Na 53.ª edição da ModaLisboa, a decorrer nas Antigas Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, na zona do Campo de Santa Clara, estão a ser apresentadas as coleções para a primavera/verão do próximo ano, mas Nuno Gama optou por não o fazer.
“Esta é apenas uma encenação de ‘O Principezinho’, a coleção vai ser lançada apenas em março”, explicou o criador de moda, em declarações à Lusa.
Para Nuno Gama esta forma é a que faz sentido numa altura em que “as pessoas não estão para estar à espera seis meses para adquirirem qualquer coisa, querem carregar com o dedo no telemóvel e aceder automaticamente às coisas”.
Por isso, a coleção para a primavera/verão do próximo ano será apresentada em março (altura em que se revelam as propostas para o inverno 2020/2021), “num ‘see now/buy now’ [veja agora/compre agora, em português]”.
Hoje, na encenação do clássico “O Principezinho”, do francês Antoine de Saint-Exupéry, publicado originalmente em 1943, e que foi “um dos primeiros livros” de Nuno Gama, foram mostradas “peças únicas, que não serão reproduzidas nunca em quantidade”.
Optar pela encenação de “O Principezinho”, em vez da habitual apresentação de uma coleção, “faz” para Nuno Gama, e “sobretudo neste momento”, também pelo planeta que imagina e deseja às gerações futuras.
“Acho que é uma responsabilidade minha fazê-lo e dizer ‘eu acho desta maneira’ e é um bocadinho com a esperança de que cada um encontre em si o que nos cativa, somos responsáveis por quê, que herança é que vamos deixar, de alguma forma”, defendeu.
O criador de moda sente-se “deveras preocupado” com a Terra e com “a indiferença e, de certa forma, ausência de responsabilidade que cada um tem”.
“Trazer esta história aqui desta maneira era exatamente isto: vamos pensar nisto e depois cada um decide o que quer fazer”, afirmou.
Com o livro “O Principezinho”, que o marcou de tal forma que a primeira imagem que tatuou no corpo foi a da personagem central da obra, Nuno Gama aprendeu “coisas novas, diferentes, palavras como cativação, responsabilidade, juntamente com algo que era de certa forma basilar em termos de família”.
“Era a história que dizia ‘faz, olha isto, não vejas o imediato, procura, descobre, vai descobrir formas diferentes de fazer a mesma coisa’”, partilhou.
A partir do livro, começou a criar “milhões de desenhos” dos quais fez uma seleção que compilou num “caderninho” distribuído durante a encenação.
Na passerelle que tem acolhido a maior dos desfiles, Nuno Gama criou vários quadros, que remetiam para momentos do livro, cada um dos quais ‘batizado’ com palavras como gula, imaginação, responsabilidade, poder, vaidade, avareza, cativação e vergonha.
A encenação, que incluía vários manequins vestidos à imagem e até parecidos fisicamente com a personagem Principezinho, foi musicada ao vivo por um grupo de músicos que incluía violinistas e um cantor.
A 53.ª edição da ModaLisboa prossegue até domingo. Hoje serão ainda apresentadas as coleções de, entre outros, Patrick de Pádua, Ricardo Preto, Luís Onofre, Ricardo Andrez e Dino Alves.
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