"Pode Um Desejo Imenso" é o único romance de Frederico Lourenço. O É Desta Que Leio Isto recebe o autor no próximo encontro, marcado para dia 23 de maio, quinta-feira, pelas 20h00, para falar sobre esta obra.
"Pode Um Desejo Imenso", obra inicialmente publicada em 2002, conta a história de Nuno Galvão, professor universitário de Literatura, que pensa ter descoberto a chave para a compreensão da poesia lírica de Camões: a paixão do poeta pelo jovem D. António de Noronha, de quem Camões teria sido precetor.
Antes do encontro, Frederico Lourenço conta ao SAPO24 como surgiu esta obra. "Este livro nasceu de um livro sobre Camões que comecei a escrever há muitos anos, cujo título era O Canto das Tágides e que acabei por não escrever. Transferi as ideias desse livro para os trabalhos camonianos da minha personagem Nuno Galvão, especialista de Camões na Universidade de Lisboa. A ideia de que Camões teria estado platonicamente apaixonado pelo jovem D. António de Noronha não tinha (nem tem) sustentação académica, mas dava uma ficção interessante. Foi a partir daí que tudo começou".
Publicado inicialmente em 2002, "o livro foi muito bem recebido, pois teve sete edições na Cotovia e a nova edição na Quetzal já encontrou muitos leitores" — e tem algumas diferenças face à primeira.
"A edição da Quetzal dá a ler o livro da forma que considero ideal, porque as três partes estão organizadas segundo a ordem da escrita. O livro começou por sair em três fascículos na Cotovia e a nova edição da Quetzal reflete a ordem segundo a qual as partes foram publicadas, o que proporciona a experiência de leitura que considero a mais acertada", explica o autor.
Devido à trama do livro, esta é também uma forma de se olhar para o autor de Os Lusíadas. "Para mim, celebrar os 500 anos do nascimento de Camões é o estímulo ideal para um novo empenhamento na sociedade portuguesa com o maior autor da nossa literatura", aponta Frederico Lourenço. "O mundo anglo-saxónico tem Shakespeare; Itália tem Dante; nós temos Camões, que não fica um milímetro abaixo desses dois génios".
"Ler ficção inspirada na vida e obra de Camões pode proporcionar uma entrada agradável no universo camoniano, mas para mim o mais importante é ler e reler a própria poesia de Camões. O fascínio deste autor é para mim inesgotável", nota.
E não se pense que a literatura está ultrapassada e que os livros são objetos obsoletos, num mundo de tecnologias. "Como eu digo aos meus alunos na Universidade de Coimbra: um livro não precisa de bateria, nem de wi-fi, nem de password. Só essas três coisas de que não precisa fazem dele um objeto maravilhoso e insubstituível para salvarmos a nossa saúde mental".
Se pudesse viver dentro de um, Frederico Lourenço tem uma "mistura" preferida. "Teria de ser um livro em que pudesse comprimir os meus quatro poetas preferidos: Homero, Vergílio, Horácio e Camões. Não esquecendo o Novo Testamento em grego", garante.
A uma semana do clube, o autor mostra-se entusiasmado com a sessão. "Estou muito feliz com este convite. É para mim um gosto enorme trocar ideias sobre Camões e tenho um carinho especial pelo meu livro 'Pode Um Desejo Imenso', onde ainda hoje encontro páginas que me orgulho de ter escrito", remata.
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Frederico Lourenço é ensaísta, tradutor, ficcionista e poeta. Nasceu em Lisboa, em 1963, e é atualmente professor associado com agregação da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e membro do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da mesma instituição.
Foi docente, entre 1989 e 2009, da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Línguas e Literaturas Clássicas (1988) e se doutorou em Literatura Grega (1999) com uma tese sobre Eurípides, orientada por Victor Jabouille (Lisboa) e James Diggle (Cambridge). Publicou artigos sobre Filologia Grega nas mais prestigiadas revistas internacionais (Classical Quarterly e Journal of Hellenic Studies) e, além da Ilíada, traduziu também a Odisseia de Homero, tragédias de Sófocles e de Eurípides, e peças de Goethe, Schiller e Arthur Schnitzler.
No que diz respeito a obras de ficção, o seu único livro é "Pode Um Desejo Imenso". Na poesia, é autor de "Santo Asinha e Outros Poemas" e de "Clara Suspeita de Luz".
Frederico Lourenço recebeu os prémios PEN Clube Primeira Obra (2002), Prémio D. Diniz da Casa de Mateus (2003), Grande Prémio de Tradução (2003), Prémio Europa David Mourão-Ferreira (2006). Em 2016, venceu o Prémio Pessoa pela sua tradução da Bíblia.
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