O terceiro disco dos HMB chegou às lojas - e ao Spotify - a 10 de fevereiro e o SAPO24 encontrou-se com a banda um dia antes do lançamento, em pleno ensaio, para medir o pulso ao coletivo composto por Héber Marques (voz), Joel Xavier ou, simplesmente, X (baixo), Joel Silva (bateria), Fred Martinho (guitarra) e Daniel Lima (teclado).
Apesar de não serem novos nestas andanças - o projeto tem dez anos, oito dos quais com a atual formação -, assumem que ainda não é fácil lidar com a expectativa sobre a forma como o seu trabalho será recebido pelo público e pela crítica.
“A expectativa é difícil de se lidar, é uma coisa que se vive, só. Estás num estado expectante e pronto. Eu pelo menos não sei lidar. Sabes lidar com ela, Fred?”, pergunta Hebér. “A melhor maneira de se lidar com a expectativa é mantermo-nos ocupados”, responde o guitarrista, para quem os ensaios ajudam a afastar a ansiedade.
“Sabemos que não podemos agradar a toda a gente”, acrescenta Daniel, salientando o carinho constante que recebem da sua base de fãs. “Nós fazemos a música de uma maneira honesta por isso não me lembro de nos sentirmos abalados por uma crítica negativa”, diz. “Eu lembro-me, mas eu sou o que sofro mais”, assume Joel, com um sorriso nos lábios.
“Cada vez recebemos mais avaliações e é bom, quer dizer que as pessoas estão mais atentas ao nosso trabalho. Algumas vão ser positivas, outras vão ser menos positivas, mas eu acho que isso faz sempre parte, temos de saber lidar com isso”, diz X, acrescentando que “a experiência ajuda a criar também um bocado de casca grossa”. No fim do dia, conclui Héber, o vocalista, “se as coisas fizerem sentido e forem críticas pertinentes, vamos abraçar.”
E “Mais” é um álbum especial: “foi um disco muito mais difícil, pelo peso de ser um terceiro disco e também pela carga de trabalho que tínhamos. Ao ponto de termos de começar a levar o material de gravação para a estrada. Houve músicas, como é o caso da ‘Estrela brilha’ e ‘Peito’, em que grande parte do tema foi gravado em Macau, num quarto de hotel. Tivemos de começar a levar o estúdio às costas para poder cumprir com os prazos que tínhamos estabelecido”, conta Héber. “E não cumprimos”, contrapõe Joel arrancando uma risada do grupo. “Saiu quando tinha de sair”, acrescentou.
Apesar da agenda cheia, “a partir do momento em que encontrámos uma linha, conseguimos segui-la sem nenhum entrave”, conta Héber. “A nossa frase de sempre: é assim que sentimos, é assim que entregamos. E fizemos isso, mas pesa mais a responsabilidade”, assume X, baixista dos HMB.
Quando questionados sobre a sonoridade de “Mais”, o grupo dá conta de algumas das influências deste trabalho.
“Nós estamos numa de experimentar mais guitarras, não sei se é pelo facto de sermos grandes fãs de Lenny Kravitz. Durante semanas e meses a fio acabava o ensaio e nós começávamos a tocar Lenny Kravitz até às tantas da manhã, só porque sim.”, recorda Héber. “Acho que fomos buscar alguns artistas que também são muito soul, como o Prince. Essa influência também foi muito forte, mais elétrico, mais pesado”, conta Daniel. “Na verdade, quem estiver atento e conhecer bem a obra do Prince vai sentir que este foi o disco em que ele mais nos influenciou. Por sermos todos fãs e talvez pelo facto de termos estado a trabalhar no disco no ano da morte dele. Acho que quem estiver atento vai sentir mesmo essa presença”, acrescenta Fred. Então temos um disco mais rock, perguntamos? “Não sei se é mais rock no sentido clássico da palavra, mas é de certeza mais aventureiro e isso tem um bocado a ver com o rock, sim”, conclui X.
