Em 1995, depois das primeiras alterações na formação original dos Da Weasel, Pacman (de seu nome Carlos Nobre, conhecido agora como Carlão) precisava de um apoio nas back vocals. Por intermédio de uma amiga, Carlão conhece Virgul, o miúdo do Monte da Caparica que costumava ir para o relvado de Almada para umas battles de beatbox.

Virgul entra definitivamente para os Da Weasel ao “3º Capítulo”, numa história que termina em 2010 com um ponto final, sem despedidas mas com saudades. Sete anos depois do fim, Virgul espera que o momento do regresso da banda possa acontecer. “Os Da Weasel podem contar comigo”, não hesita.

Depois dos Da Weasel, ainda o ouvimos com os Nu Soul Family mas um trabalho a solo foi sendo adiado pelo medo de falhar, consigo e com os fãs.

Até agora. “Saber Aceitar”, editado no próximo dia 24 de novembro, é “uma festa”.

Virgul é alcunha ou apelido?

Virgul é alcunha. Nome próprio Bruno.

Porquê Virgul?

Por causa de uns desenhos animados, de que gostava muito, e que davam na televisão à noite, pelas nove horas, mais ou menos à hora dos miúdos irem para a cama. Às vezes estava na rua a brincar, mais na altura do verão, assim ainda meio no fim de tarde, e pegava na minha bola e ia para casa só para ver o Virgul [série de desenhos animados francesa que estreou em Portugal em 1989]. Os meus amigos começaram a tratar-me assim e gostei. Assim ficou.

A única entrevista onde falas sobre ti é recente, e foi à revista Cristina. É-te difícil falar sobre ti?

Não é difícil, eu é que sou mesmo assim: uma pessoa um bocado fechada. Se não puxarem por mim, eu também não falo muito. A minha família também se queixa um pouco disso. Às vezes a minha mãe também tenta puxar por mim, mas é uma coisa que... sempre fui assim desde criança. Mas depois exteriorizo muito ao vivo ou com as pessoas com quem tenho mais confiança, como a  família ou amigos.

Como eras em criança?

Sempre fui uma criança um bocado traquina. Às vezes revejo-me na minha filha, ela é como eu era. Chamo-a à atenção, digo-lhe também era assim, mas que por vezes é necessário estarmos focados. Muitas vezes vou às reuniões de pais e a queixa maior da minha filha é essa, ela é muito irrequieta. Muito atenta, aprende facilmente, mas gosta de ser sempre o centro das atenções. Lembro-me de a minha mãe dizer que também era assim. Na escola subia para cima da carteira e tentava fazer ali um show. Quem sabe, talvez fosse já a veia artística

Como foi crescer entre o Monte da Caparica e Almada?

Foi natural. Acho que a margem sul tem, hoje olhando para trás e conhecendo outro sítios, uma veia artística. Crescer ali foi bom. Deu-me oportunidade de conhecer cedo os Da Weasel, o Carlão e fazer de mim músico. Aos seis/sete anos estive para ir morar para Setúbal. Depois o meu pai conseguiu trocar com um colega e foi aí que vim morar para o Monte [da Caparica]. Não sei se seria melhor ou pior [se tivesse crescido noutro lado], mas a verdade é que sou muito feliz por ter crescido ali.

créditos: Rita Sousa Vieira | MadreMedia

Eras um miúdo do bairro? O que é que fazias e com quem é te davas?

Sim, sempre fui fiel às minhas raízes e às pessoas que me rodeiam. A gente aprende ali [no bairro] muita coisa e crescemos muito rápido, quer para o bem quer para o mal. O facto de também ter uma educação um pouco rígida fez com que também tivesse seguido um caminho um pouco mais calmo e mais certinho, não o caminho mais perigoso. Por vezes, quem segue um caminho mais complicado não é por mal; os bairros são propícios a isso. Se calhar por ter tido uma educação um bocado ríspida tinha medo... tinha muito muito medo do meu pai.

Como era essa educação ríspida?

Muitas vezes de cinto, palmadas... Tinha de lhe obedecer. O meu pai sempre foi muito trabalhador. Apesar de não ter muito tempo, sempre foi muito dedicado à família. Trabalhava muito para nos dar tudo e por vezes convivia pouco connosco. Às vezes eram mais palmadas do que amor. Mas serviu de alguma coisa. Dou muito valor ao meu pai e ao facto de nos ter educado da melhor maneira, ainda que fosse por vezes rígido. Fez parte.

O que faziam os teus pais?

