Como conta a Associated Press (AP), mal as luzes perderam a intensidade, a multidão, de homens e mulheres, explodiu com aplausos e gritos. Embora a exibição do filme da Marvel tenha sido privada — as salas abrem ao público apenas em maio —  e destinada apenas a convidados como membros do governo ou profissionais da indústria, muitos sauditas consideraram um marco nos esforços de modernização da Arábia Saudita.

Contudo, os espetadores não puderam ver o filme norte-americano na íntegra: foram cortados 40 segundos, por pudor. De acordo com a AP, as cenas de violência foram exibidas, tendo a censura recaído sob uma cena final que envolve um beijo.

A distribuidora regional do filme, a Italia Film, disse ao The Hollywood Reporter que a "censura" está relacionada com a possibilidade de este ser exibido em todas as regiões do país.

O filme da Marvel, o terceiro maior êxito da história nas bilheteiras dos Estados Unidos, foi exibido depois da cadeia norte-americana AMC Entertainment obter, finalmente, a primeira licença para explorar salas do reino saudita.

A AMC Entertainment considera que a Arábia Saudita é o último mercado de massas que ainda não foi explorado no Médio Oriente, que tem mais de 30 milhões de habitantes.

A antiga sala de concertos em Riade foi, assim, o primeiro cinema do país a abrir as portas. Em 2030, a Arábia Saudita pretende abrir mais 350 salas de cinema, o que perfaz um total de 2.500 ecrãs de projeção.

O governo ainda não indicou que tipo de filmes vão ser autorizados doravante, mas Awwad Alawwad, ministro da Cultura e Informação da Arábia Saudita, disse, à AP, que era necessário encontrar um equilíbrio entre os filmes internacionais e o público saudita.



“Queremos garantir que os filmes estão alinhados com a nossa cultura e respeitam os nossos valores. Enquanto isso, queremos proporcionar às pessoas um bonito espetáculo”, diz Awwad Alawwad.

No ano passado, também já tinha sido reforçado pela Arábia Saudita que os filmes não poderiam contrariar “as leis da Xaria [legislação] e os valores morais do Reino”, como indica o Business Insider. Isto significa que o país censura, acrescenta a Variety, principalmente as cenas de sexo, representação LGBT e questões religiosas, tornando os filmes mais curtos do que as exibições internacionais.

Por exemplo, o "Watchmen" (“Os Guardiões”, título português), de 2009, foi de tal forma censurado que os críticos disseram que o filme estava “quase incompreensível”.

Os cinemas foram proibidos na Arábia Saudita no início da década de 1980, pela pressão dos islamitas, numa altura em que a sociedade saudita vivia segundo os contornos de uma versão mais conservadora do Islão. Além dos que eram realizados no ocidente, também os filmes árabes feitos no Egito e Líbano eram considerados pecaminosos.

Apesar da censura, a decisão de suspender a proibição de exibição de filmes é apontada como um esforço por parte do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman para modernizar o país e tornar a economia mais competitiva à escala global.

O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, começou por anunciar que, a partir de junho, as mulheres sauditas vão ser autorizadas a conduzir. Depois, três estádios abriram-se para permitir que as mulheres pudessem assistir a eventos desportivos.