Na newsletter de março para se ganhar bilhetes para a 'A Madrugada Que Eu Esperava', o desafio era o de enviar um pequeno texto, a responder à questão: "Onde gostava de ter estado no 25 de Abril?". Os melhores textos ganharam bilhetes duplos e foram ao teatro. O desafio de abril chegará na newsletter deste mês.
Aqui estão os textos dos vencedores:
Maria Teresa
Hoje, olhando para trás, acredito que no dia 25 de Abril, eu estava exatamente onde devia estar. Nesse dia, eu tinha treze anos e estava em casa a estudar, enquanto acompanhava pela rádio tudo o que se passava pelo país. Não tinha idade nem conhecimento suficiente para perceber a dimensão da marcha por uma liberdade que eu nem sabia que não tínhamos, mas recordo com nitidez que o clima era de grande alegria, portanto, o que estava a acontecer só podia ser bom.
Quando digo que estava no sítio certo, é porque o sítio onde eu estava era à porta de um novo país. Um país que era cinzento e que vi pintar a cores, um país que estava em silêncio e onde toda a gente passou a ter uma voz. Um país que se encheu de poesia, de música e de flores.
Leonor da Costa
O medo do desconhecido iria prender-me ao conforto e à segurança do lar. Rodeada da família, e barricada em quatro paredes, acompanharia de longe as notícias que iam chegando pela rádio.
A inquietação da curiosidade iria arrastar-me para a rua. No Largo do Carmo, o mais simbólico de todos os locais da revolução, empunharia um cravo vermelho enquanto assistiria de perto à vitória dos revoltosos. Finalmente liberdade!
Movida pela raiva de décadas de opressão, acabaria por ir parar à Rua António Maria Cardoso, sede da Direção Geral de Segurança, antiga PIDE. Nessa fatídica rua de Lisboa, onde a morte saiu à rua, a euforia da vitória dava lugar a gritos de revolta e de protesto. José Barneto, Fernando Reis, João Arruda e Fernando Gesteira foram os últimos a morrer às mãos da polícia política em Portugal. As únicas vítimas da revolução “sem sangue”.
Por fim, a esperança iria conduzir-me até Caxias para participar na libertação dos presos políticos. Homens e Mulheres que, apesar de presos e torturados, nunca deixaram de ser livres. Se tivesse de escolher apenas um sítio para estar em abril de 74, seria aqui, a abrir as cadeias das masmorras fascistas, participando assim na verdadeira festa da liberdade. Viva à liberdade! Viva ao 25 de abril!
José António Coelho
Realmente não gostaria de estar em mais nenhum lugar no 25 de abril de 1974! Tinha nessa altura 10 anos de idade, e como criança desapercebido do real significado de tudo o que nesse dia se estava a passar! Na brincadeira, andando despreocupadamente de bicicleta, só me apercebi que algo se estava a passar quando a minha mãe me chamou para regressar a casa, num reflexo de preocupação resultante de uma reviravolta algo tumultuosa no dia a dia pacato de uma vivência nos arredores da capital!
Maria Almeida Ribeiro
50 anos, em democracia, com tamanha cegueira e leviandade de ação. Ao nosso redor, corruptos, prepotentes, ditadores na hierarquia mais alta, até ao simples trabalhador, da empresa ou instituição. Se mal o fazem, há sempre a justificação de que os outros são piores. Mais malfeitores. Mais corruptos. Será mesmo? Será mesmo que o princípio de justiça, liberdade não deve partir de nós?
É triste ver um caminho assim. Na madrugada que eu esperava, esperava ver umas décadas seguintes mais promissoras de um Estado de direito e ordem, onde Portugal estivesse e tivesse melhor. Onde cada um de nós, fosse fonte de ordem, justiça, paz e proteção do próximo.
Não vemos nada disso. Vemos o deputado que usa o carro de trabalho para levar os filhos à escola, vemos a professora da escola que faz uns trabalhos manuais para vender (sem recibo) à papelaria do bairro, vemos o ator que nas horas livres faz festas para crianças sem passar recibo, vemos o homem da oficina que nos pergunta se quer com IVA e sem IVA. .... Que triste que é. Que triste que é!
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