O meu pai sempre trabalhou em construção civil. A minha mãe era doméstica, mas com a abertura do Hospital Garcia da Horta, em 1994, concorreu e lá está até hoje como auxiliar de ação médica.

Tudo começou com a dança, a música veio depois…

Tinha um gosto enorme em dançar. Acho que é desta minha veia e do meu lado africano. Sempre gostei muito de dançar e lembro-me de festas em minha casa, daquelas rodas, e de querer estar sempre no meio. Não tinha vergonha nenhuma. Recordo-me de logo muito cedo ter aulas de dança, ainda que pouco profissionais. Gostava de ir aos workshops que eram dados no bairro; e até havia um ou outro professor muito bom que passava por lá. Um dia até me convidaram para ser júri num concurso de dança que havia na margem sul, numa altura em que já estava nos Da Weasel. Depois a música obviamente falou mais alto e hoje concilio as duas coisas.

Em que momento a música falou mais alto?

Falou mais alto quando tive oportunidade de integrar nos Da Weasel, ainda que no início fosse uma coisa muito de back vocal. Foi na altura em que os Da Weasel lançaram o "Dou-lhe com a Alma" e o Carlão precisava de alguém para o ajudar a cantar ao vivo. Isto em 1995. Depois em 1997, quando se gravou o "3º Capítulo", quando já tinha dois anos de estrada, mostrei algumas coisas minhas e eles convidaram-me para fazer parte da banda.

Mas antes dos da Weasel tinhas tido outros projetos?

Tinha uma cena muito de bairro, os One Seven Eight Squad. Juntávamo-nos muitas vezes por baixo de casa ou no relvado em Almada. O relvado era um ponto de encontro onde paravam muitos jovens dos bairros da Quinta da Princesa, Miratejo, Almada, Monte... Por vezes até fazíamos battles de beatbox. Foi assim que comecei a perceber que gostava e tinha algum jeito.

Contaste que tiveste uma educação rígida, como é que foi dizer aos teus pais que era a música que querias?

Não foi fácil, mais pelo lado do meu pai. A minha mãe apoiou-me sempre desde cedo. Mãe é mãe. É mais sensível e disse-me logo 'se queres isso, entrega-te à séria e quero-te ver bem sucedido e a tirares frutos disso. Força!'.

Quais eram as tuas influências?

Na altura era muito fã dos Black Company e ouvia muita coisa americana, não sei precisar o quê, era o que chegava. Muita coisa que ouvia em cassetes que vinham de amigos ou primos e familiares que viviam nos EUA. Mas era um bocado o hip-hop que na altura batia: 2Pac, Biggie [The Notorious B.I.G], Naughty by Nature... Ouvia um bocado de tudo, sei lá. Ouvi muito o “Rapública" [primeira compilação de Rap português] quando saiu. Foi um marco do hip-hop português. E Boss-AC! Lembro-me de ir aos concertos dele e de pedir autógrafos nos CD's que levava ou comprava. Também ouvia Family, o primeiro grupo do Melo D. Era muito fixe, uma cena assim meio ragga, já mais a minha praia.

E tens ídolos?

Não sei se lhes posso chamar de ídolos, são grandes influências. O Michael Jackson foi uma grande influência, quer como músico quer como pessoa. O Bob Marley também, pela sua mensagem e musicalidade. Depois assim mais recentes, o Pharrell pela viragem que simboliza no hip-hop. Nós nos Da Weasel éramos muito influenciados pelos N.E.R.D e pelos The Neptunes. Mais recente ainda, o Kanye West e o Kendrick Lammar. Mas sempre ouvi um bocado de tudo, não tenho um género de música definido. E quis definir isso também para mim, logo desde cedo. Não quis ficar só no hip-hop ou colar-me como artista de rap.

E tens algum problema que as pessoas te rotulem com um género específico?

Eu não tenho qualquer problema, acho que às vezes é mais uma necessidade de nos encaixarem em algum lado...

De a indústria colocar em gavetinhas...

Exactamente. Eu lancei três singles do meu álbum a solo e, apesar e haver alguma coerência, acho que não têm nada a ver uns com os outros. O "Só Eu Sei" foge ao beat e é mais elétrico do que o "Rainha" e do que o "I Need This Girl". Mas acho que isso sempre foi uma vontade minha, a de poder dar aquilo que gosto. Mas a indústria também já é assim; na indústria pop os artistas já fazem um pouco de tudo. E vejo isso com bons olhos. É bom poder e saber reinventarmo-nos dentro daquilo que gostamos sem ser fake. Depois há muita gente que segue a indústria sem preocupação de estar a fazer aquilo que gosta; mas quando tu gostas deves fazê-lo sempre sem qualquer tipo de preconceito.

