A série "House of Cards", vencedora de vários prémios nos Globos de Ouro e Emmys, que relata a ascensão ao poder de um político sem escrúpulos, de nome Frank Underwood, interpretado por Kevin Spacey, já tem um fim anunciado: 2018.
O anúncio de que a sexta temporada será também a última foi feito pela Netflix, a empresa norte-americana que oferece serviço de TV por Internet e que é também responsável pela produção da série, à Business Insider. E acontece no mesmo dia em que veio a público uma denúncia contra Kevin Spacey, protagonista da série a par de Robin Wright, que interpreta do papel de sua mulher, Claire Underwood, por assédio sexual.
Numa nota de imprensa, a Netflix e a Media Rights Capital, empresas responsáveis pela série, assumiram-se "profundamente perturbadas" com a notícia sobre Kevin Spacey", acrescentando na sequência do noticiado "executivos de ambas as companhias dirigiram-se a Baltimore esta tarde [segunda-feira] para se encontrar com o elenco e a equipa para ter certeza de que eles se sentem acompanhados e seguros". Mais informa a nota que, "como já estava programado", Kevin Spacey já não está a trabalhar no set, nas gravações para a sexta temporada".
Beau Willimon, criador da série, reagiu ao sucedido através da sua conta oficial de Twitter dizendo que a história contada por Anthony Rapp’s é “profundamente perturbadora”. O produtor confessa que durante o tempo que trabalhou com Kevin Spacey, em House of Cards, não testemunhou nem tomou conhecimento de qualquer “comportamento inapropriado” no set de gravações ou fora dele. “Dito isto, eu levo a sério testemunhos de tal comportamento, e este não é exceção. Lamento pelo sucedido com Mr. Rapp e apoio a sua coragem”, concluiu Willimon na nota publicada.
O ator norte-americano, através de uma nota divulgada nas suas redes sociais, pediu desculpas ao ator Anthony Rapp, autor da denúncia de assédio sexual que terá ocorrido numa festa em 1986, quando este último tinha 14 anos.
Spacey fez o anúncio na madrugada desta segunda-feira, dia 30, na sua conta no Twitter, depois das acusações feitas por Rapp ao Buzzfeed News.
"Se me comportei como (Anthony Rapp) descreve, eu devo-lhe as minhas mais sinceras desculpas"
Kevin Spacey, de 58 anos, vencedor, por duas vezes de um Óscar da academia, respondeu horas depois, dizendo-se "mais do que horrorizado" com o relato de Rapp e que não se recordava dos factos.
Mas, "se me comportei como (Anthony Rapp) descreve, eu devo-lhe as minhas mais sinceras desculpas pelo que teria sido uma atitude em estado de embriaguez das mais inapropriadas".
As acusações de Anthony Rapp "encorajaram-me a abordar outras questões sobre a minha vida", afirmou o ator, acrescentando: "eu sei que há histórias por aí sobre mim".
"Como todos os que me são mais próximos sabem, tive, na minha vida, relações com homens e mulheres. Gostei e tive encontros sentimentais com homens ao longo de toda minha vida e decidi hoje viver como homossexual”, acrescentou Kevin Spacey.
"Quero lidar com isso honesta e abertamente, e isso começa pela análise do meu próprio comportamento", completou.
Anthony Rapp, hoje com 46, contou ao Buzzfeed News que, em 1986, Kevin Spacey o convidou para uma festa no seu apartamento em Nova Iorque. Na época, os dois atuavam em peças na Broadway.
Segundo Rapp, ele estava no quarto de Kevin Spacey, então com 26 anos, a ver televisão, quando o ator apareceu à porta, no final da noite, "como que cambaleando" e aparentemente bêbado.
Kevin Spacey terá então empurrado o adolescente para a sua cama e esticou-se por cima dele, ainda segundo o relato de Anthony Rapp.
"Ele estava a tentar seduzir-me", disse Rapp ao Buzzfeed.
"Não sei se terei utilizado essa linguagem, mas eu estava consciente de que ele queria ir para o lado sexual", completou.
Anthony Rapp acrescenta que fugiu rapidamente e escondeu-se na casa de banho. Logo depois, deixou o apartamento e foi para casa.
Vivem-se tempos conturbados em Hollywood
As acusações de Rapp foram reveladas no meio de um grande escândalo que envolve Harvey Weinstein, um dos grandes produtores de Hollywood, acusado por mais de 50 mulheres de diversas agressões, ou de assédio, assim como por casos de violação.
Weinstein, de 65 anos, foi demitido pela sua própria produtora e está a ser investigado nos Estados Unidos e no Reino Unido. No entanto, o próprio nega qualquer relação sexual não consensual.
Rapp afirmou que decidiu revelar o caso para "tentar mudar décadas de comportamento permissivo, porque muitas pessoas, inclusive eu, permaneceram em silêncio".
"Sou muito consciente do momento que vivemos e espero que isto (as revelações) possam fazer a diferença", completou.
De acordo com Rapp, que morava com a mãe na época dos supostos acontecimentos, ninguém questionava a presença de um adolescente numa festa organizada por um ator "porque eram outros tempos".
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