1. Calhau com dois olhos

Estúpido, acéfalo. Aplica-se para desqualificar completamente alguém, comparando-o com um calhau, uma pedra, que é desprovida de inteligência. O animismo com dois olhos aumenta, sem dúvida, o efeito pretendido, pois a verdade é que o facto de acrescentar a visão a um mineral não lhe confere qualquer vantagem. É como se visse as coisas, mas não percebesse nada.

2. Cara de cu à paisana

Feio, antipático. Expressão utilizada para referir alguém, conhecido ou desconhecido, de quem não se gosta. A associação é feita de duas maneiras: primeiro a referência ao rosto, nada agradável, que mais parece um traseiro; e depois o facto de andar dissimulado, à paisana, numa alusão implícita às autoridades policiais, que também são vistas por muita gente com desconfiança.

"É Desta Que Leio Isto"

"É Desta Que Leio Isto" é um grupo de leitura promovido pela MadreMedia e por Elisa Baltazar, co-fundadora do projeto de escrita "O Primeiro Capítulo”.

Lançado em maio de 2020, foi criado com o propósito de incentivar à leitura e à discussão à volta dos livros. Já folheámos as páginas de livros de autores como Luís Sepúlveda, George Orwell, José Saramago, Dulce Maria Cardoso, Harper Lee, Valter Hugo Mãe, Gabriel García Marquez, Vladimir Nabokov, Afonso Reis Cabral, Philip Roth, Chimamanda Ngozi Adichie, Jonathan Franzen, Isabel Lucas, Milan Kundera, Joan Didion, Eça de Queiroz e Patricia Highsmith, sempre com a presença de convidados especiais que nos ajudam à discussão, interpretação, troca de ideias e, sobretudo, proporcionam boas conversas.

Ao longo da história do nosso clube, já tivemos o privilégio de contar nomes como Teolinda Gersão, Afonso Cruz, Tânia Ganho, Filipe Melo e Juan Cavia, Kalaf Epalanga, Maria do Rosário Pedreira, Inês Maria Meneses, José Luís Peixoto, João Tordo e Álvaro Laborinho Lúcio, que falaram sobre as suas ou outras obras.

Para além dos encontros mensais para discussão de obras literárias, o clube conta com um grupo no Facebook, com mais de 2500 membros, que visa fomentar a troca de ideias à volta dos livros, dos seus autores e da escrita e histórias que nos apaixonam.

Subscreva a Newsletter do É Desta que Leio Isto aqui e receba diretamente no seu e-mail, todas as semanas, sugestões de leitura, notícias e acesso a pré-publicações.

3. Cu d’arroba

Anafado, que tem nádegas muito volumosas em relação ao resto do corpo. Aqui, o tripeiro andou sempre muito à frente. Antes da moda do traseirocamião, ao estilo Kardashian, era inestético e motivo de gozo o facto de alguém ter as nádegas avantajadas. A alcunha mais vulgar era a de cu d’arroba, ou seja, como que a dizer que só o traseiro pesava 15 quilos (uma arroba).

4. Lambão

Guloso. Egoísta. Ora aqui temos um termo que no Porto ganha especial sentido, sendo, de resto, uma das palavras mais tripeiras. Se, por um lado, o lambão é aquele que se lambuza quando come (comilão, lambareiro), por estes lados aplica-se igualmente ao indivíduo que quer tudo só para si, que não quer repartir com ninguém. Isto pode acontecer na culinária, num jogo de futebol, enfim, em qualquer situação.

5. Lambe-cricas

Homem muito fraco, a quem falta virilidade e que anda sempre à volta das senhoras, mas para procurar companhia, e não sexo, o que era extremamente reprovável em termos sociais! Tido em fraca conta pelos homens ditos “a sério”. Aponta para a incapacidade de ter uma relação sexual como “debe de ser”. Quando muito, alude ao sexo oral. Do grego krikos, anel, a crica é, por associação visual, o órgão sexual feminino. No Porto, também se chama lambe-cricas a um cão de pequeno porte.

6. Lavajão

Porco, sem asseio. Diz-se do que come qualquer coisa e qualquer tipo de mistura. O prato de um lavajão é inqualificável, bem como o espaço que o rodeia, onde reina a lavajice. Come sem aprumo, sem quaisquer critérios e literalmente tudo e por qualquer ordem. Virá de lavagem, que era a comida (constituída por restos, alguns já em estado de putrefação) que se dava aos porcos. Também existe a expressão boca de lavagem, que descreve alguém desbocado ou intriguista.

Livro: "Falar à moda do Porto"

Autor: João Carlos Brito

Editora: Ideias de Ler

Data de Lançamento: 7 de setembro de 2023

Preço: € 15,50

Subscreva a Newsletter do É Desta que Leio Isto aqui e receba diretamente no seu e-mail, todas as semanas, sugestões de leitura, notícias e acesso a pré-publicações.

7. Manguela

Preguiçoso, calão, malandro. O que não gosta de trabalhar. Possivelmente, provirá do gitano mangar, de raiz sânscrita, que significa pedir, mendigar e, num outro sentido, iludir, enganar, mantendo um ar sério, características que cabem direitinho no nosso manguela. O verbo será responsável pela criação dos neologismos manguelar, manguelice e, claro, manguela.

8. Morcão

Lorpa, estúpido. Pessoa lenta, lerda de ideias. Insulto que pretende comparar o visado com o bicho larvar da fruta, na medida em que é desprovido de inteligência. Morcón é também um enchido de carne magra, da região espanhola da Extremadura, feito com intestino grosso de porco.

9. Nhonhinha

Atado, palerma. Pessoa pouco desenrascada. Abreviatura de panhonha, lorpa, ou possível corruptela de choninha, por efeito exagerado de onomatopeia em nh, que pretende ironizar a forma nada eloquente de falar de um nhonhinha – alguém de poucas convicções, apalermado e nada firme nas suas opiniões e atitudes.

10. Trambalazana

Ou trombalazana, trambalazanas, trombalazanas. Desajeitado, homem apalermado, alto e corpulento, mas de uma forma desengonçada. A palavra refere também um individuo mal-encarado, rude, sendo sinónimo do popular trombudo. A explicação poderá estar na medicina popular, pois o termo, em certas regiões do Norte, designa também um ataque súbito, uma doença repentina e que pode deixar marcas.