Eras o tipo de miúdo que se juntava com outros para mandar umas rimas?

Sim, sempre gostei de estar com o pessoal. E de aprender, porque acabamos sempre por aprender com os outros. Depois ia para casa e fazia algumas cábulas. Depois vinha já com umas rimas previamente ensaiadas. Mas sempre gostei desse street knowledge.

E onde é que se juntavam?

Onde já referi, ali na zona do relvado, em Almada. O pessoal juntava-se lá. Vinham todos com as mochilas ainda da escola. À hora do almoço ou alguns até faltavam mesmo às aulas. E ficávamos ali a curtir.

E hoje?

Hoje já não sei como é por lá, estou um bocadinho fora. Sendo pai e com a carreira a correr bem, não tenho assim muito tempo. Mas, ainda no outro dia, tive um concerto em Vila Real e estive com  os Wet Bed Gang e com o DJ Télio. Gosto bastante e identifico-me com eles; aquela garra e força que têm, a entrar em palco e partir tudo. Pá, ficámos para aí três horas no camarim a improvisar, a curtir e a cantar músicas um dos outros. Eles chamavam-me cota, 'cota Virgul, respeito'. É fixe, sinto mesmo esse respeito. E quem sabe se não são grupos com quem um dia possa trabalhar. Gostei mesmo muito deles.

créditos: Rita Sousa Vieira | MadreMedia

E eles são um sucesso nas plataformas digitais…

Montes de views e de seguidores, é verdade.

Teria mudado alguma coisa se os Da Weasel tivessem surgido nesta era digital?

Sinceramente, não gosto muito de pensar por aí. Tivemos o nosso momento, foi bom. Acho que continuamos a fazer parte da história da música portuguesa. Estou super feliz com aquilo que conquistámos e que fizemos.

Como é que conheceste o Carlão?

Tínhamos alguns amigos em comum. Só anos mais tarde é que ele me contou que foi só à segunda pessoa que lhe falou de mim, a Sarita, é que ele pensou 'deixa-me lá ver o que é que ele faz, deixa-me lá conhecer o Virgul'. Lembro-me de ir à casa dele, na altura ainda vivia com os pais, e tivemos lá no quarto a ouvir [música].

Que memórias tens do primeiro concerto dos Da Weasel?

A carrinha avariou. Nós marcámos num sítio, depois íamos apanhar o Guilherme, o baterista, porque tínhamos de levar a bateria. Ao apanhá-lo, ele vivia na altura em Alfama, a carrinha avariou. E tivemos de trocar de carrinha, tirámos tudo de uma para outra. Foi assim o baptizado. Depois chegámos super tarde [ao concerto]. Íamos tocar antes do Boss AC numa latada e acabamos a tocar depois, lá para as três da manhã. Mas correu super bem. Ainda estava com o disco rígido super limpinho, tive apenas uma semana para decorar as letras.

Hoje já é fácil para ti falar do fim?

Sim, hoje sim.

Mas houve algum período que tenha sido complicado? Por alguma razão especial?

A única razão, acho, que foi a do facto de não sabermos lidar com o fim. Acho que foi mais isso do que 'quem acabou' ou 'por que é que acabou'. Se calhar ainda tínhamos uma vontade... ou se calhar ainda tínhamos a esperança de que voltássemos. E então não queríamos falar. Hoje olho para trás e acho que tomámos uma decisão precipitada em comunicar. Por exemplo, estive com os Nu Soul Family e nunca comunicámos ou dissemos 'olhem, este é o nosso fim'. Se nos apetecer um dia, juntamo-nos. Com os Da Weasel, pelo menos na minha opinião, acho que não foi fixe ter-se dito que ‘acabámos'.

Como é que lidavam com os fãs? Acredito que tenham sido abordados várias vezes na rua e que vos perguntassem o porquê do fim…

Precisamente por isso é que fica essa questão: 'porquê, por que é que acabaram?'. E a verdade é muito simples. Na altura, o Carlão achou que não fazia sentido a continuidade dos Da Weasel e quis seguir a solo. Por mais que nos custe é como num relacionamento; quando alguém termina tens de aceitar, a pessoa tem as suas razões, mais tarde pode arrepender-se ou não, mas temos de saber aceitar.

Custa-te, em algum momento, ainda ser referido como o ex-Da Weasel?