O ‘hit' que ficou dois anos numa gaveta
“Mais” conta com algumas participações de peso, nomeadamente de Carminho (no tema “O Amor é Assim”), de Emicida (no tema “Estrela Brilha”) e do DJ Ride. “É uma mais-valia ter participações, mas é, em primeiro lugar, a pensar na música, no que ela pede. No caso do tema “O Amor é assim”, a música “estava na gaveta à espera do dueto”, explica Joel. “No dia em que fomos gravar as vozes fez todo o sentido”, conta Héber. Joel continua: “Tivemos a sorte de ser a Carminho, de ela se ter tornado uma grande amiga da banda, e da música se ter tornado o [sucesso] que foi. E sabemos que isso de deve, em grande parte, também pela participação dela. Sabemos e estamos agradecidos pela projeção que ela ajudou a dar à música. O caso do Emicida é um bocado na mesma linha. A música tem um sabor a Brasil, fazia sentido juntar alguém que pudesse trazer um bocadinho mais dessa linguagem e foi isso que aconteceu. Obviamente também temos interesse que as pessoas que o ouvem possam também ouvir-nos e, talvez, possam estabelecer uma relação com a nossa música”, explica.
No que diz respeito ao DJ Ride, “é um amigo antigo” da banda, um profissional pelo qual nutrem “um grande respeito, uma grande admiração”, diz Héber. “Achamos que ele é genial naquilo que faz, então sempre que queremos ter uma vertente mais pesada, eletrónica, achamos que é uma linguagem muito Ride e recorremos a ele”, acrescenta.
Ainda sob o mote de “O Amor é assim”, questionamos os HMB sobre a escolha dos singles, os temas que servem de apresentação ao disco, o porta-estandarte. “Isso é sempre difícil, é horrível”, diz X, entre as gargalhadas do resto do coletivo. “Nós somos muito parecidos, mas somos muito diferentes na maneira como ouvimos as músicas que tocamos”, conta Joel, dizendo que há sempre divisões quando chega a hora de escolher os temas que vão ser lançados. “E depois é sempre muito chato porque nunca sabes [como será recebido]. E o nosso histórico nem sequer é perfeito em termos de singles. A grande maioria bateram todas, mas já tivemos uma ou duas músicas que lançámos e …”
“Também bateu… bateu na trave!”, completa, Héber, arrancando gargalhadas dos restantes membros.
“É uma luta e depois é fé para que aquilo que vamos lançar corresponda ao que estamos a imaginar”, acrescenta X. “Para nós, todas eram single, ou quase todas, porque gostamos de uma por uma coisa e de outra por outra coisa. Não temos oportunidade de lançar doze singles, temos de escolher duas ou três músicas daquele álbum”, lamenta Daniel.
E por vezes as músicas levam o seu próprio tempo, como foi o caso de “O Amor é assim”, que só foi editada dois anos depois e se tornou um sucesso. “Quando é um ‘hit’ [um sucesso] é mais fácil de escolher, mas nem sempre às vezes o ouvido deteta o ‘hit' tão rapidamente”, conta Héber.
“Mais, mais, mais… era demais”
Questionados sobre o nome deste disco, “Mais”, a banda deixa escapar que o álbum era para se chamar “Mais, mais, mais”, lembrança que arrancou outra gargalhada da banda. “Cortamos dois mais”, conta Héber, “era redundante”. “Mais, mais, mais… era demais”, continua X, em tom de brincadeira.
Mas, afinal, o que significa este “Mais”? “Representa mesmo a fase em que estamos. Já temos percurso, queremos que seja mais longo, com mais pessoas à nossa volta, com mais música. Chegar mais longe - como por exemplo ao outro lado do oceano [Brasil] -, chegar melhor, com mais entrega da nossa parte. Tem tudo a ver com esse propósito de se tornar tudo maior”, explica Fred.
A banda admite que, uma década depois da criação do grupo, está a viver um momento ascendente. Este é, portanto, um tempo propício a balanços.
“Tivemos de penar muito”
“Se, desde o início, nós soubéssemos que íamos estar aqui, seria difícil de imaginar isto tudo a acontecer. Felizmente, passados 10 anos, muitos dos nossos sonhos já foram concretizados, e isso é ótimo”, diz X.
É possível viver da música? “Sim”, diz Héber, mas “quem estiver a pensar em fazer isso, que arregace as mangas porque vai dar muito trabalho”, acrescenta. Tivemos que penar muito. Tivemos de fazer de tudo um pouco dentro da música, mas é possível [viver da música]”, diz o vocalista. “Todos os ‘gigs’, copos de água, é agarrar tudo. Toda a hipótese que se tenha de tocar ao vivo é uma hipótese para crescer, para aprender, para se meter dinheiro no bolso e seguir em frente”, diz Fred.
