O seu palco são as redes sociais. Já se definiu como “smart photographer”, mas agora prefere o termo “mobile photographer”. Gosta das limitações da tecnologia porque permitem-lhe ser mais criativo, “como no Twitter, onde só tem 140 carateres”. É fã de todos os formatos de fotografia, do o analógico ao digital e, na sua opinião, o mobile não “veio tirar lugar a nada, veio criar um espaço novo”, associado à sociedade online em que vivemos.

O primeiro desafio surgiu a convite da agência Mindshare Lisbon, e passava por fazer um projeto sobre uma marca de carros. Até aqui, nada de novo, não fosse o facto de a sua ferramenta de trabalho ser o telemóvel. Foi o clique: a partir daí nunca mais parou. Percebeu que conseguia aliar a imagem à escrita - uma paixão antiga - para comunicar de uma forma diferente.

Quando lhe perguntamos se já perdeu momentos por estar sem bateria no telemóvel, reconhece que sim. “Mas agora já tenho dois ou três [telemóveis], como quem tem duas ou três máquinas para coisas diferentes”, brinca.

A fotografia já o levou onde nunca antes tinha ido, como os Açores. Foi pela primeira vez ao arquipélago das nove ilhas este ano e, entretanto, já regressou mais duas vezes: a primeira para fazer a cobertura do Festival Tremor, depois para o Festival de Balões de Ar Quente e, recentemente, para fazer fotografias para um hotel.

A maior parte dos trabalhos que faz é em contexto de “social media”. O imediatismo e a facilidade com que se tira uma imagem ou se faz um vídeo com o telemóvel permite acompanhar em tempo real e partilhar “com uma qualidade que, há uns tempos atrás, não era possível”. As marcas estão cada vez mais recetivas a estes formatos, diz Nuno, e a prova disso são as suas colaborações com algumas.

Exemplos dessas colaborações é a campanha “on the road” para a Mazda Portugal, onde fez uma narrativa ilustrada, ao longo de 60 dias, de uma viagem pelo país ao volante de um Mazda CX-5. Outro dos projetos aconteceu no âmbito do regresso dos “X-Files”, tendo feito a pedido da Fox um pack de 30 imagens sob a premissa de que “eles”, os aliens, estavam a chegar a Lisboa. Vale a pena recordar também o regresso do “Star Wars” para a Sábado, onde colocou Darth Vader no Cais das Colunas, como se a Praça do Comércio fosse o Império, e um Stormtrooper a viver em Alfama. Para além das marcas, foi também o olhar digital de festivais de música, como o Tremor ou o Milhões de Festa.

Nuno já tem uma linguagem própria, ainda que não a saiba caracterizar. Percebe a sua identidade quando lhe perguntam: “És tu que estás a fazer o MOTELX? Eu vi logo que as fotos eram tuas.” No entanto, se estiver a trabalhar para uma marca tem de “fugir um bocadinho daquilo que sou e perceber o que é que é a marca”.

A resposta é rápida quando inquirido sobre o que é que gosta mais de fotografar: pessoas. “Não sei se é mais fácil, mas é o que me dá mais prazer”, confessa. É autor da página “Lisboa Menina ou Moça”, nome que associa à cidade de Lisboa, a sua “paixão mais duradoura”, e as mulheres que fazem trabalho criativo na capital, seja na arte, na cultura, na área de social media, tecnologia e comunicação. “O projeto começa por aí, por acreditar nelas, no trabalho delas”, conta. Por outro lado, as mulheres “têm muito mais disponibilidade natural”, refere. Os locais dos encontros – prefere este termo a sessões – são escolhidos pelas convidadas e o resultado é, ao mesmo tempo, uma forma das retratadas divulgarem os seus trabalhos e projetos.

“Em Portugal é muito fácil chegar às pessoas”, assume. Inês Meneses, Ana Bacalhau, Rita Redshoes ou Ana Markl são algumas das meninas e moças que aceitaram o seu convite.

Nuno gosta de fotografar Lisboa, “cidade de cantos e recantos”, que lhe permite jogar com a luz e com a sombra como nenhuma outra. Olhar para a cidade como se fosse um turista é uma das coisas que o seu trabalho lhe permite fazer. Gosta disso, tal como gosta de “ver os turistas deslumbrados” a olhar para os mesmos pormenores que o fascinam também. Na sua lente não há espaço para “lixo urbano”, o ruído da cidade, como um sinal de trânsito ou uma beata no chão. Isso incomoda-o porque desfigura a imagem que tem na cabeça. Dá mais valor ao belo, porque para o feio “já temos a realidade”.

A falta de tempo não lhe permite dedicar-se como antes ao Retratista 2.0, sendo que Nuno é ainda responsável pelo movimento fotográfico On The Wall. Aqui, desafiava os seguidores a partilhar fotografias com um mote, mas “o Instagram acabou por absorver muito daquilo que nós já fazíamos no Facebook”.

Não se considera um “Instagrammer”, apesar de ser a rede social que mais utiliza. Quem acompanha o seu trabalho sabe que a ferramenta que mais utiliza nesta plataforma é a dos “boomerangs”, mini-vídeos em loop. Quando questionado sobre a nova funcionalidade Instagram Stories, onde é possível desenhar sobre uma imagem efémera, responde que “é mais do que suficiente” para contar uma história. E Nuno já o fez, para contar em imagens a história dos pescadores da Caparica.

Também através do Stories, Nuno lançou um desafio à sua comunidade: “Onde está o 'emoji' na fotografia? Ao estilo de 'onde está o Wally’”, conta. O jogo tinha vários níveis, e houve quem lhe enviasse mensagens a dizer que “não conseguia descobrir onde estavam os emojis”. Um sucesso, portanto.

Mais recentemente, Nuno tomou conta das redes sociais do Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa, MOTELX. Mais tarde, a convite do Gerador e da Universidade NOVA de Lisboa, expôs 12 dípticos que ilustram 12 locais ao longo de 24 horas. O projeto denominava-se “Arquitetura Espaço-Tempo”.

Se hoje se dedica sobretudo à imagem, o facto é que o seu percurso começou na escrita de humor. Nuno estudou na Escola Superior de Educação, no Porto, mas nunca exerceu. A sua primeira incursão na escrita foi o blog “Bidé”, onde publicava crónicas humorísticas. Estávamos em 2003. “Éramos poucos e foi mesmo um dos blogs da primeira geração”, conta. Um dia alguém o desafiou: “porque é que não compilas isso tudo e fazes um livro?”. Nuno assim fez, dando origem a uma das primeiras obras da chamada “remessa dos blogs”.

Depois do livro surgiu um convite, de Fernando Alvim, para escrever para o “Boa Noite Alvim”. Seguiu-se Marco Horácio, com textos para o “Levanta-te e Ri”. “Sempre gostei muito de imagem, mas estava sempre agarrado à escrita”, conta Nuno. Depois disso nunca mais parou e foi argumentista e coordenador de conteúdos de inúmeros projectos televisivos.

Apesar de ter perdido o timing do Instagram, como o próprio confessa, as redes sociais sempre foram do seu interesse. Nuno é inclusivamente autor de um livro sobre o tema, chamado “Give ‘em Five”.

Da palavra à imagem, hoje em dia, assume, quase não consegue dissociar uma coisa da outra. Faz o que gosta, e é assim que imagina o seu futuro.