Não, o que me custa  é quando não sabem aceitar o facto de que o Virgul tem vida própria e que também quer fazer a sua carreia a solo. Ou que me critiquem por estar a fazer a minha carreira a solo. Agora, fazer parte dos Da Weasel para mim é um orgulho e fará sempre parte do meu ADN. Fico super feliz quando as pessoas me conhecem também por ter feito parte dos Da Weasel.

Quando a porta da Doninha se fechou, chegaste a pensar desistir da música?

Sim, já referi isso antes. Não com o fim dos Da Weasel, foi mais depois dos Nu Soul Family. As coisas correrem um bocadinho bem no início, depois estiveram um pouco vai-não-vai. Houve uma altura em que me mudei para Angola e achei que se calhar devia pensar noutra forma de estar na vida e colocar a música de lado.

Como é que é a relação, hoje, entre vocês? Curiosamente estamos num espaço que pertence ao DJ Glue...

É boa. Houve naturalmente uma necessidade de estar cada um para o seu lado. Nós vivemos muitos anos juntos, coisas muito boas e muito intensas... e como qualquer relacionamento, se há um fim precisas de um bocado de espaço. Esse espaço já aconteceu e estamos super bem uns com os outros.

Do que mais tens saudades?

Das guitarras e do rock dos Da Weasel em palco. Essencialmente daquela garra ao vivo que tínhamos. Outro dia tive oportunidade de revisitar os álbuns, já não os ouvia há alguns anos, e é incrível. Muita coisa podia ter saído hoje.

Um regresso é possível? Para quando?

Epá não sei. Sinceramente, espero que esse regresso aconteça. Nem que seja para um concerto de despedida. Adorava, adorava. Da minha parte, os Da Weasel podem contar comigo.

Estivemos tanto tempo sem ouvir falar de ti. Andaste por Angola, o que motivou essa viagem?

Fui tentar perceber se a música ficava de lado e que caminho devia seguir. Foi também por causa da paixão que tinha pela pessoa com quem estava na altura. Uma série de coisas que levaram a que achasse que o meu caminho deveria passar por aquela estada em Angola. E hoje vejo que me fez muito bem ter passado por lá.

créditos: Rita Sousa Vieira | MadreMedia

Quanto tempo é que estiveste em Angola?

A viver efetivamente estive um ano e pouco, mas houve uma altura em que ia e vinha.

Há alguma influência dessa passagem por Angola neste teu álbum que será lançado dia 24 de novembro, "Saber Aceitar"?

Completamente. O "Rainha" é uma música que tinha feito e supostamente nem era para entrar no álbum. Foi escrito numa altura em que estava super apaixonado e escrevi o refrão. É um reflexo do que estava a sentir: super pessoal e muito real. A passagem por Angola influencia também no facto de na altura andar a ouvir muita música da Nigéria. Inclusive consegui trabalhar, depois, com o produtor dos P-Square, o V-Teck, que também participa no meu disco não só como produtor, mas também dá a voz em "Bonita".

Apesar de teres no currículo muitas colaborações, esta é a primeira vez que te aventuras a solo. Porquê só agora?

Primeiro que tudo, senti-me preparado. Senti-me com as pessoas certas à minha volta para fazê-lo. Porque sempre foi uma coisa que quis fazer. Ainda no outro dia dei conta que já tinha falado num álbum a solo há dez anos. Mas sempre foi algo que, com o sucesso e com a grandeza que os Da Weasel tiveram, tinha medo. De falhar comigo próprio e de falhar com os fãs. Então fui sempre adiando e empurrando a ideia para a frente.

É é por isso que, depois de três singles que já conhecemos e milhares de audições nas várias plataformas digitais, só agora é que sai o álbum?

O disco era para ter saído mais cedo, mas depois as coisas também foram acontecendo naturalmente e foram acontecendo bem, fomos deixando as coisas correr...

Já passaste também por uma intensa digressão com dezenas de concertos de norte a sul do país...

O que me deu espaço para voltar ao estúdio e para re-gravar e mudar coisas. Foi muito bom essa experiência que nunca tinha tido. Já tinha ouvido falar de artistas americanos que fazem muito isso, rodam ao vivo e depois é que vão para estúdio. É uma boa forma de se gravar um disco. Acabei por alterar muita coisa, até a própria sonoridade. O disco estava a ir um pouco por um caminho digital e acabei por trazer os músicos, que me acompanham ao vivo, para estúdio.

Quem é a Rainha que procuras?

É a rainha que se encaixe no rei, com qualidades e defeitos, e que saiba cuidar de mim e da minha filha.