“Nós já passamos por algumas dificuldades”, conta o guitarrista, “Em 2014 passamos por um período onde realmente se sentiu que ou ‘Vai ou Racha’. E foi na altura que até surgiu essa canção, que aparece agora neste disco, e que acabou por ser um mote para nos tirar desse momento menos feliz. Sentimos de certa forma a crueldade deste mercado que é: estás bem e no minuto a seguir não estás bem. Tiraram-nos o tapete, tivemos de lutar para nos reestruturar e, poucos meses depois, estávamos a começar a fase incrível que nos levou até aqui.”
E o facto é que a experiência - e os conselhos do manager, Vítor Carrilho - os ensinou a trabalhar por antecipação. “Nós estamos em 2017, mas já estamos a fazer planos para 2018, é assim que tem de ser”, conta Héber.
“Enquanto HMB existir acho que [o amor] vai sempre ser uma temática”
Muito mudou na vida dos HMB desde o lançamento de “Sente”, o segundo álbum, de 2014. A música ganhou cada vez mais espaço - só Joel continua a conciliar a música com outras atividades, mas assume que isso é cada vez mais difícil - e quase todos se decidiram aventurar nisto da paternidade. Só Daniel 'escapou', mas já tem um plano: “eu apanho-os, vou trabalhar logo para os gémeos”, diz, em tom de brincadeira.
“Realmente, os filhos nasceram todos na altura em que as coisas começaram a acontecer, não foi?”, pergunta Fred. A resposta surge pela voz de X: “Quando tínhamos mais trabalho a gente resolve [ter filhos]”.
“Quando as coisas começaram mesmo a tornar-se incontornáveis, em que havia uma ascensão clara [dos HMB], foi quando apareceram os bebés. Obviamente que o aparecimento de um bebé na vida de uma pessoa torna todos os clichés à volta da paternidade reais. Eu acho que acima de tudo, [o que mudou] foram as viagens de volta. O pessoal começou a encurtar. Íamos tocar e em vez de se ficar para o dia seguinte, arranjávamos maneira de voltar mais cedo para estar com as famílias. E passámos a ter bebés nos ensaios”, conta Fred. “E na estrada”, acrescenta Joel.
O facto é que a Família HMB cresceu nestes dois anos e isso foi visto pelo coletivo com naturalidade. “Somos uma família e portanto toda a gente à nossa volta, laços de sangue e de amizade, são bem-vindos ao nosso meio, portanto, foi super natural”, conta Fred.
“Somos muito francos uns com os outros, também temos uma dose grande de paciência uns para com os outros. Na verdade não é só pelo cliché. É verdade que há coisas que calha bem dizer, mas não é o caso, é porque somos mesmo família. Eu acho que isso se nota em cima de palco, quem nos vê, quem interage connosco percebe isso”, conclui Héber.
E este é o mote perfeito para falar de amor, uma temática muito presente em todos os discos do grupo.
“Nós somos seres humanos. Vivemos de relacionamentos e vivemos na necessidade constante desses sentimentos, que têm tantas formas, que mudam, que precisam de ser lembrados tantas vezes, que precisam de ser celebrados tantas vezes. Então, enquanto HBM existir acho que isso vai sempre ser uma temática, sempre. Por vezes, quando éramos mais novos, ficávamos um bocado melindrados de ser associados à temática, mas hoje em dia temos orgulho de o fazer porque achamos que o fazemos bem”, explica Héber.
"O nosso manager tem um problema…"
Famílias, bebés, estrada… e datas, já há datas?
“Vamos estar aí pelo país e vamos tocar no país todo. A perspetiva é boa e também estamos a preparar grandes surpresas mais lá para a frente e que vamos anunciar a seu tempo”, diz X, sem adiantar para já qualquer data e Héber explica porquê: “o nosso manager disse-nos: a partir de dia 10 [de fevereiro, dia de lançamento do disco] vou soltar os cães”. A gargalhada é geral.
Acrescenta Joel, em tom de brincadeira: “O nosso manager tem um problema… não para de marcar datas. Tínhamos acertado um número para este ano e ele não vai conseguir cumprir, porque vai ultrapassar. Nós estamos no início de fevereiro e…”
“Há mais de 20 datas neste momento. Há mais de 30 datas. Já há mais 40 datas neste momento…”, vai brincando Fred enquanto aponta para o relógio, para gáudio dos colegas e amigos. E assim que os deixamos voltar ao ensaio, sem datas, mas com a promessa de os ver tocar muito ainda este ano, um pouco por todo o país.
Comentários