A convite da Capivara Azul, uma associação cultural que nasceu em Guimarães há cerca de um ano, Sérgio Bastos e Pedro Augusto criaram, em residência artística, "Música Mágica", um som "algures entre a música sacra e a profana", que se vai expandir por aquela igreja, berço da cidade, no dia 29 de dezembro.

Em declarações à agência Lusa, um dos responsáveis pela Capivara Azul, Samuel Silva, explicou que o objetivo da encomenda é "o cruzamento de registos, de gerações e de formas de viver a cidade", sempre com a vivência do património como pedra de toque.

"Esta igreja é o centro de Guimarães, foi a partir daqui que a cidade cresceu, e este órgão é uma peça central desta igreja, [um órgão] do século XIX, mas que é desconhecido de muitos. Está de costas para quem entra na igreja. Queremos dar a conhecer este património", explicou o responsável.

Para a Capivara Azul, "Música Mágica" "é um projeto de património", mas vai mais além: "É também uma tentativa de cruzar as pessoas com uma linguagem contemporânea, mas sempre em relação com o território", disse à Lusa.

Com este projeto, a associação, que desenvolveu durante este ano um ciclo de música independente, o EGO, com 11 concertos de artistas de Portugal, Estados Unidos, Brasil, Itália e Espanha, além de um laboratório de experimentação artística, quer "cruzar gerações", e chamar a atenção de novos públicos para novos horizontes.

"Esperamos que venham as pessoas que habitualmente procuram música erudita, [a expressão do] órgão ibérico e música sacra. Este não é um concerto de música sacra, chama-se 'Música Mágica' por isto, porque está algures entre a música sacra e a profana. Mas que venha também um público mais jovem", disse Samuel Silva à agência Lusa.

Na praça da Oliveira, onde está imponentemente localizada a Igreja da Nossa Senhora de Oliveira, decorre um duelo quase silencioso entre o sagrado do templo e o profano dos bares, um longo frente a frente que não incomoda os músicos que estão a dar vida ao projeto. Faz parte do jogo que se desenrola num tabuleiro único.

O órgão ibérico está localizado no coro alto, mais junto ao céu da igreja. Quem entra não o vê. Só à saída do templo, e se olhar para cima. A enormidade do instrumento esconde-se na arquitetura, mas revela-se pelo som. "É único", garantem os músicos.

"É um mecanismo supercomplexo, com dimensões fora do normal e logo isso tem repercussões. É um objeto que, enquanto objeto, sofre a passagem do tempo, há coisas que se vão alterando e isso interfere com o que se pode ouvir", explica Pedro Augusto.

A obra que está a ser escrita, explicou Sérgio Bastos, divide-se em três atos: "O primeiro é a exploração do instrumento e da acústica da sala. O segundo é uma espécie de apresentação das personagens, com vários motivos musicais, e o terceiro ato é a obra em si", descreveu.

Para Pedro Augusto, "o terceiro ato é o mais musical e, por isso, pode ser produzido noutro órgão de tubos", mas não será a mesma música.

"Nem vale apena pensar que vai ser igual noutro sítio. [Um órgão] é um instrumento tão perecível, sujeito a tantas coisas, desde a temperatura da sala, aos materiais, que não vale apena pensar que se pode repetir noutro sítio", garantiu o músico.

Quanto a quem esperam sentir nas costas, durante a interpretação - o banco fica voltado para o altar -, os músicos não esperam grandes surpresas: "Vai haver lugar para tudo", disse à Lusa Sérgio Bastos.

Pedro Augusto dedica-se às artes sonoras, tendo criado o alter-ego Ghuna X e, mais recentemente, Live Low. Compõe para cinema e teatro e trabalhou como produtor musical e engenheiro de som em diversos discos de Capicua, Black Bombaim, Calhau e Killimanjaro. É formador, desde 2008, do Serviço Educativo da Casa da Música - Digitópia.

Sérgio Bastos tem formação superior em piano e colabora com projetos como Space Ensemble, Sonoscopia e com instituições como a Casa da Música e a Fundação Serralves, sendo pianista acompanhador e professor de piano na Academia de Música de Castelo de Paiva, depois de ter passado, entre outros, pelo Conservatório Calouste Goulbenkian de Braga, pelo Conservatório do Porto e pelo Conservatório da Maia.

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