E quem é esta Rainha em especifico que falas no disco?

Era a pessoa com quem eu estava, com quem me mudei para Angola, por quem fui atrás e acreditei que seria a minha Rainha. Infelizmente não foi, mas felizmente trouxe-me outras coisas boas.

E qual é o reinado que procuras construir na música portuguesa?

É ter o meu espaço e poder continuar a fazer aquilo de que gosto durante muitos mais anos. Poder dar essa alegria ao público que me vai ver ao aos meus concertos. Sinto uma satisfação enorme em poder dar alegria nos concertos ao vivo. Como uso essa regra para mim mesmo, fico chateado quando há artistas que vão fazer fretes. Ao vivo deves dar tudo e ser genuíno. Há putos que juntam dinheiro e fazem quilómetros para te ir ver ao vivo, esse momento deve ser especial. Tenho uma satisfação especial em poder dar esse prazer com o melhor que sei fazer. E espero que continuar aqui muitos anos.

“I Need This Girl” marca o “reencontro” com Carlão na música. Como foi?

Sempre tive algum receio de assumir a escrita na música, embora tenha escrito algumas coisas nos Da Weasel. Por norma era o Carlão quem tomava as rédeas nesse campo e acho que fiquei mal habituado. Admiro imenso o Carlão na forma como ele escreve. Tentei com duas pessoas no início da criação do disco, quando achava que deviam ser outras pessoas a escrever para mim — depois acabei por ser eu a escrever, como o "Rainha", e passou-me esse fantasma. Mas a verdade é que experimentei com duas pessoas e não estava satisfeito. Tinha o refrão da "I Need This Girl" feito, mas faltava qualquer coisa... Então tomei coragem, confesso que tomei coragem porque já não falava com o Carlão há muito tempo, e liguei-lhe. E o Carlão: 'puto, bora claro que sim, escrevo para ti'. E a verdade é que quando veio, foi logo automático. Viu-se ali o facto de termos estado juntos muitos anos.

Para além do Carlão contas ainda com a colaboração do Nelson Freitas e da brasileira Ludmilla no disco? Como é que isso aconteceu? É uma forma de chegar a novos mercados?

No caso da Ludmilla, sim. Sempre vi o tema "Rainha" como uma música que poderia ser um dueto com alguém brasileiro, o Seu Jorge, mas depois não houve essa oportunidade. Mais tarde surgiu a hipótese de fazer com a Ludmilla, com quem me identifico com a música e com a garra, e disse logo: 'porque não'. E depois tem esse lado como estavas a dizer, o Brasil cada vez está mais aberto à música que vem de fora.

Com o Nélson... sou fã, gosto muito da sua música e sou amigo pessoal. [A colaboração] surgiu naturalmente, e acho que é assim que devem ser. O primeiro passo é ser com um artista de quem goste...

Com quem sonhas um dia colaborar?

O Pharrell, a Beyoncé, a Camilla Cabrero, que vi agora nos MTV European Music Awards... tantos.

Já que falamos em Brasil, aproveito para te perguntar o que é que sentiste quando, por ocasião da tua — do Carlão e dos HMB— passagem pela edição do Rock in Rio, o Folha de São Paulo escreveu que "o hip-hop português ainda está no jardim de infância"?

Li de uma forma natural, até porque, segundo o que nós depois soubemos, quem foi lá, foi mal indicado. Foi à procura de ouvir hip-hop, é natural que escreva aquilo. Hoje em dia as minhas costas estão tão largas... Sei realmente aquilo que quero e sou muito fiel a mim mesmo. Embora saiba ver que às vezes tenho que amolecer. Quando digo isto não me refiro a fazer de algo que não goste ou que vá contra a minha verdade, mas sou muito puro. Sempre gostei de refrães orelhudos, gosto de música comercial. Assumo isto para toda a gente. Adoro e consumo bué pop. Quem gosta, gosta...

O álbum sai a 24 de novembro, o que podemos esperar?

É um álbum muito positivo e curto. Tinha muitas ideias, mas achei que era o suficiente. Sou muito apologista de ter um álbum curto mas bom, do que estar a tentar a encher chouriços, como se costuma dizer. É, sobretudo, muito festa.

E o que podemos esperar dos próximos meses? Já há agenda?

Estamos aqui a cozinhar a Tour Saber Aceitar 2018 e temos single novo brevemente, “Nina”.

O álbum chama-se “Saber Aceitar”. Pergunto ao contrário: o que é que ainda não sabes aceitar?

Eish, pergunta difícil… Não sei aceitar que chegou o meu fim.