“Esta exposição vai apresentar toda uma série de documentos, imagens e conceitos relacionados com a figura de Fernando Pessoa”, disse João Fernandes, entrevistado pela agência Lusa, uma semana antes da inauguração da exposição “Pessoa. Toda a arte é uma forma de literatura”.
Partindo da obra literária do poeta e escritor português Fernando Pessoa, a exposição vai reunir, de 07 de fevereiro até 07 de maio deste ano, várias obras de artistas portugueses, relacionadas com as principais correntes estéticas de Portugal desde os inícios do século XX até 1935.
Trata-se de “um conjunto vasto de obras obtidas graças à coprodução” com a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, onde se encontra a história do Modernismo em Portugal, e “vão ser apresentados nomes fundamentais […], assim como as suas ligações internacionais”, sublinhou João Fernandes.
Com curadoria da historiadora de arte Ana Ara e de João Fernandes, que antes de chegar a Madrid em 2012 foi diretor do Museu de Serralves, no Porto, a mostra vai ter uma seleção de obras de José de Almada Negreiros, Amadeo de Souza-Cardoso, Eduardo Viana, Sarah Affonso e Júlio, entre outros, todos relacionados com as principais correntes estéticas portuguesas da primeira parte do século XX.
Para João Fernandes, “esta vanguarda portuguesa, que é de certa forma protagonizada por Fernando Pessoa”, é “extremamente interessante de apresentar e de interrogar”.
Segundo o Museu Rainha Sofia, o objetivo da mostra é o de estabelecer uma perspetiva das principais correntes estéticas portuguesas até 1935, ano da morte de Pessoa, e do modo como a obra do poeta foi determinante para a particularização das expressões portuguesas da época.
“É uma outra forma de contar uma história da arte a partir de uma vanguarda periférica como a portuguesa que em Espanha é muito pouco conhecida”, resumiu o subdiretor do museu madrileno.
Para João Fernandes, a exposição vai significar “uma grande revelação de todo este contexto da arte de vanguarda portuguesa”, e vai servir para “nos interrogarmos sobre o que foi a relação entre centro e a periferia, no princípio do século XX na definição das novas linguagens artísticas”.
“Fernando Pessoa contrapõe conceitos seus, vanguardas suas, a que dá o nome de Intersecionismo ou Sensacionismo, aos modelos dominantes que chegavam de Paris, como o Cubismo ou o Futurismo”, explica o curador da mostra.
A mostra aborda o Paulismo, o Interseccionismo e o Sensacionismo, termos empregados pelo poeta, e que representam o eixo central da modernidade portuguesa, para articular um relato visual da arte nacional através do trabalho de vários artistas.
Segundo a página de apresentação da exposição na internet, algumas destas obras refletem “um gosto pelo popular e pela idiossincrasia lusa, tão presente na obra dos artistas portugueses” que viajaram a Paris, como na dos artistas estrangeiros que passaram por terras portuguesas, como é o caso do casal Sonia e Robert Delaunay.
A mostra dedica também uma atenção particular às revistas publicadas durante aquele período, como A Águia, Orpheu, K4 O Quadrado Azul, Portugal Futurista e Presença, em que foram publicados alguns textos de Fernando Pessoa, e que serviram como “caixa-de-ressonância” para estas ideias vanguardistas, exercendo uma grande influência estética e ideológica na intelectualidade portuguesa da primeira metade do século XX.
Para João Fernandes, ter mudado para Madrid, em 2012, significou passar a trabalhar “num conceito histórico mais amplo” do que aquele em que trabalhava em Serralves.
Enquanto em Serralves fazia uma interpretação da história da arte a partir dos anos 60 do século passado, no Rainha Sofia há “uma narrativa sobre a história da arte” que começa em finais do século XIX, possibilitando “contar uma relação entre a arte e a história, de uma forma mais ampla ao nível cronológico”.
“Neste momento penso apenas em continuar o projeto no qual estou”, disse João Fernandes que deverá continuar na equipa da atual direção do museu, liderada por Manuel Borja Villel, que acaba de renovar por mais cinco anos o contrato que tem com o Ministério da Cultura de Espanha.
O Museu Rainha Sofia é o mais visitado de Espanha e um dos mais visitados em todo o Mundo, com mais de 3,6 milhões de entradas em 2016.
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