“Sound it. Rádio Antecâmara” é o nome da instalação sonora de João Galante, com curadoria de Alessia Allegri e Pedro Campos Costa, que tem por detrás uma rádio, que explora novos significados da arquitetura e abre novas perspetivas sobre o ambiente construído, através de histórias pessoais e investigações realizadas por um conjunto de profissionais.
A escolha da rádio como “mediador” prende-se com a necessidade de “abrandar” nestes tempos corridos em que “estamos constantemente a ser bombardeados com imagens”, explicaram os curadores durante uma visita à imprensa, no espaço Garagem Sul, do CCB.
“A palavra, ao contrário da imagem, implica uma paragem, um abrandamento, ir mais devagar para ouvir. A arquitetura é uma arte generalista, muito para além da simples arte de construir espaços. É a voz que representa as necessidades das pessoas que lá vivem e convivem”, afirmou Alessia Allegri.
Segundo Pedro Campos Costa, “o espaço é tridimensional, mas também sensorial e isto é muito importante”.
“Só nos apercebemos, por exemplo, quando vamos a um restaurante com uma acústica péssima. É muito importante o som para o conforto que o espaço nos dá”, acrescentou.
A instalação consiste, assim, num corredor escuro construído em cartão — material escolhido porque “reverbera, mais do que absorve, o som” -, em torno de um espaço central ocupado por um estúdio de rádio.
O visitante percorre esse corredor escuro, com alguns pontos de luz, e vai ouvindo fragmentos de conversas, a várias vozes, sobre arquitetura entremeadas por música.
“Não há qualquer imagem visual. A ideia é que possamos imaginar, criar uma imagem visual na cabeça, só ouvindo as vozes”, disse a curadora.
Por detrás desses sons está a rádio Antecâmara e o programa radiofónico “Vertigem das Listas”, de Pedro Campos Costa, que “roubou” o nome a uma obra de Umberto Eco, e que consiste em convidar, por exemplo, um arquiteto, que escolhe um edifício e através de uma ‘playlist’ tenta concretizar esse edifício.
É, pois, por meio de diálogos entre arquitetos, artistas, designers, e nas conversas com poetas ou paisagistas, entre os interlúdios feitos de sons e de música, que a Rádio Antecâmara observa mais de perto a contemporaneidade.
Nesse corredor construído para a exposição, são as ressonâncias, os ecos, os silêncios e os significados das palavras extraídos do programa radiofónico e recompostos numa nova partitura, que ecoam, criando sensações.
Esse percurso elíptico desenrola-se em torno de um espaço performativo ocupado por um estúdio, onde vão decorrer ao vivo conversas com convidados sobre arquitetura e um determinado tema.
Trata-se de uma residência, com a programação de rádio, que “transforma o espaço expositivo passivo num espaço expositivo interativo”, especificou André Tavares, responsável da programação da Garagem Sul.
“Árvores sem raízes”, conversas sobre a construção da paisagem contemporânea; “Livros Pedidos”, reflexões sobre literatura, cinema e arquitetura; “Vídeo did Not Kill de Radio Star”, debate com jornalistas sobre o papel da rádio e dos novos conteúdos sonoros nas comunidades atuais; “As cidades invisíveis”, uma leitura sonora a partir da obra de Italo Calvino para descobrir o que torna uma cidade visível, são algumas das sessões radiofónicas previstas.
Outros programas são “Territórios de transgressão”, em que arquitetos e juristas debatem a construção de territórios; “When Socrates was an Architect”, uma aula aberta sobre o ensino de arquitetura através de ondas de rádio; “Cinediálogos”, conversas sobre cinema e arquitetura; “Fora de pé”, sobre o percurso profissional alternativo que a formação em arquitetura permite; “Tela habitada”, sobre a relação da arte com a arquitetura.
A exposição recebe ainda “Another brick in the wall”, pensamentos sobre a arquitetura a partir dos materiais de construção; “Na cozinha do conselheiro Ayres”, um almoço na Garagem Sul em que se fala da forma como o que escolhemos comer transforma a paisagem; “A arquitetura do ‘novo’ mundo”, uma conversa sobre as infraestruturas aparentemente invisíveis por detrás das grandes transformações.
Os restantes programas radiofónicos são “Post Scriptum”, para compreender a razão por que arquitetos publicam livros; “Pensamentos construídos em áudio: narrativas não convencionais e outros podcasts”, reflexão sobre como estes géneros tiveram impacto na arquitetura; “erosÃo”, peças sonoras que refletem sobre os espaços cosntruíddos; e “(In) certos Contextos”, discussão sobre o legado deixado pela arquitetura brasileira”.
A exposição vai estar patente até ao dia 4 de setembro.
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