Com esta escolha, que a academia sueca justificou pela “inconfundível voz poética que, com beleza austera, torna universal a existência individual”, Louise Gluck tornou-se a sétima mulher a ser distinguida neste século e a 16.ª, desde o começo, entre as 117 pessoas a quem foi atribuído o Nobel da Literatura.

Desde então, a escritora de 77 anos mal falou publicamente sobre a sua vitória, mas hoje, no seu discurso de aceitação do prémio, revela um conflito de sentimentos sobre a vitória.

Começando por descrever a sua relação de vida com a poesia, particularmente “poemas de seleção íntima”, de William Blake e Emily Dickinson, afirmou: “Foi uma surpresa para mim na manhã de 8 de outubro sentir o tipo de pânico que tenho vindo a descrever. A luz era demasiado brilhante. A escala era demasiado vasta”.

"Aqueles de nós que escrevem livros, presumivelmente desejam chegar a muitos. Mas alguns poetas não se veem a alcançar um grande público, como num auditório cheio. Eles veem-se a chegar a muitos temporalmente, sequencialmente, muitos ao longo do tempo, no futuro, mas de alguma forma profunda estes leitores vêm sempre a título individual, um a um", acrescenta.

Na opinião de Louise Gluck, ao distingui-la, a Academia Sueca escolheu "honrar a voz íntima e privada, que a expressão pública pode por vezes aumentar ou prolongar, mas nunca substituir".

A poeta contou como, com apenas 5 ou 6 anos, encenou mentalmente um concurso para decidir qual era o melhor poema do mundo, e que os dois finalistas foram "The Little Black Boy", de William Blake, e "Swanee River" de Stephen Foster.

Para a autora, competições deste tipo, por honra e recompensa, pareciam-lhe naturais, mas mais tarde começou a “compreender os perigos e limitações do pensamento hierárquico”. Blake foi o vencedor do concurso.

Louise Gluck conta depois como se aproximou da poesia de Emily Dickinson, que lia com mais paixão quando estava na adolescência, normalmente à noite, na cama ou no sofá da sala de estar.

“Dickinson tinha-me escolhido, ou reconhecido, enquanto eu estava ali sentada no sofá. Éramos uma elite, companheiras na invisibilidade, um facto conhecido apenas por nós, que cada uma corroborava à outra. No mundo, não éramos ninguém”, escreveu.

Mas o reconhecimento público é outra coisa, admite Louise Gluck, para depois confessar o seu medo quando soube que fora escolhida para receber o maior galardão das letras a nível mundial.

Segundo o jornal The Guardian, a editora de longa data de Louise Gluck, Carcanet, anunciou hoje também que a autora publicará no outono de 2021 uma nova coleção de poesia, a primeira em sete anos.

Inédita até agora em Portugal, a escritora vai começar a ser publicada pela Relógio d’Água.

Nascida em 1943, em Nova Iorque, fez a sua estreia literária em 1968, pouco depois dos 20 anos, com "Firstborn", o primeiro de doze livros de poesia, aos quais se juntam alguns ensaios.

De Louise Glück existe um poema traduzido para português, "O Poder de Circe", incluído na coletânea "Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o futuro", editado pela Assírio & Alvim (2001).

Atualmente a viver em Cambridge, Massachusetts (EUA), Louise Gluck é professora de língua inglesa na Universidade de Yale e soma vários prémios literários, entre os quais o Pulitzer, conquistado em 1993 com a obra "The Wild Iris".

Tem ainda publicados, entre outros, "The Garden" (1976), "Vita nova" (1999), "Averno" (2006) e "Faithful and Virtuous Night", a mais recente obra poética, de 2014 e que lhe valeu o prémio National Book Award, nos Estados Unidos.