados da beleza naquele “Humanário” que surge em contraciclo: “É um processo de vinculação aos outros, que vai no sentido contrário à própria fragmentação da sociedade”, apontou o encenador.
“Há um lado humano, direto e sem filtro, que vem de cada um deles. Eles têm que ser eles sem hesitar e sem medo, se forem eles, sem hesitar e sem medo são absolutamente especiais no palco, especialíssimos”, disse.
“Eles” são os 32 intérpretes, os fios que guiam o espetáculo: “Uma peça não é uma salada, é um túnel. Nós entramos e temos que fazer escolhas, tem que haver fios condutores, claro que o grande fio condutor aqui são as pessoas em si mesmo e se eles estiverem muito fortes é incrível”, avisou.
“Fora o resto, a peça não conta nenhuma história. É como um aquário, só que é um humanário”, concluiu.
A 8.ª edição do Festival de Dança Contemporânea GUIdance arrancou na quinta-feira e decorre até 10 de fevereiro, com espetáculos, debates e até um jornal, levando aos palcos vimaranenses nomes nacionais e internacionais da dança contemporânea como Rui Horta, Vera Mantero, Joana von Mayer Trindade & Hugo Calhim Cristovão, Patricia Apergi, Wayne McGregor, Euripides Laskaridis, Peeping Tom, Marlene Monteiro Freitas e Andreas Merk.
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